A frase que serve de título desta reportagem saiu da boca do experiente Ricardo, 44 anos, campeão olímpico ao lado de Emanuel em Atenas 2004, para explicar a decisão de abrir mão da dupla que tinha com Álvaro Filho, líder do circuito brasileiro de vôlei de praia, para o parceiro se juntar a Alison na corrida pela classificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio.
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“Chega um momento em que você não pensa só por si, pensa pelo projeto, pelo esporte, por como os atletas podem representar da melhor forma o voleibol de praia brasileiro. E eu vejo que o Álvaro está no momento dele e o Alison está em ascensão também, é um excelente jogador e continua no mesmo nível em que estava nos Jogos Olímpicos (de 2016, quando foi campeão olímpico ao lado de Bruno Schmidt). Eu não abri mão da dupla. Eu acredito que eu preparei ele ou ajudei a preparar para que ele seja campeão olímpico com o Alison”, explicou Ricardo, com a autoridade de quem, além do ouro em Atenas, ganhou a prata em Sydney e o bronze em Pequim.
Enquanto Ricardo dava suas explicações, Álvaro Filho estava ao lado do campeão olímpico, quase que olhando admirado para o ídolo de sua juventude e sem saber exatamente o que dizer a respeito daquilo que acabara de escutar. “É bonito! Mostra realmente a grandeza do cara, né? Não só dentro do esporte, mas a grandeza do espírito mesmo. Só acho bonito escutar isso”, se limitou a dizer o jogador, que vai estrear ao lado de Alison na etapa de Xiamen, do Circuito Mundial, no final de abril.
A decisão de abrir espaço para que Alison e Álvaro Filho joguem juntos tem a ver com a idade de Ricardo, que tem hoje 44 anos, e também com o atual ranking da dupla. Juntos, eles têm que passar pelo country quota e pelo qualifying para disputar as etapas do circuito mundial, dificuldade que a nova parceria não vai ter.
“Eu acho que o Álvaro está preparado para isso. Ele vai formar uma grande equipe com o Alison e eu confio muito. Acho que se eu não confiasse nessa equipe, eu teria feito alguma coisa para tentar nós dois, mas aí eu estaria sendo egoísta ao barrar o crescimento dele. Acho que ele vai estar num novo momento e num momento bom. Vou torcer por ele e ele sabe que, no que eu puder ajudar, eu vou estar ajudando”, garantiu Ricardo.
“Eu não tenho palavras para dizer o que Ricardo representa para a minha carreira. Eu acho que, desde que eu era sub-19 ou sub-17, ele abriu as portas para mim lá no centro de treinamento de João Pessoa, junto com toda a equipe dele. É gratidão o que eu tenho que dizer sobre Ricardo. Do atleta, não tem nem o que falar, mas o ser humano também. O coração é maior do que os 2m dele”, agradeceu Álvaro Filho.
Mas o fim da parceria com Álvaro Filho, que ainda não se sabe se continua até a etapa de João Pessoa, a última do Circuito Brasileiro de vôlei de praia, do qual eles são líderes, não vai acabar com a carreira de Ricardo. O veterano mostrou excelente forma durante a etapa de Natal e promete seguir no esporte. “Pretendo ainda jogar. Eu ainda sinto prazer de estar dentro da quadra e o corpo ainda permite. Se o corpo não tivesse permitindo, não seria inteligente eu estar forçando. Ainda pretendo jogar com meu filho, que é uma coisa que eu sempre falei e daqui a pouco vai chegar este momento”, garantiu.