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Tóquio 2020

Atletas da vela avaliam impactos do coronavírus para Tóquio

Atletas da vela avaliam impactos trazidos pela quarentena e possível mudança climática pelo adiamento das Olimpíadas

Martina Grael e Kahena Kunze - Foto: Reprodução/ Instagram
Martine Grael e Kahena Kunze foram campeãs olímpicas em 2016 (Foto: Reprodução/ Instagram)

A pandemia do Coronavírus tem causado impactos sem precedentes no mundo esportivo. Um dos maiores exemplos disso é a enorme expectativa em relação ao adiamento ou não dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Até o momento, o Comite Olímpico Internacional garante que o evento acontecerá sem mudanças drásticas e terá a sua abertura no 24 de julho de 2020.  

Apesar da entidade ainda garantir o início do evento para este ano, já existe uma enorme pressão por parte dos atletas para que os Jogos seja postergados. Isso porque, todos os competidores estão impossibilitados de treinar normalmente restando apenas alguns poucos meses para a competição.

Em algumas modalidades, o impedimento para os treinamentos é extremamente impactante. Um bom exemplo disso é a vela. Sem a possibilidade de realizar os treinamentos na água, os atletas dessa modalidade estão impedidos de praticar a parte técnica do esporte num momento crucial da sua preparação para os Jogos Olímpicos.

Com sua vaga já garantida para Tóquio, Gabriela Nicolino admitiu que este período sem atividades no mar trará impactos na sua preparação e de seu parceiro, Samuel Albercht. Porém, a atleta afirmou entender que este sacrífico é uma exigência desse momento e explicou como tem feito a sua preparação nesse período.

 “A vela é um esporte que depende muito de estar do lado de fora. O treino na água é muito específico e é difícil substituir esse treinamento técnico. Dito isso, não faz sentido pedirmos a todos que evitem sair de casa para conter a propagação do vírus, e não fazermos nossa parte. Minha preparação agora é focada na parte física e mental. Estou realizando minhas séries adaptadas para pesos livres e controle corporal, mobilidade e alongamento. Temos ainda reuniões semanais com nosso psicólogo esportivo, Lucas Rosito, a fim de mantermos o foco nos objetivos e não perdermos a perspectiva de que os Jogos Olímpicos estão logo ali, mesmo trancados em casa”, explicou a competidora da classe Nacra 17.

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Outra velejadora que lamenta a impossibilidade de realizar os seus treinamentos normalmente é Kahena Kunze. Dupla de Martine Grael na classe 49erFx, as atuais campeãs olímpicas precisaram cancelar a rotina de treinos previstas na Espanha e retornarem rapidamente para o Brasil por conta da quarentena.

“É uma sensação muito ruim. Temos nosso maior objetivo em menos de 3 meses e tudo que mais queríamos era de poder estar velejando e ajustando os detalhes de equipamentos e manobras para chegarmos bem em Tóquio. Na vela é bem difícil você simular de fora de um barco. Você precisa estar no mar para se adaptar as ondas, correntes, ventos. Cada condição requer uma adaptabilidade coisa que só encontramos treinando no barco”, analisou Kahena.

Adiamento pode trazer nova dor de cabeça

Todos estes problemas relacionados a falta de um treinamento completo numa reta final de preparação deveriam simbolizar um manifesto desejo dos atletas num adiamento da competição. No entanto, no caso da vela, uma competição realizada no mar e bastante influenciada pelo clima, isso pode simbolizar um problema.

Inicialmente prevista para o verão japonês, os Jogos Olímpicos possuem uma chance considerável de serem adiados. Caso essa realidade se confirma, o mais provável é de que o evento seja adiado por um ano, tendo o seu início marcado para julho de 2021. No entanto, o fato dessa postergação afetar seriamente o ciclo olímpico de 2024, existe a chance do adiamento colocar as Olimpíadas para ser disputada no inverno japonês.

Uma transformação desse nível afetaria e muito as condições marítimas para a disputa das competições da vela. Kahena explica que uma mudança tão drástica na previsão climática obrigaria também uma adaptação considerável por parte das atletas, que vem se preparando para disputar competições no verão.    

Gabriela Nicolino e Samuel Albercht estão garantidos em Tóquio pela classe Nacra 17 (Foto: Sailing Energy)

“Dependemos da natureza para pratica do nosso esporte. Pelo pouco que estivemos no Japão as estações do ano são bem claras e as condições mudam bastante. Até então estávamos contando com o verão, treinando ao ar livre para se adaptar com o clima e a humidade de lá. Nunca fomos durante o inverno, e sei pouco sobre as condições nessa época lá, mas se for por isso vamos adaptar da melhor forma possível para nosso melhor rendimento”, avaliou.

No entanto, Gabriela Nicolino explica que este tipo de mudança é praticamente inviável para a disputa de vela. Isso porque o equipamento utilizando na modalidade provavelmente não aguentaria as condições impostas pelo inverno de Tóquio. “Não sei se seria hábil realizar as provas de vela no auge do inverno japonês. As temperaturas saem de 40º C no verão para negativas, inviabilizando as competições. É muito duro competir abaixo de 10º C. Para nós, brasileiros, ainda mais por não estarmos acostumados. E é inviável competir em temperaturas próximas a zero grau, com a água congelando no material”, explicou.

Posicionamento do COI

As velejadoras comentaram ainda sobre o posicionamento do COI, que permanece garantindo o início dos Jogos Olímpicos para o meio deste ano. Kahena Kunze admite que preferiria que não houvesse um adiamento, mas acredita que a disparidade na preparação dos atletas ao redor do planeta por causa da quarenta deve pesar nesse momento.

“Eu como atleta gostaria muito que a data permanecesse a mesma. Porém sabemos que o tempo é curto e não estamos conseguindo se preparar da melhor forma e ainda sabendo que a humanidade passa por uma guerra viral. Difícil pensar em jogos assim. Além de que as diferenças internacionais são muito grandes quando se trata de oportunidades de treinamento. Vejo que em alguns lugares atletas não deixaram de treinar e acho isso muito desleal. Direitos iguais para todos, no mínimo”, avaliou a atleta.

Gabriela passa por uma linha de raciocínio parecida e ressalta ainda que o momento atual não combina com um momento de celebração mundial como são nos Jogos Olímpicos.

“O posicionamento do COI parece desalinhado ao posicionamento de todas as outras instituições – ao invés de solidarizar-se com a comunidade global e incentivar a quarentena dos atletas, o comitê incentiva os atletas a manterem-se treinando. Mantendo os Jogos na data original, os atletas terão que encontrar formas de contrapor o isolamento para seguir se preparando. Muitos de nós estamos há anos nos dedicando para o sonho olímpico, é uma vida inteira pensada neste momento. Além disso, não haverá um espírito olímpico de celebração entre as nações, pois este não parece ser o momento mais adequado de celebrar, enquanto tantas nações sofrem com a pandemia global”, completou.

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