A paixão pelo vôlei foi herança de família. Ágatha tinha pai e tia que praticavam o esporte. Logo ela se envolveu também. Mas o sonho era jogar na quadra e seguir os passos de suas inspirações como Ana Moser, Ana Paula, Virna, Fernanda Venturini e companhia. Mas foi na praia, por influência da amiga Shirley, que ela se profissionalizou. Mas demorou a estourar. O sucesso só bateu às portas da jogadora quando ela tinha 30 anos. Não faltou vontade, dedicação, perseverança e fé para que não desistisse no meio do caminho e colhesse frutos como o título mundial de 2015, a medalha de prata na Olimpíada de 2016 e a conquista do Circuito Mundial em 2018. Uma vez entre as melhores do planeta, atleta de 35 anos, nascida em Paranaguá, litoral do Paraná, ela quer se manter e, quem sabe, subir mais um degrau no pódio de Tóquio 2020. “Tipo um ourinho? Só um ourinho?”, brinca antes de cair na gargalhada, bem a seu estilo.
Ágatha brinca porque sabe muito bem o que passou até chegar ao topo do mundo. “A vida do atleta não é fácil. É vitória e derrota o tempo todo e você conseguir ter esse equilíbrio emocional, equilíbrio mental para seguir em frente e continuar firme, forte e persistente não é fácil”, reconhece a jogadora, que é admirada por toda a família exatamente por essa persistência.
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O pai Alfredo Berdnaczuk chega a se emocionar: “É uma raça, uma perseverança, uma vontade de ganhar, de vencer, de perseverar naquilo que realmente ela gostava. O sentimento da gente é de orgulho e de ter visto que tudo isso é fruto exatamente daquilo que ela passou, de perseverar. Eu vejo ela como uma atleta que muitos atletas que estão começando hoje tem que olhar para ela”. A mãe Maria Berdnaczuk se impressiona com o espírito da filha de nunca desistir. “A Ágatha é positiva. Eu me espelho muito nela. Ela pensa, ela acredita e acredita tanto que faz acontecer. Ela joga para o universo e aquilo atrai e as coisas vão vindo, vão chegando. Quando você pensa que a coisa está caindo, de repente vem um negócio e levanta. A pessoa que está do lado dela não fica parada, não fica triste. Ela muda a personalidade de quem está com ela”.
Já Renan Rippel não é só marido de Ágatha. Ele é também o preparador físico da jogadora e se impressiona com outra característica da esposa. “A Ágatha para mim é uma referência de atleta. É incrível a força mental dela. Realmente para buscar um ciclo olímpico, você tem que ter um nível de abdicação e poder mental muito grande, senão, nos momentos difíceis ali, fica muito fácil de desistir, de fraquejar”.
Desistir e fraquejar são palavras que, no entanto, não fazem parte do vocabulário de Ágatha. Mas foi justamente a partir da relação com Renan que a carreira dela deu um salto. “Eu poderia dizer que o Renan me centrou na vida. Eu comecei a preparação física com ele. A gente começou antes como namorados para depois vir a trabalhar juntos”, revela Ágatha.
“Comecei a viver o namoro com ela e a perceber como ela treinava, qual era a metodologia que se usava e convivendo o dia a dia com o esquema da comida. E questionava algumas coisas: ‘Você não acha que você come muito?’ Foi aos poucos, com ela buscando e entendendo, a metodologia de trabalho dela foi mudando”, explica o marido, que começou a trabalhar em 2010 como preparador físico da então namorada, com quem se casou em 2013. Ágatha mudou seus hábitos, emagreceu, ficou mais forte e os resultados, consequentemente, melhoraram. “Ele me deu assim um norte porque ele me trouxe essa calma, às vezes, foco”.
A explosão na carreira de Ágatha veio a partir da parceria com Bárbara Seixas. Juntas, elas foram campeãs do circuito brasileiro nas temporadas 2012/2013 e 2013/2014. Mas foi em 2015 que elas colocaram o planeta a seus pés. Foram campeãs mundiais, com direito a Ágatha ser eleita MVP, e também conquistaram o título de campeãs do circuito mundial. Em 2016, a prata nos Jogos do Rio foi o último capítulo da vencedora parceria.
“Tudo o que a gente viveu para conquistar a medalha foi muito incrível. Acho que a parceria com a Bárbara foi incrível. Por mais que ela tenha terminado logo depois da Olimpíada, acho que tudo o que a gente viveu até aquele momento foi uma parceria muito legal mesmo, muito sólida”, analisa Ágatha, que, como ela mesmo gosta de dizer, não olha para o que passou. Ela prefere seguir em frente e buscar novos objetivos.
Depois de jogar os últimos meses de 2016 com Carol Solberg, Ágatha começou em 2017 a parceria com Duda Lisboa, a maior revelação dos últimos anos do vôlei de praia brasileiro. “O meu objetivo principal neste ciclo é Tóquio com certeza. Quando a gente firmou essa parceria, eu e a Duda, o objetivo sempre foi, a gente sempre conversou sobre Tóquio”, conta a experiente jogadora.
Foi a junção de uma medalhista olímpica com uma garota três vezes campeã mundial nas categorias de base do vôlei de praia e medalha de ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude em 2014. “Hoje eu estou jogando com uma parceirinha tão novinha. Nossa diferença são 15 anos. Para mim, ela é um diamante bruto maravilhoso, mas eu tenho que estar ali com ela porque a parte mental, muitas vezes, ela depende de mim. Eu meio que sou atleta, muitas vezes técnica também, fora de quadra uma irmãzona. Então, essa relação nossa é bem legal”, revela Ágatha.
Juntas, elas foram campeãs do Circuito Mundial em 2018 e levaram também o título do World Tour Finals. Fora isso, Duda foi eleita a melhor jogadora do mundo do ano passado. O sucesso, no entanto, não tira os pés de Ágatha do chão. Obstinada, ela sabe muito bem o que quer e as dificuldades que terá pela frente para conseguir. “Eu sei que a nossa caminhada foi muito importante até agora, mas a gente tem um grande desafio pela frente, que vai ser esse ano de 2019, que é conquistar essa vaga para Tóquio”.