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Nascido na guerra, armênio foi para a Olimpíada pelo Brasil

Eduard Soghomonyan saiu da Armênia, entrou para o “bando de loucos” e chegou na Olimpíada

Eduard Soghomonyan greeco romana Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 categoria até130kg
Eduard Soghomonyan está garantido nos Jogos Olímpicos de Tóquio (Divulgação CBW)

Atravessar continentes, viajar 11.598 km e encontrar o sonho da vida. Assim foi com Eduard Soghomonyan. Armênio de nascimento, o atleta de wrestling conheceu o Brasil em 2011, se apaixonou, passou a representar o país nos tatames pelo mundo e chegou em duas edições em Jogos Olímpicos. 

Eduard Soghomonyan nasceu em Yerevan, capital da Armênia, em 1990. Na época, o país passava por um momento difícil. O Estado europeu ainda se encontrava dentro da União Soviética e lutava para ter a sua soberania reconhecida, o que só veio a acontecer em 1991. 

“Eu via pessoas na minha rua que tinham participado da guerra. Isso, de conviver com guerra, me deixou mais forte. Esse espírito guerreiro eu levo comigo para sempre”. 

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Na vida de Eduard Soghomonyan o esporte sempre esteve presente. Apaixonado por futebol, o atleta teve influência familiar em sua caminhada. “A maioria dos campeões olímpicos da Armênia vieram da luta. Lá tem muita a influência da família, os pais, tios, avôs, todos praticaram alguma coisa nesse sentido. Comigo foi meu tio”. 

Representando a Armênia 

Com o apoio da família e gostando de lugar, Eduard Soghomonyan conseguiu evoluir no esporte e chegou a representar a Armênia em competições de wrestling. Depois de começar a treinar cedo, com cerca de sete anos, o atleta seguiu na luta e conseguiu um grande resultado em um Mundial júnior de 2010. 

“Eu estava no exército na época e não fui liberado para treinar. Quando saí, duas semanas depois fui para o mundial, consegui vencer algumas lutas, superei o campeão europeu no segundo duelo que fiz na competição, mas na disputa do bronze eu acabei perdendo e fui quinto”. 

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Apesar do bom desempenho, Eduard Soghomonyan sofreu um pouco com as lesões. Depois deste mundial, o atleta sofreu mais uma, teve que passar por uma cirurgia, se afastou por um longo período dos tatames e acabou ganhando peso. 

“Eu lutava na categoria até 96 kg e voltei da lesão com 110 kg. Apesar do peso, eu conseguia lutar, mas meu técnico falou que eu precisava recuperar a forma para seguir lutando. Acabei desmotivando um pouco com isso”. 

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Sem conseguir competir, Eduard Soghomonyan acabou perdendo o apoio financeiro que tinha e, para conseguir viver, teve que trabalhar. Sendo pedreiro na parte da manhã e segurança à noite, Eduard conseguiu se manter, mas ainda sentia falta das lutas. 

Cascão e bando de loucos

A relação com o Brasil vem de muitos anos. Quando tinha 12 anos, Eduard Soghomonyan deu o “primeiro passo” rumo ao Brasil. Na Copa do Mundo de 2002, enquanto o Brasil vencia os adversários com gols de Ronaldo, Rivaldo e companhia, Eduard decidiu fazer uma pequena loucura. 

Com o irmão cabeleireiro, o atleta pediu para que fosse feito o corte de cabelo de Ronaldo, que ficou conhecido como “cascão” pelo público brasileiro. Apesar de nunca ter conhecido o ídolo do futebol brasileiro, Eduard Soghomonyan não esconde que sempre teve o atacante como suas referências. “Eu amo futebol e adoro o Ronaldo. Fiz o corte de cabelo em 2002 e amo o futebol brasileiro”. 

O primeiro contato físico com o país aconteceu alguns anos mais tarde. No fim da década passada, a equipe brasileira de wrestling esteve na Armênia para a disputa de uma competição e Eduard Soghomonyan foi quem recebeu os lutadores no país. 

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No período, o lutador armênio conheceu Ricardo Mikaelian e a amizade foi instantânea. Além da amizade, Eduard Soghomonyan recebeu do amigo brasileiro um presente e um pedido. “Já gostava de futebol, o Ricardo me apresentou o Corinthians, me deu uma camisa do time e me pediu para ir visitar o Brasil”. 

Venda do carro pelo Brasil

A equipe brasileira voltou para o país e a relação entre Eduard Soghomonyan e Ricardo seguiu. Mesmo longe, os dois seguiram se falando e o convite para a visita foi refeito várias vezes. Na época que não conseguia viver só como atleta, ele foi aceito. 

Na período em que estava trabalhando, Eduard Soghomonyan acabou perdendo o emprego de segurança após uma confusão e se viu em um momento de escolha. “No dia que eu perdi o emprego de segurança, o Ricardo acabou me ligando, a gente conversou, ele me chamou para vir pelo menos conhecer o Brasil. Lembro que perguntei quanto era a passagem, vendi o meu carro e vim”. 

Eduard nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (Flávio Florido/Exemplus/COB)

No Brasil, a identificação foi imediata. Apesar de todas as questões, Eduard Soghomonyan sabia que queria ficar. Em pouco tempo conseguiu começar a disputar competições pelo Brasil e buscou a naturalização.

“Consegui o RG e um passaporte esportivo. Com isso eu podia disputar algumas competições pelo Brasil, cheguei a ser campeão sul-americano, mas não a Olimpíada. A naturalização aconteceu pouco tempo antes do pré-olímpico de 2016, foi uma correria, mas deu”.

Vaga na Olimpíada

Com a naturalização, Eduard Soghomonyan pode buscar uma das vagas para os Jogos Olímpicos, mas foi por pouco. “Eu disputava as competições, lutei o Pan-Americano, em que eu fiquei com a prata, mas não sabia que estava com zika vírus. Com isso não consegui lutar o pré-olímpico. O Antonie Jaoude conseguiu a vaga na categoria e depois eu fui para a Olimpíada”.

Na Rio-2016, Eduard não teve um bom desempenho. Acabou derrotado na luta de estreia e não conseguiu mostrar nos tatames o que vinha apresentando nas competições anteriores.

Após a Rio-2016, Eduard Soghomonyan foi morar em Los Angeles. Conheceu a mulher, casou, teve um filho, mas as lesões o acompanharam. Diferente do ciclo olímpico para os Jogos do Rio de Janeiro, em que o medo era não conseguir a naturalização, neste o lutador teve outro problema.

Por conta dos problemas físicos, Eduard ficou praticamente dois anos sem conseguir competir. Por conta disso, a presença nos Jogos Olímpicos de Tóquio era colocada como dúvida. Contudo, na seletiva pré-olímpica, ele voltou a ficar entre os melhores de sua categoria e carimbou o passaporte para Tóquio.

“As pessoas falavam que a vaga era impossível, que ela não viria. Eu só mentalizava que conseguiria. ‘Eu vou pegar essa vaga’, essa era a frase que eu sempre falava para mim, que eu precisava dar orgulho para o meu filho. E deu certo”

Confira como foi a entrevista de Eduard Soghomonyan

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