O taekwondo faz em Tóquio sua estreia no programa dos Jogos e o primeiro campeão paralímpico da história é o brasileiro Nathan Torquato, de 20 anos. O atleta da Praia Grande venceu as quatro lutas que teve pela frente para conquistar o título. A final contra Mohamed Elzayat, do Egito, foi uma mera formalidade. Na semifinal, ele sofreu um golpe irregular no rosto do russo Danii Sidorov, teve que ser retirado de maca do tatame, foi para o hospital e, na volta, apenas subiu para a área de competição, mas não lutou, desistindo segundos depois do juiz iniciar o combate.
“O atleta egípcio poderia até ter escolhido voltar para luta porque o médico não deu que tinha sido uma concusão e disse que tinha sido só uma pancada, mas ele realmente estava sem condições de lutar. O que aconteceu ali no tatame foi algo mais formal. Eu sabia que não ia ter luta, só não sei se eu podia falar isso, entendeu?”, deixou escapar Nathan Torquato.
A vitória por desistência na final não tira o brilho da conquista de Nathan Torquato, que fez uma campanha irretocável até chegar na decisão. “(A medalha de ouro) é a mais pura felicidade possível. Não tem outro sentimento que chegue mais próximo do que eu estou realmente sentindo. A ficha ainda não caiu, ela vai caindo aos poucos. Não para acreditar ainda. Acho que só quando abrir o celular e ver as reportagens, aí é que acaba caindo a ficha mesmo, mas é a felicidade e o sentimento de dever cumprido, que tudo deu certo e que os 17 anos no esporte valeram a pena. Eu sou competitivo e queria o ouro de todo o jeito. Graças a Deus deu certo!”, comemorou o atleta, que nasceu com má formação no braço esquerdo e, aos três anos de idade, quando voltava da escola com a mãe, viu uma academia e insistiu com ela até que a convenceu de matriculá-lo. “O que me deixa mais feliz é saber que essa foi a minha primeira Paralimpíada e que eu ainda vou ter muitas pela frente”, acredita o jovem atleta.
A CAMPANHA
O brasileiro estreou no torneio nas oitavas de final contra Parfait Hakizimana, do time de refugiados, e venceu com facilidade por 27 a 4. Nas quartas de final, o adversário foi o japonês Mitsuya Tanaka e o atleta da Baixada Santista deu um verdadeiro show. Ele dominou completamente os três períodos da luta para vencer por 58 a 24.
Na semifinal, Nathan Torquato teve pela frente o italiano Antonino Bossolo, sensação da competição até então por ter eliminado nas quartas de final o cabeça-de-chave número 1, Bolor Ganbat, da Mongólia, campeão mundial em 2014, 2015, 2017 e 2019, por 40 a 28.
Além de ter tirado o favorito da competição, Antonino Bossolo tem em seu currículo o vice-campeonato mundial de 2015 e o terceiro lugar de 2014. Seis anos mais velho do que o brasileiro, o italiano tinha a seu favor o fato de ser mais experiente, com quatro participações em Mundiais, enquanto Nathan Torquato só disputou duas vezes e não passou de um nono lugar tanto em 2017 quanto em 2019.
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Mas o campeão dos Jogos Parapan-americanos Lima-2019 não quis nem saber da diferença de currículo entre ele e o italiano. Nathan Torquato terminou na frente o primeiro período ao fazer 6 a 4. No segundo, no entanto, Antonino Bossolo viu o brasileiro disparar e chegar a 24 a 13.
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No último e decisivo round, Antonio Bossolo marcou oito pontos seguidos no começo do período e diminuiu a diferença para 24 a 21. Nathan Torquato não se abalou e voltou a abrir, chegando a 31 a 23. O italiano fez de tudo para reagir no final, mas o brasileiro soube controlar a luta até fechar com a vitória por 37 a 34.
“A gente sabia que a semifinal seria a luta mais difícil. Se viesse Itália ou Mongólia, seria a luta mais difícil do campeonato. Então, a gente passou bem e deu tudo certo. No segundo round, eu consegui abrir uma vantagem bem grande. A gente tinha algo em mente sobre como ele iria lutar, a gente conhecia o estilo de luta e analisou a luta anterior dele e o que ele fez nessa luta batia com as performances passadas dele. Então, era um estilo que me favorecia. No terceiro round, ele começou a marcar mais ponto porque ele mudou o estilo de luta porque ele é muito bom, muito versátil, mas eu consegui me adaptar a isso e não deixar a vitória escapar”, analisou.
Na outra semifinal, o russo Daniil Sidorov, atual vice-campeão mundial, era o favorito disparado contra o egípcio Mohamed Elzayat e estava mostrando isso no tatame. Ele vencia por 24 a 8 quando acertou um chute no rosto do adversário. O golpe, que vale de três a cinco pontos no taekwondo olímpico, é considerado irregular no paralímpico porque os competidores são amputados de braço ou possuem deficiência nos membros superiores e, por isso, não conseguem se defender.
Quando um chute no rosto acontece, normalmente que o desferiu é punido com a perda de um ponto. Mas o que aconteceu na semifinal foi que Elzayat foi a nocaute e não teve mais condições de seguir na luta. Quando isso ocorre, o outro lutador é desclassificado e assim foi com com Sidorov, que foi considerado o perdedor da luta, enquanto o egípcio saiu de maca e foi encaminhado para o hospital.
Elzayat voltou para a luta final, entrou no tatame como se fosse lutar, mas segundos depois do árbitro iniciar o combate, ele pediu atendimento médico e deixou a área da competição novamente de maca. Depois, voltou novamente, outra vez andando, para receber a medalha de prata ao lado do campeão Nathan. Danii Sidorov, da Rússia, e Mahmut Bozteke, da Turquia.