Ao fim da participação do Brasil na Olimpíada do Rio de Janeiro, Sheilla e Fabiana anunciaram a aposentadoria da Seleção. Bicampeã olímpica como as companheiras, Thaisa não seguiu o mesmo caminho, mas disse que pesaria alguns fatores, pessoais e profissionais, antes de tomar a decisão definitiva. Dez meses depois, a central, que se recupera de uma cirurgia no joelho, prometeu que não vai mais jogar no sacrifício e que só volta à Seleção Brasileira se estiver 100%. “”Esse ano já não teria mesmo como estar em algum lugar por causa da cirurgia. São seis meses de recuperação. Uma fase bem longa e complicada. Quando eu retornar, voltar a pegar ritmo, mas não estiver 100%, prefiro não estar em lugar algum”.
Em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia, Thaisa, que completou 30 anos no último mês de maio, contou que não quer passar mais pelo que ela viveu depois das cirurgias nos dois joelhos que fez um ano antes dos Jogos do Rio de Janeiro. “Em 2015, após a cirurgia, não conseguia treinar. Só jogava. Porque se eu treinasse, não conseguiria jogar. A cirurgia era muito recente, e o joelho inchava e sentia dor. E o fato de estar só jogando me atrapalhou bastante. Tudo o que eu tinha de retomar – movimentação, bloqueio, tempo de bola – foi jogando. Quando cheguei na Seleção, em 2016, tinha que treinar e correr atrás do tempo perdido. Estava tentando de todas as formas voltar ao meu melhor e, muitas vezes, pedia ajuda na Seleção. Pelo fato de não ter treinado, precisava de auxílio, principalmente, no bloqueio. Esse é um fundamento que você tem que treinar, é tempo de bola, entrada de mão. Foi um ano muito difícil para mim, especialmente, no Grand Prix. Foi um momento que precisei de muita ajuda e não foi bem isso que aconteceu. Fui muito criticada, tive situações muito complicadas e difíceis na seleção. E não sei se quero passar por isso novamente. Se eu não estiver 100% não quero nem pensar em estar na seleção. E se eu estiver 100% sei que posso superar as dificuldades e ultrapassar meus limites, mas sem estar 100% é diferente. Preciso de ajuda, de força, de treino e compreensão em alguns momentos. Uma coisa que talvez eu não tenha tido. Seleção é algo que tenho que ver mais na frente, e ainda não sei responder”, confessou Thaisa.
Mesmo longe das quadras, Thaisa acompanhou a campanha da Seleção Brasileira no título de Montreux e vê essa renovação do time brasileiro como necessária. “Acho que é extremamente necessário. A seleção precisa de renovação. Disputar a Superliga é muito diferente de jogar fora do país e de jogar na Seleção Brasileira, principalmente. Nada vem na teoria. Não adianta ser uma excelente jogadora no treino. A excelência só vai acontecer jogando, tomando pancada, perdendo, ganhando, passando por dificuldades. Renovar é ótimo e a Seleção precisa disso. Desejo muito boa sorte para que elas treinem, joguem, mostrem o seu melhor e cada vez evoluam mais e ganhem mais experiência. Isso será muito importante para o Brasil”.
Por falar em jogar fora do país, Thaisa teve sua primeira experiência em um clube do exterior na última temporada. Logo depois da Olimpíada, a central assinou com o Eczacibasi Vitra, da Turquia, clube pelo qual foi campeã mundial logo de cara. Para a brasileira, apesar do final fora do planejado por causa das lesões, toda a equipe foi muito receptiva. “A temporada foi ótima e uma experiência incrível. Tirando a parte da lesão, tudo correu maravilhosamente bem. Me acolheram, ajudaram, fizeram todo o possível para me sentir em casa. Me senti muito bem com as meninas, com a comissão técnica e com a direção do time. E o tempo em que pude jogar, fui muito bem”.
A primeira lesão foi no joelho, mas o departamento médico do Eczacibasi Vitra optou por não submeter Thaisa a uma cirurgia e a jogadora acabou disputando uma série de partidas no sacrifício. “A princípio, não sabia que precisava de cirurgia. Por isso fui forçando. Fui saber só quando a lesão já tinha se agravado bastante e já não tinha mais o que fazer. Tentei tomar os remédios e fazer o tratamento para tentar ver se conseguia jogar um pouco mais. Só que a situação já estava bem crítica e acredito que não seria possível mesmo. Após a cirurgia, o médico me disse que o joelho estava muito pior do que a ressonância havia mostrado. A lesão da cartilagem, que seria cerca de 1cm e pouco, na verdade estava com mais de 2cm. Foi necessário fazer um transplante de cartilagem. O menisco estava muito ruim, chegou a retrair e já não havia mais proteção ao joelho. Independentemente da lesão no pé, não sei se conseguiria jogar muito mais do que aquele jogo porque estava com muitas dores.”
Thaisa se refere ao jogo contra o Fenerbahce pela Champions League em que ela torceu o pé de uma maneira em que o osso do tornozelo se deslocou. A imagem foi chocante e assustadora. Ela gritava de dor, enquanto algumas jogadoras dos dois times chegaram a chorar. Apesar do susto, a lesão foi menos grave do que parecia, mas a central considera que serviu como um aviso para o que poderia vir pela frente. “O que aconteceu com o meu pé foi Deus dizendo: filha, para agora porque a situação está feia. E a torção do pé não foi nada muito grave, mas freou a situação. Caso contrário eu forçaria ainda mais o joelho e o quadro seria ainda pior, o que poderia atrapalhar muito a minha carreira.”
Olhando para o futuro, para a próxima temporada, a jogadora mostra otimismo, espera que a recuperação termine logo e que ela consiga voltar a jogar em alto nível em seu clube. “Vou lutar, brigar e trabalhar muito duro para voltar ao meu melhor, como sempre fiz. Sem parar, sem preguiça e só pensar no futuro. Quero voltar logo, ficar forte o máximo possível para voltar no meu melhor. Sei que será um caminho longo, difícil, porque vou ter que treinar muito. Mas disposição e vontade não me faltam. Voltando, retorno ao meu clube, na Turquia, e tentarei o meu melhor lá também. Ajudar no máximo que puder e bola pra frente. Torcer para que dê tudo certo e a recuperação seja boa”, finalizou Thaisa.