Aline Silva é o principal nome do wrestling do Brasil e quer usar sua representatividade na modalidade para tocar em assuntos que discorda, principalmente no que se refere ao tratamento diferente entre homens e mulheres. Vice-campeã Mundial em 2014 , a lutadora mostrou indignação com o machismo inserido no esporte e com regras que considera injustas.
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“Eu poderia trocar várias regras e começaria pelas categorias de peso. O peso máximo para mulheres é 76 kg e para homens 130 kg. Isso é um absurdo e a prova máxima do machismo. Uma mulher alta e com 90 kg está excluída do esporte”, disse a lutadora.
“O que mais me revolta é escutar no meio do wrestling que ‘mulher gorda lutando de malha ia ficar feio’. Não estou no esporte para ser e nem parecer bonita. A mulher não está ali para entreter”, afirmou Aline Silva em live veiculada no Instagram do Olimpíada Todo Dia.
Discordância com tratamentos distintos
Aline Silva é dona de três medalhas em Jogos Pan-Americanos, sendo duas de prata, em Guadalajara-2011 e Lima-2019, e uma de bronze, em Toronto-2015. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que mudou de 2020 para 2021, o wrestling terá três categorias olímpicas: Estilo Livre feminino, Estilo Livre masculino e Estilo Greco-Romano, sendo essa última só para homens.
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A lutadora já está com a vaga garantida na competição e também não concorda do wrestling ter uma categoria olímpica que não inclui as mulheres. “O fato da categoria Greco-Romana ser só para homens é outra prova de machismo. Ou eles incluem as mulheres ou que tirem do quadro olímpico”, apontou.
“Fico indignada porque no mundo do wrestling escuto brincadeiras de gente dizendo que se mulher lutasse na Greco-Romana ficaria estérea e com os peitos arrebentados. Existem pessoas que estão tão dentro da bolha que não conseguem observar o absurdo dessas falas”, ressaltou Aline Silva.
Representatividade das mulheres no esporte
Em novembro de 2019, Aline Silva representou o Brasil fora dos tapetes em evento promovido pela UWW (Federação Mundial de Wrestling), entidade reguladora da modalidade. Principal liderança feminina do país, a lutadora integrou o grupo de mulheres que participou do Segundo Fórum Global Mulheres no Wrestling, em Istambul, na Turquia.
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“O Fórum foi uma exigência do COI (Comitê Olímpico Internacional) e, por isso, a Federação se viu obrigado a investir esse dinheiro fazendo algo. A intenção foi boa, mas não vi uma discussão mais profunda. Fui esperando por isso, mas faltou olhar para o problema. Como vamos resolver se só tem homem branco que toma decisão? Falta representatividade. Sozinha não vou conseguir mudar as coisas no wrestling”, enfatizou.
Preconceito com a luta
Aline Silva é formada em educação física e também é esteticista. Inquieta, a lutadora criou um projeto social chamado “mempodera” com o intuito de desenvolver ambientes seguros para as meninas praticarem esportes. A atleta acredita no poder transformador do esporte porque é prova disso. Além disso, quando iniciou na modalidade sofreu preconceito e machismo na própria família.
“No meu projeto acontece com frequência de alguns pais pensarem em tirar suas filhas porque acham que luta não é para menina. Cheguei a ter que ir até a casa delas para convencê-los e só consegui por causa do inglês, já que para fazer o curso de idiomas tem que fazer luta também”, contou.
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“No começo, minha mãe e família não gostavam também. Eles achavam que luta não era para mulher. Diziam que eu ia virar mulher-macho. Isso só mudou depois que viram a transformação que o esporte fez na minha vida. Não quero ser julgada pela minha aparência. Não quero pertencer a nenhuma caixinha. Eu quero ser única”, concluiu Aline Silva.