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‘Saímos de Londres com um propósito, sermos campeões paralímpicos’

Romario Marques, recordista de participações paralímpicas do goalball brasileiro, conta história do inédito ouro. Leomon Moreno, o maior do mundo, lembra dos irmãos e Parazinho vibra por chegar ao nível de ambos

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Tóquio – Dois segundos antes do cronômetro zerar e confirmar a medalha de ouro, os três maiores protagonistas do título inédito no goalball masculino brasileiro nos Jogos Paralímpicos se abraçaram e começaram a vibrar. Era a apoteose de uma história que começara dez anos antes e teve um impulso fundamental em 2012. Romario Marques, capitão do time que traz na bagagem um recorde de quatro participações paralímpicas, contou que tudo começou no Parapan de Guadajalara. Mas foi em Londres que o projeto ganhou corpo.

“Nós vinhamos com um propósito lá de 2011, em Guadalajara. Tínhamos de classificar no Parapan para participar dos Jogos de Londres. Aí (na Inglaterra), veio a medalha de prata. Saímos de Londres com um propósito, de sermos campeões paralímpicos. Conseguimos ser tricampeões parapan-americanos e bicampeões mundiais”, disse Romario. Em 2016, não chegaram na final, foram “só” bronze, e agora chega o sonhado ouro. “Com humildade e pés no chão, nós conseguimos. Não foi fácil, mas conseguimos. Um atleta tem de ter paciência. Traçar alguns objetivos, colocar metas. Acompanhar a evolução do goalball brasileiro e fazer parte de toda essa trajetória para mim é uma felicidade. Ver esses moleques jogando em alto nível junto comigo. Junta experiência com a renovação e torna-se uma equipe campeã.”

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Consagração (Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br)

Família Moreno

Leomon Moreno, o maior jogador de goalball do mundo, disse que, para ele, a história do ouro começou ainda antes, em 2007, “quando eu entrei no goalball através dos meus irmãos Leandro e Leonardo, devo tudo a eles. Eles que me ensinaram tudo, sempre acreditaram em mim. Me deram muitos conselhos, às vezes, lá na adolescência, a gente precisava de um puxão de orelha, eles sempre me auxiliando, dando os caminhos das pedras. Devo muito a eles. Leandro e Leonardo, amo vocês e muito obrigado por tudo que fizeram por mim, na minha vida e carreira. Esse ouro é da família Moreno”, emociona-se.

O camisa 4 cita mais gente. “O professor Alex, lá de Brasília, que acreditou em mim desde o começo. Depois vieram só evoluções, agradeço a todos que fizeram parte da minha história e da minha carreira. A cada dia vinha sendo colocado um tijolinho aí nessa medalha de ouro. Passamos por títulos pan-americanos, mundiais, medalhas paralímpicas até esse ouro aqui que com certeza vai ser um marco para o goalball brasileiro e mundial.”

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Leomon, o maior (Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br)

Atacante perigosíssimo, Leomon enaltece a defesa como pilar do título. “Trabalhamos muito bem na defesa. Esse era um projeto nosso de não sofrer muitos gols e foi o que aconteceu. O fundamento do goalball é a defesa, que vai mandar dentro de um jogo. Se fechar e ter uma defesa muito sólida, firme, acaba que os adversários perdem a cabeça, fazem penalidade, então a nossa pressão psicológica é a defesa”, diz. O time sofreu 28 gols, o menos vazado dentre os quatro que jogaram sete vezes. Foi também o que menos perdeu, apenas uma vez. “Tivemos de dar um passinho atrás para ver o que a gente errou, o que precisava evoluir para as próximas partidas e isso foi feito.”

Leomon aproveitou para lembrar a importância que uma medalha de ouro tem para a sociedade em geral, mais ainda para pessoas com deficiência. “A gente sabe que tem várias pessoas que às vezes estão em casa, sem nenhuma informação do que uma pessoa com deficiência é capaz, e esses Jogos Paralímpicos foram bem divulgados. Agradeço a todos os veículos de comunicação que nos deram essa oportunidade de chegar na casa de alguém, que com certeza vê uma esperança na sua vida, vendo a deficiência só como uma limitação, não como uma barreira.”

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Romário, pivô da defesa menos vazada do campeonato (Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br)

O sucessor

Romario e Leomon são duas lendas do goalball. Ao lado deles, Josemarcio Souza, o Parazinho, forma o trio titular com a responsabilidade, cumprida à risca, de manter o nível. “Os caras são feras demais. O Leomon é o melhor do mundo, então eu me inspiro muito nele. Tento me adaptar para me igualar a eles, aguentar o B.O. na ala direita. Graças a Deus posso dizer que estou chegando ao nível deles”, disse o camisa 5, artilheiro dos Jogos Paralímpicos com 26 gols, ao lado do chinês Yang Mingyuan e com um a mais que Leomon. “Minha esposa mandou que eu fui o artilheiro da competição e eu nem sabia, fiquei feliz. Não é uma característica minha ser um goleador e dessa vez fui feliz demais. Eu só tenho a agradecer, todos os atletas são de alto nível, pessoas espetaculares, não tenho palavras para descrever. A emoção é de dever cumprido, que a gente tem um com o outro.”

Parazinho
O artilheiro (Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br)

Alex, Zé Roberto e Emerson

Além dos três titulares, Romário fez questão de enaltecer os três reservas. “Nosso treinamento é muito intenso, a competitividade no dia a dia, a nossa força de vontade, garra, essa vontade de ganhar. No dia a dia, os meninos, o Alex, Zé Roberto, Emerson, é o que nos propicia isso, pra chegar todo mundo junto e conseguir os objetivos”, diz.

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Zé Roberto de Oliveira, importante dizer, é o mais velho do time, tem 40 anos. “A emoção é indescritível. Eu que estive em Londres e no Rio, o tempo todo lutando por essa medalha e até que enfim ela veio. Conseguimos esse tão sonhado ouro para o nosso país”, diz. Emerson da Silva acrescentou que a ficha do ouro dos Jogos Paralímpicos vai demorar um pouco a cair. “Para mim, principalmente, na minha primeira Paralimpíada, ao lado desses caras que são fenomenais.” Alex de Melo completou: “Só posso agradecer a todos e falar que essa medalha é do goalball brasileiro, de todos nós, todo mundo que treina todo dia, as vezes não tem uma condição, trabalha, treina, então todos os que estão envolvidos no goalball estão presentes nesse momento.”

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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