Débora Menezes perdeu a revanche da luta que a fez campeã mundial da categoria acima de 58 kg do taekwondo para Guljonoy Naimova, do Uzbequistão, e ficou com a medalha de prata dos Jogos Paralímpicos de Tóquio-2020. Com o resultado, o Brasil fecha sua participação na modalidade com 100% de aproveitamento. Todos os três atletas presentes na competição subiram no pódio. Se Débora foi vice-campeã, Nathan Torquato foi ouro e Silvana Fernandes ficou com o bronze.
“Essa medalha coroa o trabalho de um ciclo, que teve muitos altos e baixos e muitas incertezas por conta de tudo que estamos vivendo na pandemia, fora os desafios de ser atleta. Então, tudo isso coroa e mostra que você não deve desistir de seus sonhos e chegar nessa medalha de prata é uma honra muito grande”
O curioso é que, apesar de ser campeã mundial e agora medalha de prata paralímpica, Débora Menezes tem pouco tempo de taekwondo e conquistou o sucesso muito rápido. Nascida com má formação abaixo do cotovelo direto, a atleta de 31 anos, que é formada em educação física, só conheceu os esportes paralímpicos no fim da graduação.
“Eu não sabia que existia o movimento paralímpico. Eu praticava outras modalidades do convencional. Eu joguei 12 anos futsal. Resolvi pendurar minha chuteira com 18 anos para estudar. Sempre foi um meu fazer parte da seleção, trazer glórias e muitas conquistas para o Brasil e só no parataekwondo que eu vim coroar o trabalho de toda uma vida”, contou a atleta, que começou no esporte paralímpico no lançamento de dardo, prova em que tentou se classificar para a Rio-2016.
“Isso começou de 2011 para 2012 e em seis meses eu bati dois recordes brasileiros, mas tinha arrumado um emprego em uma faculdade e deixei um pouco de lado. Voltei em 2014, época em que eu já tinha começado a fazer taekwondo por hobby, mas com lançamento de dardo na minha cabeça. Eu sempre tive essa chama acesa dos Jogos dentro de mim e surgiu uma oportunidade de voltar para o lançamento de dardo e eu agarrei com unhas e dentes. Em 2016, eu tive uma chance real de ir para o Rio. Ia ter uma prova oficial valendo índice só que não teve atletas estrangeiros. Aí eu fiquei frustrada com tudo o que aconteceu e parei com esporte por um tempo”, contou Débora Menezes.
Mas logo Débora Menezes se reencontrou com outro esporte. O parataekwondo estava sendo implantado no Brasil e o que era hobby virou coisa séria. “Deus, ele não demora, ele capricha em cada detalhe”, agradece a atleta. “Eu transformei aquela frustração (de 2016) em trampolim e virei a chave. Coloquei na mente que eu viria para Tóquio e hoje, vendo que eu realizei o sonho, vem um filme na minha cabeça”.
A partir de 2017 são apenas quatro anos no parataekwondo de alto rendimento, período em que Débora Menezes conseguiu resultados incríveis. Além de ser prata na Paralimpíada e ouro no útlimo Mundial, ela foi vice-campeão dos Jogos Parapan-americanos. “Isso é dedicação! Em quatro anos de modalidade, a gente conquistou muita coisa. Por mais que eu seja nova no parataekwondo, eu sempre fui uma garota muito esforçada, muito dedicada. Eu nunca tive talento, mas dedicação, amor e dar valor ao processo são as minhas qualidades de destaque. Isso me faz sobressair e conquistar o que a gente tem conquistado. Eu considero que tenho cabeça de campeã”.
A COMPETIÇÃO
No último dia do taekwondo, que fez em Tóquio sua estreia no programa dos Jogos Paralímpicos, Débora Menezes foi muito bem nas duas primeiras lutas. Por ser cabeça de chave número 2, a brasileira fez sua primeira luta já nas quartas de final contra a mexicana Daniela Mariscal. Depois de vencer o primeiro round por 8 a 1, a lutadora paulista viu a adversária aproximar-se perigosamente e diminuir a difereça para 11 a 9. Mas no período final, ela voltou a dominar o combate para vencer por 24 a 12.
+ SIGA O OTD NO YOUTUBE, TWITTER, INSTAGRAM, TIK TOK E FACEBOOK
Já a semifinal foi um massacre! Em nenhum momento a ucraniana Yuliya Lipetska ameaçou Débora Menezes, que manteve a consistência ao longo de toda a luta para conseguir a classificação para a final por incríveis 55 a 10. Na decisão do ouro, a brasileira teve pela frente a reedição da final do Mundial de 2019 contra Guljonoy Naimova, do Uzbequistão.
+ RECEBA NOTÍCIAS NO NOSSO CANAL NO TELEGRAM OU PARTICIPE DO NOSSO GRUPO DO WHATSAPP
A atleta do leste europeu chegou à final depois de uma vitória incontestável sobre a britânica Amy Truesdale, campeã mundial em 2017 e cabeça de chave número 1 do torneio paralímpico, por 60 a 14. Na final, Guljonoy Naimova começou melhor, conseguiu controlar o ímpeto da brasileira e abriu 4 a 0 no primeiro round.
No segundo, Débora Menezes acertou um bom chute e encostou no placar: 4 a 3. Pouco depois, no entanto, Guljonoy Naimova conseguiu mais dois pontos e fechou o período vencendo por 6 a 3. No último round, a brasileira foi para o tudo ou nada, mas quem pontuou de novo foi a lutadora do Uzbequistão, que chegou a 8 a 3. Pouco depois, ela foi punida por falta de combatividade, mas a vantagem de quatro pontos ainda era confortável e ela conseguiu levá-la até o final para conquistar a medalha de ouro por 8 a 4.
“Ela é uma atleta muito talentosa, muito boa. A gente já entrou sabendo que a disputa bem acirrada. Entrei para fazer a minha estratégia, sabendo que ela ia fazer a dela e sabia que quem conseguisse se sobressair melhor na estratégia ia ganhar a luta. Foi o que aconteceu, mas estou muito feliz com a minha prata e estou muito feliz pela conquista da atleta do Uzbequistão, que fez por merecer. Ela foi me travando, mas faz parte do jogo. Uma hora a gente ganha, uma hora a gente perde. O importante é levantar a cabeça e continuar trabalhando para as próximas competições e para o próximo ciclo”.