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Vela

Alex Kuhl já traça rota olímpica após despontar como grande nome pro futuro

Jovem ilhabelense de apenas 15 anos já tem no currículo título inédito que nem a lenda Robert Scheidt e a bicampeã olímpica Martine Grael conseguiram

Alex Kuhl Marcos Arndt vela 470 mista Copa Brasil de Vela
(Caio Souza/CBVela)

O jovem velejador Alex Kuhl tem apenas 15 anos e chamou a atenção em julho deste ano ao vencer o Mundial de Optimist, classe de entrada na vela. Foi a primeira vez que um brasileiro conquistou esse título. Nem a lenda Robert Scheidt e a bicampeã olímpica Martine Grael conseguiram. De perto, o que também salta aos olhos é a clareza que ele tem sobre onde está na carreira, onde quer chegar a como vai fazer isso. São apenas 15 anos, reforce-se, então evidentemente que a noção não é a mesma de um atleta formado, mas a impressão que o adolescente passa está longe da desconexão da realidade que a idade possa sugerir. Tanto que ele já tem em mente o caminho que pretende seguir até chegar em uma Olimpíada. E o objetivo é Los Angeles-2028.

“Já fiz meu plano para o futuro. Vou terminar esse ano com o Marcos, que é o último que ele pode classificar para o Mundial. Ano que vem já corro com outro amigo meu, o Andrei. Eu penso em só mais o ano que vem na 420, porque eu quero iniciar na classe olímpica”, diz. A classe olímpica também está no horizonte. “A princípio seria da 420 para a 470, mas a 470 virou mista e não tenho uma dupla feminina que pense agora. Penso meu futuro com o Andrei. A gente está pensando uma classe que daria certo para o nosso biotipo, que é a 49er”, fala.

Jogos de 2028

Marcos é o proeiro Marcos Arndt. Alex é o timoneiro da dupla. E o Mundial é o da Juventude, que eles vão disputar em Omã, em dezembro. Alex Kuhl não compete mais na Optimist, cuja idade limite é 15 anos. Passou recentemente para a 420, classe pela qual venceu a Copa Brasil de Vela Jovem encerrada no sábado (16), em Ilhabela, litoral norte de São Paulo. Eles venceram três das dez regatas, tiveram outros três terceiros lugares e descartaram um oitavo. Somaram 25 pontos perdidos, três a menos do que os vice-campeões Gustavo Glimm e Pedro Amine. Logo depois do final da competição, Alex e Marcos foram confirmados pela Confederação Brasileira de Vela (CBVela) no Mundial de Omã.

Claro que a comunidade do esporte, expressa na CBVela, será parte ativa na execução do plano, mas Alex Kuhl tem suas balizas. “(A Olimpíada de) Paris está perto, mas Los Angeles dá para dar uma brigada. Vamos começar em 2023 na classe olímpica, então dá uma mini campanha para Paris, só que vai ser difícil. Aí a gente vai treinar full para tentar ir para Los Angeles”, continua, citando os Jogos de 2028. “O sonho de qualquer atleta de alto rendimento é chegar em uma Olimpíada. Então, quero muito. Só de ir vai ser bom, imagina ganhar”, diz. “Eu me imagino lá, correndo as regatas, mas ainda é muito cedo, sou muito jovem. Assisti todas as de Tóquio, curtição total. As meninas do 470 (Ana Barbachan e Fernanda Oliveira), a comunicação delas me inspirou bastante. Vi e pensei: ‘caraca, é assim que tem de ser no futuro, eu velejando com quem quer se seja’.”

Capital da Vela

Alex Kuhl nasceu na Alemanha e com um ano veio para o Brasil, mais especificamente para Ilhabela, conhecida como Capital da Vela. “Descobri o esporte desde pequenininho. Sempre vivi no mar, com meu pai, minha família. Comecei a velejar com sete anos”, diz. “Quando era pequeno eu jogava futebol, só que não tinha muito talento, percebi que não era bom. Minha mãe trabalhava numa pousada que tinha ligação com uma escola de iatismo, de vela. Eu fazia umas clínicas e acabei gostando do esporte.”

No começo era apenas uma brincadeira, uma atividade para se divertir com os amigos. “Hoje é um esporte que vejo que vai me levar para o futuro, vai ser a minha carreira”, crava. A decisão de seguir em frente na vela veio quando começou a se destacar. “Conseguir a disputar os campeonatos na frente e chegar em um nível que eu cheguei hoje. O primeiro que ganhei, pelo que me lembro, foi uma etapa de ranking aqui na ilha. Eu era estreante e foi onde tudo começou, a brigar ali na frente. Devia ter uns doze anos”, lembra. “Agora que consegui conquistar esse título me deixa mais motivado para chegar em uma Olimpíada, tentar ganhar e tudo mais.”

O título que ele cita é o Mundial de Optimist, conquista que o colocou em muita evidência na cidade. “Teve carreata, caminhão de bombeiro, várias entrevistas. Mas sempre tento ficar com a postura de antes, não ficar me achando, nem nada. Desde pequeno sempre pensei que para ser um atleta a primeira coisa é que tem de ser humilde. Isso que levo muito na minha cabeça”, acrescenta. “Acordo umas sete da manhã, vou para a escola e todo dia à tarde eu velejo, de domingo a domingo, menos de terça-feira, que é meu dia de descanso. Academia faço umas três, quatro vezes na semana.” E tem uma equipe de profissionais ao redor. “Entrei em uma startup, a 2Sport, e dentro dela tem vários profissionais ligados ao esporte. Neurocientistas, psicólogo, nutricionista, preparador físico. Trabalho muito a parte mental, porque uma coisa importante é você, num hora decisiva, é não perder a cabeça.”

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A dedicação impõe sacrifícios, talvez ainda mais relevantes para um adolescente. “Passei três natais e três aniversários fora de casa só para ficar treinando. Perdi muitas coisas com meus amigos, de poder ir para algum lugar, viajar, passar umas férias. Me dedico muito ao esporte e isso não me incomoda”, conclui, sem pestanejar, na guarderia da Escola de Vela Lars Grael, em Ilhabela, minutos antes de colocar seu 420 para mais um dia de luta nas águas, desta vez na Copa Brasil de Vela Jovem. Daqui a sete anos, quem sabe, será na costa oeste dos Estados Unidos.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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