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Nyeme sobre alto nível em Paris-2024: ‘tive muita liberdade’

Em exclusiva ao OTD, Nyeme revelou acordo com José Roberto Guimarães sobre a recepção e contou porque desempenhou em alto nível em Paris-2024 na conquista da medalha de bronze da seleção brasileira

Nyeme Paris-2024 Brasil Vôlei Feminino
A líbero Nyeme foi uma das principais jogadoras do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 (Foto: FIVB/Divulgação)

Nyeme mostrou seu potencial e foi um dos principais nomes do Brasil na conquista da medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Mas o ciclo olímpico não foi nada fácil para ela, pelo contrário, sofreu muito com as críticas e a desconfiança de boa parte dos fãs de vôlei. Prova disso é que, no começo do ano da Olimpíada, ainda existia um clamor de torcedores para que Camila Brait, titular em Tóquio-2020, reconsiderasse a aposentadoria. Em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia (OTD), a líbero revelou acordo com José Roberto Guimarães e contou porque desempenhou em alto nível.

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“Sempre teve questionamento, só que, para mim, não mudava tanto porque eu sabia do meu potencial. As pessoas me crucificaram na internet e eu estava jogando bem. Eu pensava: ‘gente, por que o povo está fazendo isso se eu estou jogando bem, fazendo tudo que está sendo treinado e a gente está ganhando?’. Mas eu sempre tive comigo que eu não precisaria me importar com o que o povo falasse. Eu sei quem eu sou e onde poderia chegar. Então, o povo poderia falar muito isso, mas, dentro de mim, tinha paz, porque treinava para isso e eu que precisava ter confiança em mim”, afirmou Nyeme ao OTD.

“Eu tinha sempre essa confiança do Zé (técnico da seleção brasileira), do meu técnico Nicola (treinador do Minas), e das minhas companheiras, mais do que tudo. Elas olhavam e falavam: ‘eu sei que você vai, eu sei que você vai dar conta, eu sei que você é boa no que você faz’. Então, isso me dava muita confiança e paz para chegar lá e fazer tudo aquilo que eu sabia. Eu fiz lá o que tinha feito a Superliga, só que em outro nível. Eu estava tão plena que as meninas diziam que eu estava parecendo uma rocha, que nada me abalava. Mas aquilo tudo era normal para mim”, completou a defensora.

‘Ele quase me matou’

O primeiro trecho dessa entrevista já mostrou que Nyeme sempre esteve ciente de seu potencial. Em cada palavra, a líbero demonstrou a confiança em sua capacidade. Mas o que fez ela chegar em Paris-2024 tão segura de si? “Isso só aconteceu por tudo que eu vivi, por tudo que eu fui testada pelo Zé nesse ciclo. E ele quase me matou (risos). Ele me testou de todas as formas, mas, no final, ele falou: ‘eu sei que você dá conta, eu fiz isso porque era você’. Então, eu só precisei suportar, porque foi difícil, né? Não pelo povo de fora, mas, principalmente, pelo Zé. Ele, como ninguém, sabe extrair o melhor”, disse a líbero.

‘Tive muita liberdade para ser quem eu sou’

Nyeme Paris-2024
Nyeme conquistou a medalha de bronze com a seleção brasileira em Paris-2024 (FIVB/Divulgação)

Antes de Paris-2024, especialistas e torcedores diziam que, na briga pela titularidade, Nyeme defendia melhor e Natinha se sobressaia na recepção. Na Olimpíada, Nyeme foi a segunda melhor defensora da competição, com 132 defesas, sendo 87 delas consideradas perfeitas, e terminou como a melhor passadora com 90 recepções perfeitas e só cinco erros. No papo com o OTD, a defensora revelou que a atuação em excelência na recepção passou por uma espécie de acordo com Zé Roberto. E que, esse pacto com o treinador, fez ela ter ‘muita liberdade’ para tomar decisões.

“O sistema do Minas é muito diferente. O Nick (Nicola Negro) só quer que a gente passe lateral, fora do corpo. Na seleção, era só atrás do corpo. E isso era uma briga, tanto no Minas quanto na seleção. Porque tem hora que dá para passar lateral e tem hora que você quer passar atrás do corpo. Mas o Zé falava: ‘eu quero que você passe atrás do corpo’. Eu queria ter essa liberdade de, dependendo do saque, decidir o que fazer. Mas eles sempre queriam que eu fizesse só aquilo que eles queriam”, contou Nyeme. Em seguida, ela detalha o acordo com Zé Roberto.

“Cheguei na seleção e falei: ‘Zé, mas eu treino só assim, não é só porque eu quero. Já está inconsciente o meu movimento’. Até que ele chegou e falou para mim: ‘então está bom, se você passar 70%, pode passar do jeito que você quiser’. Esse ano (2024) ele não reclamou nada comigo. Então era o que eu queria fazer, sabe? Não era só, tem que ser assim. Dependendo do saque, eu vou de lateral ou atrás da bola. Então, eu tive muita liberdade para ser quem eu sou. E, dessa forma, fluiu melhor, pois eu fazia o que achava que tinha que ser feito e não aquilo que estava determinado”, revelou Nyeme.

Críticas por atuar como levantadora

O sistema do Minas não é diferente apenas na recepção. O técnico italiano Nicola Negro implementou no time minastenista um jeito de jogar em que a líbero atua como levantadora quando o passe saí atrás da linha dos três metros. A metodologia do treinador europeu é bem distinta do que aplicada pela maioria dos técnicos brasileiros, inclusive, Zé Roberto. Nesse cenário com estilos opostos, Nyeme também sofreu com as mudanças do que tinha que fazer no clube e na seleção. A atleta também foi bastante criticada por parcela da torcida que dizia: ‘ela se preocupa mais em levantar do que passa’. E como lidou com isso?

“Tudo era determinado, então o povo fala o que eles acham, né? E que bom que eu poderia ser uma levantadora, não são todas que podem ser. Então, eu levava isso como elogio. Teve uma fase na Olimpíada que eu fiquei em décima melhor levantadora. Quando me mostraram, eu falei: ‘gente, o que é isso? O que é que tá acontecendo aqui (risos)?’ Digo isso porque é uma coisa natural, eu não forçava. Lá no Minas, o Nicola falava, ‘no passe fora da linha dos três é a Nye vai’, porque eu já estava de frente”, comentou Nyeme.

A líbero deixou claro que não se incomodou com essas cobranças. “No Minas a gente fazia isso, então o povo não sabe o que acontece nos treinos, o que é determinado, porque cada técnico tem um sistema. Então, para mim, não mudava nada. Tanto que eu não parei de fazer, eu fazia era mais. O povo falava? Ok, então vou fazer mais”, completou a defensora. Nyeme concluiu sua participação nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 na 20ª posição no levantamento. Ela executou 64 levantamentos e cometeu somente dois erros.

Iniciativa de levantar incomodava Zé Roberto?

Nyeme deixou claro que no Minas era normal a líbero atuar como levantadora com determinado tipo de passe. Porém, na seleção brasileira a metodologia é diferente com Zé Roberto. Apesar disso, a atleta contou que o treinador não reclamou tanto com ela sobre isso. “Ele também não brigava, não. Só uma vez que a bola estava em cima de mim, eu fui e a Rô (Roberta) veio. Aí ele me cobrou: ‘o segundo toque é da Roberta’. Eu falei: ‘mas a bola está alta e ela não falou, então não vou deixar a bola cair’. Eu prefiro errar tentando do que deixar a bola cair”, destacou a defensora.

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“Se eu errar tentando, para mim não importa. Agora, o que eu odeio é olhar e não ir. É tanto que raramente a bola cai em mim, eu esperando a outra. Eu vou sempre errar pelo excesso. Agora, pela falta, nunca. Eu acho que nunca isso aconteceu, porque eu nunca transfiro a responsabilidade para a outra. Eu sempre quero fazer. Quando eu espero, as meninas falam: ‘não espera porque, se você esperar, a gente vai deixar, porque a gente sabe que você sempre vai’. E, quando eu não vou, a bola cai”, finalizou Nyeme com relação ao tema.

Experiência olímpica: ‘isso aqui é um sonho’

Nyeme Paris-2024
Nyeme terminou a Olimpíada como a segunda melhor defensora (FIVB/Divulgação)

Cinco meses após a conquista da medalha de bronze em Paris-2024, Nyeme foi estimulada pelo OTD a relembrar a experiência olímpica. No momento, a jogadora está ausente das quadras na fase final da gestação de Antonella, sua primeira filha. “Eu sempre escutava da minha empresária que a Olimpíada era uma coisa que não tinha explicação. E a gente acha que é mais um campeonato, né? Mas você não tem noção do que é até você chegar lá. Quando você chega na Vila, você fala: ‘meu Deus, isso aqui é um sonho’, declarou a líbero.

“Realmente, era tudo o que eu já tinha escutado. Você vê os maiores atletas lá, tanto de outros países quanto do Brasil, e pensa: ‘meu Deus, eu estou aqui, eu consegui’. Então, isso te dá um gás a mais, sabe? Cheguei aqui e preciso dar o meu melhor para sair daqui com uma medalha para concretizar tudo aquilo que a gente sofreu nos quatro anos”, acrescentou Nyeme. A atleta comentou que, antes de Paris-2024, pensava em ir para apenas uma Olimpíada e que depois teria seus filhos e não voltaria mais. Porém, o que viveu na primeira experiência mudou sua visão.

“Quando eu cheguei lá, eu falei: ‘gente, eu quero voltar aqui mais uma vez, porque é muito gostoso, é uma sensação única, é tudo diferente’. Não tem como eu explicar em palavras o tanto que é bom estar lá. É um ambiente tão gostoso, sabe? De paz, de realização, de você estar lá e falar: ‘eu lutei tanto para estar aqui, então o que eu posso fazer é só aproveitar porque o pior já passou’. Então, ali eu estava na melhor fase psicologicamente, fisicamente e taticamente. Eu só tinha que aproveitar e foi sensacional. Não existe outro campeonato mais importante e melhor do que a Olimpíada”, afirmou Nyeme.

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