A pandemia do coronavírus afetou – e continua afetando – o esporte mundial. Ainda que boa parte das modalidades já tenham voltado ao redor do mundo, no Brasil algumas seguem sob os impactos do vírus. O triatlo, por exemplo, continua sendo fortemente afetado, principalmente nas competições que envolvem um grande número de atletas amadores.
No início do mês, a Unlimited Sports, organizadora das provas do Ironman no Brasil, comunicou que todas as seis competições previstas para 2021 e janeiro de 2022 foram canceladas.
Estavam programados para 2021 o Ironman 70.3 Rio de Janeiro (que aconteceria no dia 3 de outubro), o Ironman Brasil e o Ironman 70.3 Florianópolis (que ocorreriam no dia 7 de novembro), o Ironman 70.3 Maceió (previsto para 5 de dezembro), o Ironman 70.3 Fortaleza (que seria em 19 de dezembro) e finalmente o Ironman 70.3 São Paulo (antes programado para 23 de janeiro de 2022).
Por conta dos cancelamentos mediante às incertezas da realização das provas ou não, é difícil dizer quantos atletas de fato estavam inscritos nessas seis provas canceladas. Mas se considerarmos que até 2019, último ano em que ocorreu uma prova do Ironman no Brasil, os eventos receberam em média 1500 atletas, pode-se afirmar que por volta de 9 mil pessoas tiveram que alterar seus planos para o futuro próximo.
Escurecida no caminho rumo ao Mundial
Um deles é o baiano Fábio Rigueira, o primeiro do mundo a fazer a maior prova de um dia inteiro usando muletas.
Bastante conhecido no mundo do triatlo das longas distâncias, o atleta soteropolitano teve, aos nove anos de idade, um câncer na cabeça do fêmur, muito próximo ao joelho, que o levou a amputar uma de suas pernas.
Tomou gosto pelo ciclismo após ganhar uma bicicleta. Pouco depois, ingressou no triatlo por incentivo do tio e logo obteve o sonho de participar da maior prova da modalidade do mundo.
Em 2018, o paratleta do Time Dux Nutrition terminou os 3,8 km de natação, 180,2 km de ciclismo e 42,195 km de corrida do Ironman Florianópolis em 14h46min. No ano seguinte, Fábio voltou à Ilha da Magia e completou a prova novamente, dessa vez em 13h56min, batendo seu recorde pessoal.
Um convite mais do que especial
As performances lhe renderam um convite para participar do Campeonato Mundial em Kona, no Havaí, em 2020, o sonho de qualquer triatleta que compete no Ironman. A pandemia, no entanto, adiou a prova algumas vezes. Atualmente, ela está marcada para fevereiro de 2022.
Após sofrer bastante em 2020 com absolutamente tudo parado, as coisas pareciam se acertar com a aceleração da vacinação e a retomada, a princípio, das provas do Ironman Brasil nesse segundo semestre de 2021.
O cancelamento das seis competições, no entanto, agora colocam em xeque a participação de Fábio Rigueira naquele que seria o maior desafio de sua carreira até hoje.
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“Eu estava inscrito para as provas do Ironman de Florianópolis. As coisas estavam se ajustando. Quando a coisa começou a clarear e as provas foram remarcadas para esse segundo semestre, a gente começou a mudar o calendário aqui. Tanto é que eu não fiz nada do Campeonato Baiano ou do Circuito Brasileiro [de triatlo], provas que serviriam como um celeiro de testes para ajustar largada, transição, controlar a ansiedade e etc, caso acontecessem as provas em Floripa.” explicou Fábio Rigueira.
“São dois anos sem fazer o Ironman e sem treinar 100% para realizá-lo. Eu já transferi minhas inscrições para 2022, mas não sei se terei tempo hábil e condição física, já que eu preciso de uma preparação muito focada. Hoje, eu confesso que eu não tenho condições,” completa.
Dificuldades
Com o dólar nas alturas, fica difícil buscar algum evento do Ironman fora do Brasil. Além disso, os treinamentos nas três modalidades do triatlo também vêm sendo prejudicados por conta da pandemia desde o seu início.
“Treinar para um Ironman é extremamente desgastante. Então as pessoas reduzem a carga de treinos – até para poder resolver outras coisas. A pandemia alterou a logística de tudo, nos faz treinar de maneira mais reservada; e nós que treinamos as três modalidades sofremos demais. Por exemplo, eu pedalo aqui em Salvador na madrugada. O índice de assalto cresceu muito. Na natação você precisa ir para o clube, onde há protocolos limitando a quantidade de pessoas,” conta.
Alternativas
De acordo com Adriano Bastos, triatleta e diretor técnico e treinador da AB Treinamento Esportivo, com sede em São Paulo, a solução temporária para não ficar 100% parado é buscar provas de menor expressão, visando manter o ritmo e sentir um leve gosto do que seria uma prova grande.
“Na assessoria, temos 26 triatletas, sendo que oito deles fariam essas provas do Ironman que foram canceladas. Eu mesmo estou inscrito para as provas do Ironman de Maceió e São Paulo. Agora que o calendário está sendo retomado com provas menores e até duathlons e aquathlons, estamos entrando nelas para ter a experiência e vivência de competições. O importante é ganhar ritmo de provas e não ficar apenas ‘na neura’ das distâncias do Ironman,” avalia.
Ainda no processo de decisão do que fazer, Fábio Rigueira afirma que seus colegas de treino em Salvador também tem participado de desafios menores.
“Na assessoria que eu treino, eles sempre desenvolvem simulados na distância olímpica do triatlo [1,5 km de natação / 40 km de ciclismo / 10 km de corrida] e também o 70.3 [1.9 km de natação / 90 km de ciclismo / 21 km de corrida]. Já existe também aqui em Salvador uma atividades mesmas distâncias do Ironman full. Mas eu mesmo não desenhei meu novo momento. Se for para ir pro Mundial de Kona em fevereiro, tenho que estar em dezembro muito bem. Vai ser difícil,” finaliza Fábio Rigueira.