Santiago (com Wesley Felix) – O Brasil encerrou os Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023 com a melhor campanha de sua história. O país obteve 205 medalhas, sendo 66 ouros, 73 pratas e 66 bronzes, e encerrou o evento no segundo lugar do quadro geral de medalhas, atrás apenas dos Estados Unidos. O desempenho brasileiro supera o de Lima-2019, quando foram obtidas 169 medalhas, sendo 54 de ouro.
A expectativa do COB era um aumento de 10% a 15% em comparação ao último Pan, mas o crescimento foi de 22,2% em relação ao número de ouros e 21,3% em relação ao total de medalhas.
Um total de 617 atletas fizeram parte da delegação brasileira em Santiago-2023, o maior número do país em uma edição de Pan realizada em solo internacional. Hugo Calderano, do tênis de mesa, e Nicole Pircio, do conjunto da Ginástica Rítmica, foram escolhidos para carregar a bandeira brasileira na cerimônia de encerramento que acontece às 21h deste domingo (5).
O país conquistou 36 vagas diretas para os Jogos Olímpicos de Paris-2024, além de garantir dois índices de salvaguarda na natação, totalizando 38 novos nomes. Ao fim dos Jogos Pan-Americanos a delegação brasileira para Paris já elenca 144 atletas e a expectativa é que a delegação seja mais numerosa que aquela de Tóquio, com 301 atletas.
Natação e atletismo confirmam chuvas de medalhas
A natação foi a modalidade que mais deu medalhas ao Brasil, com 25 no total. Foram sete ouros, sete pratas e 11 bronzes. Guilherme Costa, o Cachorrão, foi o brasileiro com mais ouros, quatro: no 4x200m, 400m, 800m e 1500m. Nas águas abertas ainda foram uma prata e um bronze na competição feminina.
O atletismo não ficou para trás, dando 23 pódios à equipe brasileira, sendo sete ouros, dez pratas e seis bronzes. Renan Gallina se poupou dos 100m e a escolha deu certo. A jovem promessa da velocidade levou o ouro nos 200m e garantiu o sprint final para o ouro nos 4x100m.
Com estrelas, ginástica é destaque
A ginástica rítmica foi o principal destaque deste Pan. A modalidade foi a que mais deu medalhas de ouro para o Brasil nesta edição, com oito ao todo. Barbara Domingos e companhia, aliás, “gabaritaram” a competição, conquistando todas as medalhas possíveis. Foram 13 pódios, sendo oito ouros, quatro pratas e um bronze. Babi Domingos foi a maior atleta feminina do Brasil no Pan de Santiago, com três ouros e duas pratas.
A ginástica artística brasileira também fez uma grande campanha. Contando com as estrelas Rebeca Andrade e Flávia Saraiva, o Brasil conquistou 13 medalhas, com três ouros, nove pratas e um bronze. Flavinha ficou muito próxima do ouro no individual-geral mas terminou com quatro pratas e um bronze. Rebeca Andrade, fora do solo e do individual-geral levou dois ouros e duas pratas.
Na ginástica trampolim, o Brasil conquistou três pratas e um bronze em uma prova bem forte a nível internacional. O evento serviu como preparação para o Campeonato Mundial do esporte, que acontece já esta semana entre 9 e 12 de novembro de 2023.
Nos mares de Algarrobo, a vela conquistou três ouros e três bronzes e além disso ainda garantiu quatro novas vagas olímpicas para o Brasil.
Campanhas históricas marcam evoluções dos esportes
Nos combates, o Brasil também deu um show. O judô, um dos tradicionais carros-chefes da delegação brasileira, fez a melhor campanha da história. Foram sete ouros, três pratas e seis bronzes, totalizando 16 medalhas. Apenas na 70kg feminina o Brasil não subiu ao pódio.
O wrestling que só tinha um ouro antes de Santiago, saiu com dois ouros, uma prata e um bronze da capital chilena. No caratê, o Brasil levou seis medalhas, sendo uma delas de ouro com Barbara Hellen Rodrigues. A delegação brasileira também ganhou uma prata e quatro bronzes.
A esgrima fechou com chave de ouro sua participação, conquistando o segundo ouro de sua história. Foi o primeiro desde 1967, com a espada feminina. Foi apenas a primeira final da esgrima feminina na história e, além disso, a disputa marcou a aposentadoria de Amanda Netto Simeão e a despedida de Nathalie Moellhausen da equipe. Além desse ouro histórico, o Brasil conquistou outras quatro medalhas de bronze no esporte.
O boxe brasileiro entrou com 13 atletas e enfim conquistou 12 medalhas. Foi também o esporte que mais alcançou vagas olímpicas individuais para o Brasil, com o país garantido dessa forma em nove categorias dos Jogos Olímpicos. Foram quatro ouros, cinco pratas e três bronzes.
Uma das provas mais comentadas durante os Jogos Pan-Americanos foi a disputa por equipes de taewkondo. No naipe masculino, o Brasil foi ouro. No geral, o país ainda levou uma prata e três bronzes, somando portanto cinco pódios.
Ouros em Viña del Mar
Durante Santiago-2023, apenas o handebol contribuiu mais com a conquista de vagas olímpicas. Heptacampeã pan-americana, a equipe feminina se garantiu nos Jogos Olímpicos e portanto contribui com 14 atletas para a delegação de Paris-2024. Já o masculino, sofreu uma amarga derrota para a Argentina e segue portanto para o pré-olímpico mundial, de olho em Paris.
O Brasil ainda comemorou outros ouros em Viña del Mar. O futebol masculino levou o título pan-americano pela primeira vez desde 1987. Já no triatlo, vieram dois ouros, com Miguel Hidalgo no individual masculino e na equipe mista.
Skate finalmente estreia em algo estilo nos Jogos Pan-Americanos
A estreia do skate foi um dos esportes mais disputados em Santiago-2023 com ingressos esgotados em poucos minutos. Lucas Rabelo e Rayssa Leal conquistaram os ouros brasileiros ainda no primeiro fim-de-semana. Augusto Akio, Pâmela Rosa e Raicca Ventura ficaram com a prata e apenas Gabyrel Aguilar saiu zerado, após se machucar.
Tênis e tênis de mesa garantem ouros suados e vagas olímpicas
No tênis de mesa não só conquistou medalha em todos pódios disputados, mas também recuperou a hegemonia na disputa por equipes masculina. Foram dois ouros, quatro pratas e um bronze, acumulando assim sete pódios. Bruna Takahshi e Victor Ishiy garantiram vaga nominal na chave de duplas mistas. Hugo Calderano ampliou seu dominínio no continente e se tornou o primeiro tri-campeão da história do tênis de mesa masculino. Além de exímio atleta, ele ainda se mostrou um pesquisador e arquivista de primeira, mostrando ao Olimpíada Todo Dia anotações completas de sua carreira.
O tênis também teve 100% de aproveitamento. Laura Pigossi levou dois ouros, no individual e duplas femininas, com o retorno de LuLau, sua dupla medalhista olímpica com Luisa Stefani. Laura inclusive garantiu vaga nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Em Toquio, ela teve poucos dias para se preparar, mas para Paris a medalhista olímpica tem nove meses de treinos para fazer bonito.
Stefani, por sua vez foi prata com Marcelo Demoliner nas duplas mistas e este foi campeão das duplas masculinas com Gustavo Heide, que por sua vez perdeu a disputa de bronze no individual para Thiago Monteiro. Heide, aliás, quase garantiu sua vaga olímpica mas desperdiçou match-points na semifinal e agora precisa se classificar via ranking.
Coletivos garantem medalhas
O vôlei brasileiro veio sem sua equipe principal e ainda assim fez bonito. Levou o ouro no vôlei masculino e na final do feminino caiu apenas para a forte equipe da República Dominicana. André/George e Ana Patrícia/Duda conquistaram os ouros no vôlei de praia.
Já no basquete, os homens ficaram com a prata, enquanto as mulheres conquistaram o ouro. O basquete 3×3 foi uma das decepções do Time Brasil nos jogos, ficando longe das medalhas em ambos os naipes, inclusive no masculino em que foi quarto lugar no mundial deste ano.
Uma das principais histórias dos Jogos foi a surpreendente prata do time de beisebol, pódio inédito para o país. Também um esporte com pouca tradição, o hóquei sobre a grama voltou sem medalha, mas com um gosto de sucesso. A equipe conquistou uma vitória inédita no masculino sobre Trinidad e Tobago e depois sobre o México, terminando portanto em quinto lugar.
O rúgbi feminino confirmou seu domínio na América do Sul e levou mais um novo bronze pan-americano, enquanto o masculino caiu na fase de grupos. No polo aquático, o time feminino suou para ganhar da Argentina e conquistar o bronze. Já no masculino, a vitória sobre o Canadá na semi garantiu a prata, confirmada após derrota para os EUA.
Vagas olímpicas vieram também no hipismo e tiro com arco
O hipismo brasileiro conquistou todos seus principais objetivos, que eram as vagas olímpicas por equipe no adestramento e CCE. Mas a vaga no adestramento ainda está sob espera da confirmação de um índice olímpico por um terceiro atleta brasileiro em competições internacionais. A campanha do hipismo foi coroada com um ouro nos saltos individuais. Ao total, foram um ouro, três pratas e dois bronzes entre as três categorias.
No tiro com arco, o tão sonhado ouro inédito ainda não chegou, mas pelo menos Ana Clara Machado garantiu a participação brasileira no individual feminino e conseguiu uma final inédita entre as mulheres. Ao lado de Marcus D’Almeida ela também foi prata na dupla mista. Se Marquinhos caiu nas quartas de final, o nosso maior nome do esporte liderou a equipe brasileira de recurvo rumo ao bronze no masculino por equipes. Ao total, foram duas pratas e um bronze. O badminton também subiu três vezes ao pódio, mas com uma prata e dois bronzes.
Ingrid e Giovanna superam confusão olímpica e voltam ao pódio do Pan
Depois de sete anos separadas, Ingrid Oliveira e Giovanna Pedroso retomaram a parceria e conquistaram bronze, único pódio dos saltos ornamentais do Brasil nos jogos. No nado artístico, o dueto brasileiro conseguiu bronze depois de doze anos.
Ainda nas águas do Chile, o Brasil garantiu muitas medalhas. Na canoagem slalom foram três ouros e três pratas, sendo que o principal destaque foi Ana Sátila com dois ouros. A canoagem velocidade levou duas pratas, uma delas com Isaquias Queiroz. O remo conquistou um ouro, com Lucas Verthein, e uma prata, com Beatriz Cardoso.
O surfe brasileiro subiu ao lugar mais alto do pódio uma vez, com Tati Weston-Webb. Porém, o principal destaque brasileiro no surfe feminino já estava previamente classificada pra Paris-2024. Um dos objetivos do COB era a classificação de Silvana Lima aos Jogos Olímpicos e agora o Brasil tenta sua segunda e possível terceira vaga no ISA Games, em Porto Rico. No total, três pratas e dois bronzes.
Ciclismo brasileiro ganha última medalha brasileira do Pan, mas bate na trave na estrada e pista
O ciclismo conseguiu três bronzes, um deles no BMX e dois no mountain bike. Gustavo Bala Loka foi, inclusive, o responsável pela 205ª e última medlaha do Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023. Além deles, vários “quases”, na estrada e na pista inclusive. São modalidades com pouca tradição no país e que oferece muitas medlahas
O levantamento de pesos, um esporte dominado pelo continente americano e asiático, ficou apenas com um bronze. O tiro levou apenas um bronze, com o medalhista olímpico Felipe Wu na pistola de ar 10m. A decepção maior veio pela ausência de vagas olímpicas alcançadas, sendo que o país tinha cerca de cinco chances reais dentre as várias categorias com base nos resultados do Mundial.
Dentre os esportes pan-americanos, o Brasil conquistou novamente uma medalha de bronze na pelota basca. Na patinação artística, um ouro e um bronze colaboraram com a tradição histórica do país na modalidade. No esqui aquático foi um bronze, o primeiro da história no slalom.
Mesmo sem medalha, pentatlo moderno comemora
Foram poucos os esportes em que o Brasil não medalhou. Dentre os esportes olímpicos, além do hóquei, lista-se apenas o breaking, golfe, escalada, e o pentatlo moderno. Mas neste último, um dos objetivos do COB foi alcançado, com a vaga olímpica para Isabela Abreu. No breaking, três atletas se classificaram para as quartas. Mesmo resultado de Pedro Egg, na escalada após derrotar um norte-americano nas oitavas.
Dentre os esportes pan-americanos, o boliche, patinação velocidade também não tiveram a bandeira brasileira hasteada nas cerimônias de medalhas.
Em apenas três esportes, o Brasil não enviou represenantes: raquetebol, softbol e squash.
Problemas marcam Santiago-2023, mas não atrapalham
É praticamente impossível que um mega-evento passe sem problemas. Os Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023 tiveram muitos problemas de organização, alguns deles relatados por membros da comunidade Notícias OTD.
Se os cachorros por toda parte – inclusive dentro da Cerimônia de Abertura – encantaram muita gente, as goteiras no handebol causaram muitos problemas. Nada comparado à marcação errada na marcha atlética feminina em que atletas completaram apenas 88% do trajeto.
Nenhum índice olímpico novo foi alcançado no atletismo – Matheus Corrêa ficou a apenas seis segundos na marcha atlética 20km -, mostra que as condições climáticas e o fim de temporada atrapalharam na preparação.
Na natação, apenas duas atletas canadenses ganharam novas vagas, além de Gabrielle Roncatto e Maria Fernanda Costa. As brasileiras já tinham nadado para o índice olímpico, mas em uma competição não reconhecida pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos como critério de salvaguarda.
Metrô de Santiago é point de atletas
A vila pan-americana também apresentou problemas no início, mas que com o passar dos dias foi melhorando. Chamou a atenção o esquema proposto pelos organizadores dos Jogos Pan-Americanos para o transporte. A vila fica na frente da estação Cerrillos, estação final da linha 6 do metrô de São Paulo, a poucas estações do Estádio Nacional, principal centro de competições.
Muito moderna, ela foi inaugurada em 2017 e inspirada na linha 4 do metrô de São Paulo e na linha 14 do metrô de Paris, com seus trens automatizados e sem condutor. Para evitar o trânsito da capital chilena, os organizadores estimularam os atletas a ir e voltar de metrô para competir e também assistir os jogos, e cruzar com atletas e medalhistas virou lugar-comum no Chile nestes últimos dias.
Mesmo com todo esse cuidado, Daniel Nascimento, o Danielzinho, não apareceu para a única prova que estava inscrito, os 10.000m. Ele afirmou ter pego um ônibus em cima da hora, mas a coluna do UOL, Olhar Olímpico afirmou que outros atletas o viram em um transporte anterior. De qualquer maneira, ele terá sanções financeiras e não será mais apoiado com um programa extra do COB.