Uma das imagens mais marcantes da vitoriosa campanha no Grand Prix 2017 – entre tantas – mostra Tandara, com lágrimas nos olhos e voz embargada, falando de superação. Na entrevista após a vitória sobre a Sérvia e a consequente classificação da Seleção Brasileira para a final, a oposta se emocionou ao comentar a recuperação do time na competição e seu papel na árdua tarefa de substituir um ídolo como Sheilla. Entre críticas antes do título na China e elogios pós-conquista, ela avisa: “Sempre aprendi muito com ela, mas não sou a nova Sheilla. Sou a nova Tandara”.
Por nova Tandara entenda-se uma atleta mais experiente, forte e confiante, mas em constante evolução. “Acredito que o amadurecimento vem de acordo com o tempo. São 8 anos defendendo a Seleção Brasileira adulta, sendo 7 anos de aprendizado. Chegou a hora de colocar em prática tudo que assimilei nesse processo em prol do vôlei. Foi o que procurei fazer no Grand Prix, assumindo a posição de oposta. Como já disse, aprendi muito, mas muito mesmo com a Sheilla, por exemplo, como suportar e reagir em momentos difíceis, como me portar diante da comissão técnica e companheiras, além da parte técnica do jogo. E vou seguir assim, procurando sempre a excelência, buscando evolução em todos os fundamentos e atribuições que me forem dadas”, afirmou.
Passada a emoção pelo título do Grand Prix, a atacante volta a vestir a camisa do Brasil ainda mais consciente de seu papel como uma das líderes da nova geração que inicia o ciclo olímpico até Tóquio-2020. O próximo desafio é o Campeonato Sul-Americano, de 15 e 19 de agosto, em Cali, na Colômbia. O campeão da competição garante vaga no Mundial de 2018, que será no Japão. A estreia da Seleção Brasileira será na terça-feira (15.08) contra a Argentina, às 15h (Horário de Brasília).
Bola de segurança – A palavra que mais define Tandara após a medalha de ouro no Grand Prix é segurança. É pela potência de seu braço direito que passam as bolas mais complicadas da Seleção Brasileira. Isso significa que é dela a responsabilidade de virar o ataque quando a recepção não sai tão eficiente e a levantadora teve que se virar para armar o ataque. Os números comprovam a evolução da atacante na fase final. Na China, a oposta foi a segunda atacante mais eficiente (51,55% de aproveitamento), mas colocou mais bolas no chão que a chinesa Zhu (83 contra 81), primeira colocada no fundamento. No total de pontos, a brasileira também foi top 2, com 89 pontos contra 100 da sérvia Boskovic.
Consciente da evolução dentro do Grand Prix e sem receio de assumir posição, Tandara confirma que esperava, sim, um reconhecimento individual ao final da competição. “Mais de um analista considerou que eu deveria ter sido escolhida como MVP (melhor jogadora). E ali, no pódio, eu meio que esperava receber alguma premiação. Digo isso, quero deixar bem claro, sem desmerecer a Natália, que é uma grande atleta”, disse ela, que completa. “Seguirei trabalhando e esperando esse reconhecimento. Enquanto ele não vem, vou me cobrar cada vez mais em busca da excelência em quadra”.
Maternidade – Tandara é a única mãe entre as atletas da atual Seleção Brasileira. Para ela, depois da gravidez e com a chegada da filha, Maria Clara, seu amadurecimento pessoal e profissional deu um salto. “Hoje visto a camisa do Brasil como titular e tenho certeza que o processo da maternidade fez de mim uma pessoa melhor e uma atleta melhor. Procuro transformar todas as experiências em motivo de crescimento, mas, preciso confessar, não é fácil ficar longe da Maria Clara quando estamos competindo. Mas faço isso e prol de um futuro melhor para todos nós e pela Seleção, a qual tenho muito orgulho em defender”, complementa.
Versatilidade – Com o uniforme do Brasil, Tandara faz a função de oposta. No Vôlei Nestlé, porém, disputou a temporada passada como ponteira. Seja concentrada apenas em atacar, como na Seleção, seja encarando também a responsabilidade do passe, a atacante tem se destacado. Na última Superliga, foi a Atleta mais premiada – maior pontuadora, melhor saque e craque da galera – e somou com 363 pontos marcados. “A temporada passada foi incrível, superamos vários limites do time e a desconfiança das pessoas. Muita gente criticava e não acreditava. E mesmo com as dificuldades, vencemos o Campeonato Paulista e chegamos à final da Superliga. Com isso, as expectativas são as melhores possíveis para este novo período. Acredito que podemos ir mais longe”.
Nova temporada – Em busca do sexto título estadual consecutivo, o Vôlei Nestlé estreia no Campeonato Paulista da Divisão Especial contra o Hinode Barueri, dia 18 de agosto, às 19h30, no ginásio José Correa, na casa do adversário. Para se manter entre os principais times do país, contratou a levantadora Fabíola, a ponteira Mari Paraíba, a central Ju Mello e a oposta Lorenne. Além do quarteto, o clube de Osasco renovou os contratos das centrais Bia e Nati Martins, das ponteiras Tandara e Bruna Neri, da oposta Paula Borgo, das levantadoras Carol Albuquerque e Zeni e da líbero Tássia. Com Luizomar Moura acumulando as funções de técnico do Vôlei Nestlé e da seleção peruana, juntamente com o assistente técnico Jefferson Arosti, o time de Osasco será comandado pelo auxiliar Spencer Lee neste início de Estadual.
Temporada de bons resultados – O time de Osasco manteve-se entre as maiores forças do Brasil na temporada 2016/17. No período, o técnico Luizomar e suas comandadas foram campeões paulistas, semifinalistas da Copa do Brasil 2017 e vice-campeões da Superliga 2016/17. No Mundial de Clubes, a equipe terminou em sexto lugar.