Aos 48 anos, Robert Scheidt se prepara para disputar sua sétima Olimpíada. Maior velejador do Brasil, ele soma duas medalhas douradas, em Atlanta-1996 e Atenas-2004, além de outras duas pratas e um bronze. E 26 anos desde que conquistou o primeiro ouro olímpico, ele se sente preparado e com muita vontade de buscar mais uma medalha em Tóquio-2020.
“Em cada Olimpíada existe bastante ansiedade, seja na primeira ou na sétima. E isso não vai mudar. O importante é que essa ansiedade não chega a um patamar que atrapalhe a performance. Eu quero muito lutar por uma medalha, representar bem o meu país mais uma vez. Me sinto mais leve que em outros Jogos, não sendo o favorito, mas isso não significa que eu queira menos a medalha, que eu sonhe menos. Pelo contrário, a vontade de chegar no pódio e fazer uma boa campanha é igual das outras vezes. Na verdade, é até maior. Estou chegando no final da minha carreira e as chances de poder seguir nessa caminhada olímpica vão diminuindo”, explicou o atleta.
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E a grande motivação para seguir no esporte por tanto tempo e com tanta vontade é simples: paixão. “O que me motiva é a paixão pelo esporte. Não só velejar, mas competir, testar meus limites. O que estou fazendo na Laser, ninguém nunca fez, e isso mostra para a juventude que eles têm muita lenha para queimar. Que se cuidando e querendo muito, dá para velejar por muito tempo. No meu caso, é isso: a chama, a paixão, a vontade de tentar de novo e lutar”.
Pandemia e evolução
Com a chegada da pandemia de coronavírus no início do ano passado, a Olimpíada de Tóquio-2020 foi adiada em um ano. E o que para muitos pode ter sido um problema, para Scheidt acabou sendo uma solução.
“Do lado humano, a pandemia é uma coisa muito triste. Muitas vidas perdidas. Para mim, também foi um momento de bastante apreensão. Mas pelo lado esportivo, o tempo a mais teve um impacto positivo. No ano de 2020 eu não vinha em uma fase muito boa, tive problemas físicos, com lesões e não fiz um bom Campeonato Mundial. Com esse ano a mais eu consegui me organizar melhor, ajustar alguns pontos na preparação e mexer em coisas que não estavam muito boas. Trabalhei muito duro nesse período e consegui elevar meu nível. Assim, acredito que esse tempo a mais foi benéfico”.
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E apesar de o ciclo de Tóquio não ter sido de bons resultados em Mundiais e Copas do Mundo, os últimos desempenhos em torneios preparatórios mostram que Scheidt está no caminho certo. “O meu momento nesses últimos meses vem em uma crescente. Os períodos de treino em Lanzarote (na Espanha), combinados com bom trabalho de preparação física, foram muito importantes. Ainda faltam dois meses para a Olimpíada, não tem nada garantido e algumas coisas ainda podem mudar, mas sei que posso disputar de igual para igual com qualquer um. E esse era o objetivo desde o início, ser competitivo em Tóquio”.
O poder da longevidade
Ao olhar para trás, Robert Scheidt confessa que não imaginava chegar onde está hoje e exalta sua longevidade, que é fruto de muito trabalho. “Em 1996, com 23 anos, eu achava que 35 anos era o limite de idade para ter uma boa performance. E essa questão do tempo de carreira está mudando em todos os esportes. Hoje, o atleta consegue ter maior longevidade. Tudo depende de como ele se cuida e de sua força interior. Do quanto ele quer brigar por resultados e medalhas”, destacou.
“Equilíbrio e a qualidade do treinamento são fundamentais. Se antes, com 20-30 anos, minha filosofia era fazer mais que os outros para que o resultado viesse como consequência, hoje, não consigo mais fazer dessa forma, porque vou acabar me machucando e isso é contraproducente. Hoje em dia, meu volume de trabalho é bem menor que antes, mas com qualidade e intensidade maior. Também é preciso saber escutar o corpo, quando ele precisa de descanso ou está prestes a se lesionar. E por ter feito tudo isso sempre, ainda tenho chance de seguir usando meu corpo em alta performance”, completou.
Assim, Robert Scheidt mostra que o céu é o limite quando se acredita em si mesmo e quando se tem um trabalho bem feito. “[O que mudou do Rio para cá], mais experiência, mais maturidade. Mas acima de tudo, muito feliz pela oportunidade de representar o Brasil mais uma vez e chegar à sétima Olimpíada. Muita gente questionou se eu teria alguma chance, e estou aqui. Hoje, acredito que estou em uma boa fase e tenho tudo para chegar competitivo em Tóquio”, concluiu.