Se em quadra são apenas dois atletas de cada lado da rede, na rotina diária, equipes numerosas trabalham pela evolução das duplas de vôlei de praia. E isso foi muito bem representado pelos CTs Leblon e Cangaço, responsáveis, respectivamente, pelos títulos de Fernanda Berti/Bárbara Seixas (RJ) e Ricardo/Álvaro Filho (BA/PB) da temporada 18/19 do Circuito Brasileiro Open, confirmados no último final de semana.
O suporte para Fernanda e Bárbara Seixas conquistarem o primeiro título brasileiro juntas conta com Rico de Freitas como técnico e outros 11 profissionais (veja lista abaixo), em rotina árdua de trabalho nas areias da Praia do Leblon. O treinador comentou a conquista do tour nacional, resultado de uma intensa preparação visando, na verdade, o Circuito Mundial, onde serão decididas as vagas aos Jogos Olímpicos.
“Nosso objetivo certamente era a corrida olímpica, vamos começar com uma certa desvantagem, pois acabamos bem prejudicados com a etapa de Fort Lauderdale (EUA). Fomos campeões em 2018, defenderíamos os pontos, mas com o cancelamento, tivemos essa pontuação perdida. Como diz o ditado ‘miramos no que vimos, e acertamos no que não vimos’. Não era nosso objetivo sermos campeões brasileiros, mas acho que nosso trabalho e sacrifício foi coroado no final. Fomos o time mais regular, fizemos três finais e vencemos duas, tivemos ainda dois bronzes e um quarto lugar. Só não fomos para uma semifinal. E é isso que busco para nossa corrida olímpica. O que classifica não é um título e um nono lugar, os altos e baixos que acontecem. O que carimba o passaporte é a regularidade”, disse Rico.
Em João Pessoa (PB), na Praia de Cabo Branco, o trabalho do CT Cangaço foi um fator primordial na conquista de Ricardo e Álvaro. Aos 44 anos, o campeão olímpico bateu um recorde de atleta mais experiente a vencer o tour. Nos últimos três anos são dois títulos de temporada (Álvaro/Saymon e Ricardo/Álvaro) e um vice (Vitor Felipe/Guto). Ernesto Vogado, treinador do CT, comentou o excelente clima de trabalho.
“Esse bom ambiente no CT Cangaço já vem de muitos anos. Tivemos nesta etapa o Gilmário Cajá (técnico de Ricardo e Emanuel no ouro olímpico de 2004) e o Rossini Freire (preparador físico na conquista) sentando no banco de reserva deles, foi onde tudo começou, conhecem Ricardo e Álvaro desde garotos. Só demos continuidade no trabalho. Muitos grandes atletas passam por aqui e gostam, ficam. Trabalhamos com um grupo grande. Sempre tratamos cada um de uma forma específica, mas todos juntos, com um sentimento de equipe, de união”, disse Ernesto, que também lembrou a importância do trabalho de base e renovação.
“Aqui existe muito essa mistura de campeões com juventude. Uma nova geração está crescendo aqui, George, os irmãos Rafael e Renato, agora André Stein treinando aqui, Vitor Felipe, muitos nomes que passam por aqui. E vários dos nossos profissionais estão se aperfeiçoando, recentemente tivemos um curso de nível 2 para treinadores e Rico, Maxksuel e Ricardo Hugo concretizaram. Nós acreditamos muito na evolução do conjunto de todos do CT, tanto comissão, quanto atletas”, destacou.
Fernanda e Bárbara tiveram uma campanha marcada pela regularidade. Nas sete etapas disputadas elas conquistaram ouro em Vila Velha (ES) e João Pessoa (PB), prata na etapa de Campo Grande (MS) e bronze em Palmas (TO) e Natal (RN). Só ficaram fora da semifinal em São Luís (MA). Regularidade destacada por Rico de Freitas, que também elogiou suas atletas.
“E isso é o que me deixou mais feliz nessa conquista, isso que busco para minha equipe. Chegamos para a nossa primeira etapa do Circuito Mundial na nossa melhor forma, estamos satisfeitos por estar tudo dentro do cronograma, independente de termos sido campeões. Vamos buscar manter essa regularidade, estou feliz, especialmente pela Fernanda, evoluiu absurdamente. Primeira conquista dela, orgulhoso do trabalho e sacrifício que ela fez. E muito orgulhoso da Bárbara também, uma jogadora como poucas, tem o espírito que você precisa ter. Meu pai dizia que quando você busca um objetivo tão nobre quanto Jogos Olímpicos, não basta ter treinamento, é necessário um espírito. Sempre vi isso nela. Estou muito orgulhoso delas pelo momento que estamos”, declarou o técnico.
Ernesto Vogado, que também conta com o apoio de mais nove profissionais na comissão técnica do CT Cangaço, detalhou o processo de formação – pela segunda vez – da dupla Ricardo/Álvaro. O paraibano celebrou o comprometimento dos atletas e o fim das lesões de Alvinho. A dupla somou na temporada dois ouros, em São Luís (MA) e Natal (RN), uma prata em Fortaleza (CE) e bronze em Vila Velha (ES).
“Nós quisemos agregar a experiência que Ricardo tem, um dos maiores campeões do vôlei de praia, batendo recordes, com o Álvaro, que em 2018 sofreu com muitas lesões. Ele queria, mas o corpo estava cansado e não respondia. E esse ano deu tudo certo, Álvaro recuperou a forma, se livrou das dores, Ricardo veio muito motivado, eles já tinham dito uma parceria de muito sucesso em 2013. Essa sinergia deu muito certo, Ricardo vinham semanas antes para treinar aqui em João Pessoa (PB), fez também um trabalho excepcional nos EUA, onde está morando. Somando isso e o foco de ambos, conseguimos essa conquista”.
Rico também comentou a importância de comissões técnicas multidisciplinares para projetos de longo prazo e reforçando o peso das diversas áreas no sucesso de um trabalho.
“O vôlei de praia já há alguns anos evoluiu neste ponto de profissionalização. Comecei a ser técnico em 2008, e aprendi muito com a escola da quadra. Além do meu pai (Bebeto de Freitas), os primeiros trabalhos que tive na praia como assistente foram com o Alemão (que vinha da quadra), com Nery (Tambeiro, técnico do Fiat Minas). Apesar de minha equipe, atualmente, ter 11 profissionais, em 2008, quando comecei a treinar a Bárbara, já tinha um assistente, um preparador físico e um fisioterapeuta”, disse Rico, que completou.
“Claro que as coisas foram se aperfeiçoando, a cobrança em cima desses profissionais aumentou muito, pela importância deles dentro do projeto. Eu não abro mão, de forma alguma, de nenhum dos profissionais que estão conosco. Não me vejo sem ter eles ao lado, pois acredito muito no trabalho de médio e longo prazo. Observo muito dentro do esporte, resultados sendo esperados em curto prazo de tempo. Pode acontecer. Mas acredito que não são duradouros, pois não prepara uma base. E essa metodologia que liga todas as áreas disciplinares, que integra tudo dentro de uma equipe, é fundamental para o sucesso de um trabalho. E o nosso está totalmente dentro disso”.
Os próximos compromissos dos dois CTs serão no Circuito Mundial, na etapa quatro estrelas de Xiamen, na China, de 24 a 28 de abril. No Circuito Mundial, os eventos são definidos pelo número de estrelas, indo de um até cinco. Na corrida olímpica do Brasil, apenas os eventos de quatro e cinco estrelas, além do Campeonato Mundial, são contabilizados, cada um com peso correspondente. Além disso, os times terão uma média dos 10 melhores resultados, podendo descartar as piores participações.
CT LEBLON
Técnico: Ricardo de Freitas
Assistente Técnico: Ricardo Seixas
Auxiliar Técnico: André Perlingeiro
Preparador Físico: Guilherme Braga
Apoio Técnico: Jaílson Santos
Gerente de Equipe: Lívia Lockermann
Psicóloga: Maíra Ruas
Fisioterapeuta: Rafael Bordallo
Médico ortomolecular: Rodrigo Schroder
Nutróloga: Flávia Teixeira
Fisioterapia respiratória: Leonardo Alves
Cardiologista: Dra Renata Castro
CT CANGAÇO
Técnico: Ernesto Vogado
Preparador físico: Riceler Waske
Técnico auxiliar: Ricardo Hugo
Técnico auxiliar: Ricardo César
Auxiliares: Gustavo Pontes, Samuel Santos, Jaime Oliveira, Maxksuel Santos, Erivelto Souza
e Jhon Wenderson
Inspiradores e mestres: Guilmario Ricarte (Cajá) e Rossini Freitas