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Minha Medalha

Brasil: 15 anos no topo do Mundo

13 de outubro de 2002. Argentina. Buenos Aires. Ginásio Luna Park. Final do Campeonato Mundial de Vôlei Masculino. Brasil x Rússia. A equipe brasileira chegava à final de um Mundial pela segunda vez na sua história. A primeira tinha sido 20 anos antes, contra a União Soviética, no mesmo local. Em 1982, os soviéticos foram melhores e venceram os brasileiros por 3 sets a 0. Duas décadas depois, tendo como técnico Bernardinho, um remanescente da primeira decisão, o país finalmente chegou ao topo do mundo.

Uma seleção formada por Maurício, Ricardinho, Giovane, Dante, Giba, Nalbert, Gustavo, Rodrigão, Henrique, André Nascimento, Anderson e Serginho; comandada por Bernardinho a equipe partiu para a Argentina em busca do primeiro título mundial de vôlei para o Brasil. “A história daquele Campeonato Mundial de 2002 começou bem antes daquela final, começou na final da Liga Mundial no Mineirinho”, comentou Nalbert capitão daquela seleção. A seleção tinha voltado a conquistar a Liga Mundial em 2001 e conseguiu trazer as finais da edição de 2002 para o Brasil. A decisão daquele ano foi contra a Rússia, em um Mineirinho lotado e os europeus conseguiram a vitória por 3 a 1.

Memórias dos Campeões
BernardinhoAndersonAndré NascimentoRodrigãoHenriqueGustavoGiovaneRicardinhoNalbertMaurícioGiba

Aquela derrota no Mineirinho gerou uma grande frustração, e ao mesmo tempo me fez ver claramente que o que havíamos feito no ano anterior, ao vencermos a Liga Mundial, não seria suficiente para nos dar o título mundial. Precisávamos, criar, inovar e a alternância de jogadores durante o Mundial talvez tenha significado esse algo mais que precisávamos.

Na preparação tivemos vários problemas físicos com atletas importantes, e perdemos um jogo de preparação contra a França no ginásio do Tijuca, o que me deixou ainda mais preocupado pois, teríamos que enfrentar os franceses em algum momento no Mundial.

A força do grupo era o grande diferencial sem dúvida. A grande disputa por uma vaga no time, fazia com que o grupo e as individualidades evoluíssem sempre. Jogadores de características e capacidades diversas, complementares, um grupo brilhante. Cada um se preparava para qualquer mínima oportunidade que surgisse.
Na primeira fase ganhamos duas partidas, mas fomos derrotados pelos EUA, no tie break, com o desfalque do Nalbert, titular e capitão da equipe. Lembro-me que na coletiva de imprensa após a partida, o capitão americano, fez um comentário negativo sobre a nossa equipe, dizendo que aquela vitória mostrava ao mundo quem eram os verdadeiros favoritos ao título, e certamente esse time não era o Brasil. Não retruquei, apenas disse que ao final do campeonato faríamos a verdadeira avaliação.

A sequência de quartas-de-final contra a Itália, semifinal contra a então Servia e Montenegro, e a final contra a Rússia, enfrentamos e batemos três grandes favoritos ao título, uma serie histórica!
Um título muito especial, o primeiro título mundial, 20 anos após a derrota para a União Soviética, no mesmo ginásio, o Luna Park, e o Brasil chegava ao topo do mundo batendo a Rússia, herdeira dos soviéticos.

Aquele grupo foi certamente o mais talentoso, e soube unir esse enorme talento a vontade de se preparar, se dedicando a cada sessão de treinos com uma intensidade impressionante. Treinos se tornavam batalhas, com jogadores se desafiando, com uma causa comum: bater qualquer adversário que se colocasse em nosso caminho.

A derrota dentro de casa contra os russos na liga mundial em Belo Horizonte mexeu comigo. Nos apresentamos no Rio de Janeiro para a preparação do mundial, onde eu pensei preciso fazer algo diferente pois existia a dúvida se a equipe já estava no limite com a conquista da liga mundial de 2001 e segundo lugar em 2002. Então algumas coisas começaram a mudar, até aquele momento eu não era tão usado na seleção, eu mais compunha o time do que jogava. Foi nesse mundial que tudo mudou, vieram as inversões. Mesmo o começo tendo tropeços, seguimos até a final, onde aquele momento foi magico.

Lembro muito das quartas-de-final, contra a Itália, e da semifinal contra a antiga Sérvia e Montenegro. O jogo não estava bom para nós e foram feitas a inversão com a minha entrada e a doo Ricardinho e a história foi mudada. Naqueles dois jogos, e na competição como um todo, mostramos a força de todo um grupo, que não éramos somente sete titulares, mas 12 jogadores preparados para jogar, cada um com sua missão dentro do grupo, sabendo que poderia ajudar a qualquer momento para a conquista do objetivo.

Naquele grupo todos eram importantes, sem exceção, todos tinham seu destaque, ajudavam mais em algum jogo e menos em outros, todos sabiam que podiam jogar e colocar o Brasil em uma melhor situação.

Lembro daquele Mundial, uma competição longa, difícil, mas que a nossa preparação foi essencial para a conquista do resultado. Fui o maior pontuador, mas a nossa equipe era repleta de talento, em todas as posições, com todos os 12 que estavam lá prontos para jogar e ajudar.

A primeira coisa que eu lembro daquele Campeonato Mundial de 2002 é que eu quase não fui. Depois da convocação, cortes e período de treinos no Rio de Janeiro nós ganhamos uma folga antes da viagem, eu fui para São Paulo ver minha família e deixei meu passaporte no Rio de Janeiro, contudo mudaram o lugar de saída do voo para a capital paulista e eu tive que correr atrás do meu passaporte, foi uma confusão, eu só consegui embarcar um dia depois do grupo, mas cheguei para a competição.

Acredito que quando você entra em um campeonato com Venezuela, Egito e Estado Unidos no grupo, em que se classifica dois, você sabe que vai passar. Óbvio que não queríamos perder para os americanos, mas sabíamos que aquela derrota, principalmente como foi, não colocaria em risco nossa classificação. Na segunda fase não podíamos errar, penso que o brasileiro de uma forma geral, quando se vê pressionado dessa maneira costuma corresponder e foi o que aconteceu com aquela equipe, não erramos mais e conseguimos o título.

Uma das coisas que eu me lembro muito é da experiência do Giovane e do Maurício fora das quadras, eles estavam em 92-93, conquistaram o título olímpico e o da liga mundial e com isso eles ajudavam, com conversas, motivando, cada um do seu jeito, para que todos quisessem chegar aonde eles já tinham chegado, mas acima disso, que todos mantivessem o Brasil como time campeão por muitos anos, como aconteceu.

Lembro que depois da derrota para os Estados Unidos, da forma como foi o jogo, como tudo aconteceu, estávamos no vestiário o Bernardinho chegou, reuniu todo mundo, comentou sobre o jogo, o que ele achava que tina acontecido e deixou claro para todos nós que para alcançar o objetivo, a partir daquele momento nós teríamos que jogar, brigar e ganhar das melhores seleções do mundo, independente de quem viesse pela frente nós iríamos ter que ganhar.

Aquele grupo tinha uma característica que o Bernardinho conseguiu colocar em nós e levamos conosco por muito tempo, a vontade de se preparar para os jogos e competições era maior do que a vontade de vencer e isso fazia aquela seleção jogar daquela maneira.

A diferença entre as seleções daquele mundial era muito pequena, nós tínhamos um comprometimento com a causa, comprometimento com o dia a dia, com os treinamentos e uma qualidade muito grande em todas as posições e fundamentos, seja saque, bloqueio, defesa, ataque, um conjunto que pensava em prol do mesmo objetivo.

Foi uma competição que nós jogamos com raiva, perder aquela final para a Rússia em casa nos deixou com esse sentimento. Os três jogos da fase de playoffs nos deixaram cada vez mais motivados, quartas-de-final contra a Itália, a toda poderosa, tricampeã do Mundo, vencemos por 3 a 2 e nos enchemos de moral. Semifinal contra a Sérvia, ganhamos por 3 a 1, mas todos as parciais foram com vantagem bem pequena. A decisão contra os russos, entramos na quadra com bastante raiva, vontade de devolver a derrota da Liga Mundial e conseguimos.

Foi um campeonato diferente, eu era muito mais reserva do que titular, tive que me reinventar, ser importante em outros aspectos, mas nem por isso me senti menos importante, em alguns momentos me sentia ainda mais importante por essa função.

Aquele grupo merecia uma conquista grande, tínhamos vencido a Liga Mundial em 2001, mas faltava do tamanho de um Mundial ou Olimpíada. Na Argentina o lado bom foi que a cada jogo os jogadores apareciam, hora o Giba, hora o Dante, o Nalbert, os centrais, eu.

O que mais me marcou na competição foi a sequência dos três jogos no mata mata, pegando Itália, Sérvia e Montenegro e Rússia, com jogos muito difíceis que foram dando corpo para a equipe. E na final foi ter feito aquele ace, no último ponto do campeonato, ter entrado e encaixado aquele saque para dar o título para o Brasil, foi maravilhoso.

Lembro de reuniões organizadas pelo Giovane, em que ele e o Maurício colocavam a experiências deles, já de campeões olímpicos, para aconselhar a maioria, seja em uma conversa, um conselho, lembro que brincávamos que ele era o filósofo, em alguns momentos tinha a brincadeira que fingíamos estar dormindo na reunião para ver a reação dele, mas sem sombra de dúvida aquilo, por mais discreto que possa ter sido, foi muito importante para o resultado final.

Tenho guardado na memória a semifinal, primeiro porque eu quase não fui para o jogo, porque no dia anterior eu travei a coluna de uma tal maneira que se não fosse o Fiapo (Fisioterapeuta da seleção) passar o dia todo comigo e colocar na minha cabeça que eu conseguiria jogar, provavelmente, eu não estaria na quadra. Na partida aconteceu tudo aquilo, eu esperava ficar no banco, o jogo não estava bom para a gente e eu entrei com o Anderson, na troca do 5/1 e se não fosse ele também acertar as bolas, enfrentando os bloqueios, virando os ataques a história poderia ser outra.

A gente tinha certeza que tinha time para brigar pelo título, confiávamos muito no trabalho, nos treinamentos, no grupo como um todo, uma seleção onde absolutamente todos os jogadores eram importantes, eram 12 jogadores que poderiam ser titulares a qualquer momento para ajudar o Brasil, os seis que saiam jogando eram os titulares para aquele jogo em questão, esse poder do grupo como um todo era o diferencial.

Aquela competição tinha quatro seleções consideradas favoritas ao título, o Brasil, a Itália, a Sérvia e Montenegro e a Rússia. A seleção brasileira enfrentou a Itália nas quartas-de-final, em um 3 a 2 que foi digno de final. Na semifinal jogamos contra a Sérvia, um jogo muito pesado e disputado, que foi 3 a 1, com o último ponto sendo meu e eu sai correndo virando o “Forrest Gump Brasileiro.

Na decisão era a Rússia, ou seja, nós jogamos contra todos os favoritos. Lembro que no jogo, a entrada do Ricardinho e do Anderson foi muito importante para nós, entrando no lugar do melhor levantador e maior pontuador do campeonato que foram Maurício e André Nascimento e o ponto do título foi do Giovane, que praticamente não tinha jogado, ou seja, isso prova que aquele Brasil era um grupo completo.

Aquele grupo era completo, todos se ajudavam, todos sabiam que podiam estar como titular, todos se cobravam pela busca dos resultados, todos tinham o mesmo objetivo.

Foi meu último Campeonato Mundial , mas fui eleito o melhor levantador da competição, lembro muito da semifinal e da decisão, pela forma que foi. Jogamos contra a Sérvia, em um jogo muito tenso, com um 3 a 1 que engana, porque foi extremamente disputado até o final. Na decisão foi a Rússia, daquele jeito que todo mundo sabe, uma decisão que foi 3 a 2, com o Giovane acertando aquele saque na linha para dar o título para a seleção.

O vôlei me deu tudo que eu tenho, me deu a chance de conhecer o mundo, vencer os três títulos mundiais.

Aquele grupo estava preparado para isso, merecia o título, era completo.

Algumas semanas depois dessa derrota, a seleção brasileira desembarcava na Argentina para disputa do Campeonato Mundial de Vôlei, sabendo que podia brigar com todas as seleções e chegar nas fases finais. Iniciou a disputa em um grupo com Egito, Estados Unidos e Venezuela. Com duas vitórias e uma derrota, avançou para a segunda fase e todos os jogadores sabiam que a fase de erros já tinha acabado. Na segunda fase, três jogos, três vitórias, todas por 3 sets a 0, contra França, República Tcheca e Holanda e a vaga garantida para as quartas-de-final.

No chaveamento do mata-mata do Mundial, o Brasil caiu do lado mais forte e as “finais” começaram logo no primeiro jogo. Do outro lado da quadra, a Itália, “todo poderosa e tricampeã do mundo”, lembra Gustavo. Uma partida extremamente difícil, complicada e alongada ao máximo. Melhor para o lado verde e amarelo, que fechou por 3 sets a 2 e se encheu de moral para a próxima finalíssima. “Na semifinal, a adversária foi a Sérvia. Para alguns jogadores, foi um dos jogos mais enganosos do campeonato. Quem vê o resultado, 3 sets a 1, não tem ideia do quão difícil foi o confronto”, comentou Maurício. Melhor para o Brasil, que se tornou finalista da competição pela segunda vez na história.

Curiosidades

No último jogo, uma revanche: a Rússia e seus gigantes. “Estávamos com raiva pelo que tinha acontecido no Mineirinho, sabíamos que eles tinham jogado bem daquela vez, mas também sabíamos que tínhamos jogado abaixo naquela final”, disse Gustavo. Uma decisão digna de Campeonato Mundial, ninguém querendo perder, com quatro dos cinco sets decididos pela vantagem mínima. No tie break, a seleção brasileira conseguiu abrir algumas vezes a vantagem necessária para vencer, mas os russos recuperavam, até o placar marcar 11 a 10 para o lado verde e amarelo.

Os Melhores

Nesse momento, o técnico Bernardinho chamou a inversão do 5/1, trocou o levantador Ricardinho por Maurício e o oposto Anderson pelo experiente ponteiro Giovane. O atacante entrou e fez dois pontos na saída de rede, colocou 14 a 13 no placar e foi para o saque. Um, dois, três. Um, dois, três. Um, dois, três; era assim que o atacante brasileiro contava as batidas da bola no chão aguardando a autorização do juiz. Ela veio, ele respirou, colocou a bola para alto, sacou. A bola viajou em direção à paralela, foram só alguns segundos de viagem que, no fundo, pareceram anos, décadas, duas décadas, 20 anos para tirar o grito de campeão mundial da garganta brasileira. A bola tocou o chão e o Brasil chegou ao topo, ao Topo do Mundo pela primeira vez.

Jogo a Jogo
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brafra
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brarus
A Final
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