A vela é o esporte mais dourado da história olímpica do Brasil. A modalidade já rendeu oito ouros em Jogos Olímpicos para o país, além de três pratas e oito bronzes. Este número pode aumentar ainda mais em Paris 2024, com a inclusão da nova classe do windsurf, a iQFoil. Isto porque o brasileiro Mateus Isaac é o terceiro colocado do ranking mundial da categoria e está focado na preparação para chegar com condições de pódio na capital francesa.
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“Eu tenho treinado bastante, tenho feito tudo que é possível. Meu sonho é estar bem preparado para estar brigando por uma medalha em Paris”, disse Mateus Isaac, em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia. “Hoje estou bem satisfeito com a minha performance. Sinto que estou evoluindo junto com a flotilha e isso me deixa feliz”, comentou.
O sonho que não era sonho
Hoje um dos grandes nomes da vela mundial, Mateus começou a praticar a modalidade cedo, por influência do pai, que era velejador. Durante sua infância, o garoto alternou suas experiências no barco com o futebol, até que decidiu focar exclusivamente na vela, por onde constrói uma carreira vitoriosa. Atualmente com 28 anos, ele foi duas vezes campeão mundial júnior e já conquistou o título sul-americano adulto cinco vezes.
Apesar disso, Mateus Isaac não nutria o sonho de disputar a Olimpíada, já que não se sentia à vontade com o material usado nos Jogos. Isto mudou quando conheceu o iQFoil, classe que é uma evolução da RS:X, integrante do programa olímpico desde Atenas-2004. O brasileiro foi um dos primeiros no mundo a entrar na nova categoria, que mais tarde viria a fazer parte dos Jogos Olímpicos de 2024.
“Sempre acompanhei muito a vela e a Olimpíada no geral, mas eu nunca tive um sonho de ir para os Jogos. Tem gente que nasce e começa a fazer o esporte porque quer ir para as Olimpíadas. E eu não fui assim, porque o equipamento que era olímpico não me agradava e eu não tinha o biotipo certo para ele. Mas quando a iQFoil virou olímpica, tudo mudou. Hoje em dia, eu acordo e durmo pensando na Olimpíada”, confessou.
Árdua missão
Para chegar em Paris 2024, Mateus Isaac terá um longo caminho para percorrer. Apenas 24 atletas farão parte da estreia do iQFoil nos Jogos. E o brasileiro já sabe o que precisa fazer para conseguir uma das vagas: ficar entre os 11 primeiros colocados do Mundial de 2023 ou ser o melhor atleta pan-americano de uma competição a ser definida. Se não conseguir tudo isto, ele ainda terá uma última oportunidade na Repescagem Mundial, a ocorrer em 2024, que classificará cinco atletas para os Jogos.
Cabe destacar que a vaga olímpica da vela não é nominal. Ou seja, pertence ao país. Isso significa dizer que, mesmo tendo conquistado a cota olímpica, Mateus Isaac precisará ser escolhido pela Confederação Brasileira de Vela (CBVela) para utilizá-la em Paris 2024.
Novo formato
Inovadora pelos espetáculos aéreos, a iQFoil também apresenta uma mudança em relação ao formato da competição. As regatas regulares seguem o padrão de pontuação da vela, mas há uma inovação para a regata final, que é disputada em formato de “mata-mata”.
Ao fim das regatas regulares, os dez primeiros colocados avançam à última regata, que começa no embate das quartas até chegar na final. O 1º da classificação após as regatas regulares vai direto à final, enquanto o 2º e o 3º se garantem nas semifinais. Os atletas da 4ª até a 10ª colocação disputam as quartas de final.
Nas quartas, os dois primeiros colocados avançam à semifinal. A semi, então, é composta pelos dois pré-classificados (2º e 3º) e pelos dois das quartas de final. Nesta bateria, os dois melhores se garantem na final, juntando-se ao líder da flotilha, também já pré-classificado.
Isso significa dizer que os dez atletas lutam por medalhas na regata final. Basicamente, os resultados das regatas regulares são “zerados” e para a definição dos medalhistas é levado em conta apenas a final.
Avaliação de Mateus
Esse formato dá lugar à tradicional medal race, que também conta com a participação dos dez primeiros colocados, mas é disputada como uma corrida final, tendo pontuação dobrada. Em boa parte das vezes, o campeão já é conhecido antes da medal race e ela torna-se apenas uma “coroação”. O estilo implementado na iQFoil garante mais emoção, segundo Mateus.
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“Eu sempre andei bem. Em todas as vezes que me classifiquei para a final, ou fiquei na mesma posição, ou evolui. Então, eu gosto desse último dia, de ser uma regata tensa. Você está disputando um campeonato e pode ser campeão. Além de ser também mais atrativo”, avaliou o velejador.
“Antigamente, quando assistia a uma competição de vela, muitas vezes o campeão já era conhecido na medal race e não precisava nem competir. Não era chato, mas a de hoje você fica super animado para saber quem vai ganhar”, completou.
Próximas etapas
Um de seus primeiros passos em preparação para Paris 2024 será o Campeonato Mundial deste ano, a ser realizado entre 14 e 22 de outubro, em Brest, na França. O brasileiro vem do título sul-americano conquistado há duas semanas, em evento disputado em Búzios-RJ. Mateus Isaac venceu 13 das 15 regatas disputadas no evento e foi campeão com sobras.
Depois da conquista continental, o atleta embarcou para um período de 15 dias de treinos na Europa e realizou uma regata de técnicos no mesmo local em que vão ser realizadas as disputas do Mundial. Mateus faz uma forte preparação para a competição mundial, pois o nível da iQFoil tem aumentado acentuadamente depois que a categoria tornou-se olímpica, conforme o próprio atleta revela.
“O nível aumenta a cada campeonato. Lembro que no começo, todo mundo estava meio perdido. Você via pessoas fazendo coisas meio estranhas, caindo muito, e hoje em dia o nível já está muito maior. E a cada competição, as pessoas vão evoluindo e a flotilha fica mais forte”, falou Mateus, citando que os barcos de França, Inglaterra e Holanda são hoje seus principais concorrentes nos principais eventos internacionais.