É assustador, para dizer o mínimo, o resultado do relatório apresentado nesta sexta-feira pelo advogado canadense Richard McLaren, que comanda a comissão independente da Wada (Agência Mundial Antidoping) na investigação da maior trapaça do esporte mundial: o escândalo do esquema de doping na Rússia.
Mais de 1.000 atletas russos burlaram os controles de dopagem em algumas das mais importantes competições do mundo, entre 2011 e 2015. E o mais grave de tudo, com anuência e incentivo do próprio governo da Rússia. Pelo que o relatório apontou, foram afetadas amostras envolvendo os Jogos Olímpicos de Londres-2012, o Mundial de atletismo de 2013 e os Jogos Olímpicos de inverno de Sochi 2014. Tudo sob o comando do então ministro de esporte da Rússia, Vitaly Mutko, que ocupou o cargo entre 2008 e 2016.
O esquema de fraude russa era composto principalmente por troca de amostras positivas por outras limpas, mas houve também contaminação com outras substâncias utilizadas para enganar as autoridades da Wada na análise dos exames, como café e sal. Segundo McLaren, duas atletas da equipe russa de hóquei no gelo em Sochi-2014 tinham uma quantidade de sal no sangue incompatível com seres humanos saudáveis.
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As duras palavras de Richard McLaren nesta sexta-feira, realizada em Londres, só mostram que estamos diante apenas da ponta do iceberg. Além de dizer que a Rússia corrompeu a Olimpíada de Londres-2012 “em uma escala sem precedentes”, reconheceu que muito mais pode vir pela frente. Segundo o canadense. ele só analisou uma parte das mais de quatro mil planilhas e outros documentos que incriminam os responsáveis russos pelo controle antidopagem.
A repercussão, como era de se esperar, foi enorme no meio esportivo. Nada menos do que 30 modalidades esportivas teriam sido afetadas pela trapaça russa, sendo o atletismo a vítima principal. Thomas Bach, presidente do COI, disse que a “conspiração do doping ataca a integridade do esporte” e pede a exclusão definitiva do esporte olímpico de todos os envolvidos.
Na Rússia, a reação foi a de negar que exista um programa a favor do doping e que continua com tolerância zero. Óbvias palavras, diga-se de passagem.
Ninguém é tolo de acreditar que apenas a Rússia é responsável por todos os casos de doping do esporte mundial. Existem picaretas em todos os países e para quem tem memória fraca, lembre-se do escândalo do laboratório Balco, em 2004, envolvendo várias estrelas do atletismo dos Estados Unidos. Só que a bola da vez agora é a Rússia. A dúvida é saber qual o tamanho da trapaça.