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Santiago 2023

‘É Surreal! Não poderia imaginar que estaria aqui’, diz Ana Machado

Ana Machado, primeira medalhista em Pans no tiro com arco recurvo no individual feminino, afirma que ainda não conseguiu processar o tamanho do feito que alcançou em Santiago

Ana Machado Pan de Santiago 2023 vaga no tiro com arco em Paris 2024 pan ouro prata pan
(Raul Bravo/Santiago 2023)

Santiago – Quando encerrou a participação na fase de ranqueamento, a jovem Ana Clara Machado saiu feliz do campo do Centro de Tiro con Arco, montado no Eco Parque Peñalolen, em Santiago. Havia registrado o melhor desempenho dela em uma competição adulta. A princípio soa como um objetivo simples, despretensioso. Foi mais que isso. A partir dali a participação dela nos Jogos Pan-Americanos ganhou corpo, tanto no torneio individual, quanto por equipes mistas. Quatro dias depois, ela deixava a capital chilena com duas medalhas de prata históricas, o melhor desempenho dentre os arqueiros da delegação brasileira e tendo garantido uma vaga para o país no individual feminino dos Jogos Olímpicos.

“Nossa, (esses dias) estão sendo a realização de um sonho, né? Quando iria imaginar que estaria aqui com duas medalhas no peito?”. Foram duas de prata. Uma no torneio individual recurvo, a primeira de uma atleta brasileira na história da modalidade em Jogos Pan-Americanos. A outra foi equipes mistas, ao lado de Marcus D’Almeida, também inédita para o país no evento. “É surreal! A ficha vai caindo aos pouquinhos. Quando abri o telefone, vi o tanto de parabéns. Gente que eu não falo faz anos, que me acompanhou, viu o meu combate. Fiquei muito emocionada”, disse, logo após participar de duas das três cerimônias de premiação que fecharam a programação do tiro com arco. “Isso nos move pra próxima. A gente queria o ouro, então no próximo, se Deus quiser, vem o ouro.”

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(Alexandre Loureiro/COB)

Unstoppable

A vaga olímpica poderia vir de duas maneiras. Ou chegando nas semifinais do torneio individual, objetivo que ela atingiu, ou sendo campeã nas duplas mistas. Talvez por jogar ao lado de Maquinhos, atual líder do ranking mundial, campeão da Copa do Mundo e medalhista de bronze no último Mundial, ela mesma esperava que seria por ali o caminho mais curto para carimbar o passaporte. “Pensei que fosse ser mais possível nas duplas mistas do que na individual.” Vale dizer que a vaga não é do atleta, e sim do país. No masculino é a mesma coisa e o Brasil também já tem vaga confirmada. Consequentemente, os dois que forem, estarão no torneio olímpico de duplas mistas do tiro com arco em Paris.

Ana Machado Pan de Santiago 2023 vaga no tiro com arco em Paris 2024 pan ouro prata pan Marcus D'Almeida
Ana e Marquinhos (Alexandre Loureiro/COB)

Número dois do mundo

O ranqueamento é a primeira fase do torneio de tiro com arco. Define, de acordo com o desempenho de cada arqueiro, o chaveamento da fase seguinte, já eliminatória em combates diretos de um contra um. Ana Machado, número 132ª do ranking mundial, foi a sexta melhor. Dali em diante, exceto pela primeira rodada, foi derrubando favoritas até chegar na final. Na primeira eliminatória despachou por 6 a 0 a canadense Amelia Gagne, que não aparece entre as 500 melhores do mundo. A seguir, fez um duelo verde e amarelo contra Sarah Nikitin, número 84, e venceu por 6 a 4. Nas quartas de final, valendo vaga em Paris, pegou a mexicana Angela Ruiz, 32ª da lista, e aplicou outro 6 a 4.

Ana Machado Pan de Santiago 2023 vaga no tiro com arco em Paris 2024 pan ouro prata pan
(Alexandre Loureiro/COB)

A semifinal, já no domingo (5), foi um desafio e tanto. Ana Machado teve pela frente a estadunidense Casey Kaufhold, número dois do ranking e vice-campeã mundial em 2021 com apenas 17 anos. A brasileira venceu e, ali mesmo, entrou para a história com a prata e a primeira medalha feminina em um torneio individual. “Foi emocionante. Na verdade, não acreditei. Eu jurava que ia para a shoot-off (quando cada atleta atira mais uma vez para desempatar um combate). Estava lá, esperando para tirar mais uma flecha. Daí o árbitro falou que tinha ganhado. Falei: ‘caraca’!. Não acreditei, fiquei muito feliz. Só que não podia também ficar muito eufórica, porque tinha mais uma, né? Então sentei um pouquinho para acalmar os ânimos. Depois voltei a treinar para a próxima disputa.”

Ana Machado Pan de Santiago 2023 vaga no tiro com arco em Paris 2024 pan ouro prata pan Alejandra Valencia Casey Kaufhold
Ana, Machado, Alejandra Valencia e Casey Kaufhold (Raul Bravo/Santiago 2023)

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Entre as gigantes

A disputa seguinte seria tão dura quanto, ou mais. Teria pela frente a mexicana Alejandra Valencia, 29 anos, campeã em Lima 2019, recordista do pan e quarta do ranking mundial. “Não atirei tão bem quanto nas semifinais. Tive um probleminha com a minha dedeira, que é um equipamento que a gente coloca no dedo. Mas gostei do meu desempenho, foi muito bom. Ela atirou muito, é uma excelente atleta É uma honra dividir o pódio com as duas”, afirmou Ana Machado. E ali encerrava a temporada com duas medalhas de prata do pan no peito. “Foi muito boa, assim. Comecei atirando mais ou menos, principalmente em questão mental Não tava confiante. Minha confiança foi crescendo conforme foram passando os meses. E acho que no início do ano eu não poderia imaginar que eu estaria aqui”.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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