No final do ano passado, a vida de Jorge Zarif virou de cabeça para baixo, após ser flagrado no exame anti doping em agosto. Dez meses depois, foi confirmada a punição de um ano de suspensão para o paulista de 27 anos. E nesta quinta-feira (18), o atleta, classificado para Tóquio, quebrou o silêncio e falou com exclusividade ao Olimpíada Todo Dia sobre o pior período de sua vida.
“Eu recebi a notícia quando tinha acabado de sair do hospital, porque eu tinha ido tirar cisto no ombro. Eu estava entrando no carro, li o e-mail com a notificação e fiquei em choque. Passei uns cinco minutos parado, não fazia a menor ideia de que isso podia acontecer. Senti como se fosse acabar minha vida… Na hora você fica desesperado e acho que é a pior coisa que pode acontecer com um atleta”, desabafou Zarif.
“Quando passou esse primeiro choque, entrei no carro, voltei para casa ainda muito mal, tentando entender o que tinha acontecido. E aí comecei a ligar para as pessoas, para as entidades devidas avisando do resultado analítico adverso e já tentando buscar soluções”.
Buscando soluções
Zarif foi flagrado no exame anti doping por conta da presença da substância tamoxifeno. Na época do anúncio da suspensão, o atleta explicou que fez uso da substância por 20 dias por recomendação médica para o tratamento de ginecomastia bilateral, doença que causa o aumento das mamas e limita os movimentos.
Logo após receber a notificação, Zarif procurou pelo advogado Bichara Neto, que cuidou de outros casos de doping como o de Bia Haddad, do tênis. E Bichara explicou que ele deveria ter pedido uma AUT, autorização de uso terapêutico, já que era um tratamento de uma doença que e tinha exames comprovando.
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Assim, eles entraram com um pedido de AUT retroativa, prevista na legislação do doping. “Mas a resposta demorou quase três meses para vir. Foi uma angústia muito grande. Esses três meses talvez tenham sido os piores, porque poderia vir uma notícia maravilhosa e uma muito ruim. Eu não sabia se ia sair essa autorização ou não… E se saísse, o processo seria encerrado”.
No entanto, ela não saiu. Para que a AUT retroativa fosse liberada, a World Sailing (Federação Internacional de Vela) e a WADA (Agência Mundial Anti Doping) deveriam aprovar o pedido. Em janeiro, A World Sailing aprovou, mas a WADA não.
“Não faria muito sentido recorrer. Eu teria que desembolsar um valor considerável, ir para a Suíça, com advogado, e até ter um julgamento presencial, eu já estaria livre”.
Punição “pesada”
Com a autorização de uso terapêutico retroativa negada, restou a Jorge Zarif esperar pelo anúncio da punição. O maior medo era perder a Olimpíada de Tóquio, quando ela ainda não tinha sido adiada.
“Achei a decisão muito pesada. Tinha um caso praticamente idêntico ao meu, com a mesma substância, em que o atleta pegou três meses. Teve um outro caso internacional que o atleta pegou quatro meses. Ficou bem claro com as provas que tinham que não houve dolo nenhum e intenção de trapaça, até pela substância que foi encontrada. Então na minha cabeça ficou bem desproporcional”, pontuou.
“Mas tudo bem, aprendi a lição. E dos males o menor, porque eu ainda tenho a possibilidade de participar da Olimpíada, que era minha preocupação número um. Obviamente que não estou contente com o desfecho da situação, mas poderia ter sido muito pior”.
Arrependimento
Todo esse pesadelo da punição por doping aconteceu porque Jorge Zarif não tinha conhecimento sobre a necessidade da autorização de uso terapêutico. Hoje, ele reconhece que teria feito as coisas diferentes.
“Sim (eu teria feito diferente). Eu poderia ter pedido a autorização de uso terapêutico antes, com todos os dados, os exames. A autorização, se tivesse sido pedida na hora certa, teria saído com certeza. Então por ignorância minha, eu não sabia que esse era o procedimento certo. Achava que a prescrição médica, os exames, tudo certinho já me tiraria a responsabilidade. Nem conhecia esse negócio de AUT. Então se eu soubesse, teria feito isso diferente”.
Futuro e Tóquio
O fim da punição foi confirmado para o dia 14 de agosto deste ano. No entanto, Jorge Zarif será liberado no momento em que o calendário esportivo ainda não está normalizado devido à pandemia de coronavírus. Por isso, seus planos para o futuro ainda seguem incertos. Mas uma coisa é certa, ele vai usar esses próximos 12 meses para dar a volta por cima e representar o Brasil na Olimpíada de Tóquio.
“Os planos estão um pouco abertos ainda. Enquanto eu estou suspenso, não tenho apoio algum de treinador, preparação física, fisioterapia. Todos os campeonatos foram cancelados também, então não dá para planejar muito o que vai fazer. Existe um calendário na minha cabeça com alguns campeonatos que não estão confirmados. Acabando a punição, vou sentar com o pessoal e ver a possibilidade de participar. Acho que é o primeiro passo para a preparação para o ano que vem”.
“O físico está em dia, tenho trabalhado bastante algumas lesões que eu carrego comigo já há algum tempo… Então a ideia é que dia 15 de agosto, eu esteja 100% pronto para voltar 1000% e só pensar no esporte. E com certeza, 12 meses depois do fim da punição (até os Jogos de Tóquio) serão muito bem vindos. Um ano com a cabeça no lugar e a estrutura de volta vai ser muito bom”, concluiu.