Tóquio – O Brasil completou a vingança em cima da Lituânia e se classificou para a final dos Jogos Paralímpicos de Tóquio no goalball masculino. O time atual bicampeão do mundo venceu a semifinal disputada na manhã desta quinta-feira (2), pelo horário de Brasília, por 9 a 5. Os europeus, atuais campeões paralímpicos, estavam engasgados na garganta do principal jogador brasileiro, Leomon Moreno, justamente por ter conquistado a medalha de ouro “na nossa casa”. Foi a segunda vitória do Brasil sobre eles na capital japonesa, a primeira foi na estreia, uma sapecada de 11 a 2.
“Vencemos eles muito bem na fase de grupos, mas como era classificatória, não tinha tanta importância igual a uma semifinal. Então ganhar deles em uma semifinal, e bem assim, dá confiança para chegar na final contra a China, que é um grande time também”, disse Leomon, logo após o duelo. “Estamos deixando em quadra todo o nosso treinamento. A gente treinou muito, foram cinco anos de preparação. Tentamos sempre fazer o melhor em quadra, não que eles não façam, mas ultimamente, nos últimos confrontos que temos tido contra a Lituânia, encaixamos nosso jogo contra eles.”
Degrau por degrau
A decisão será contra a China às 7h30 da manhã desta sexta (3). O resultado já iguala a melhor campanha do Brasil no goalball masculino dos Jogos Paralímpicos, medalha de prata em Londres-2012. Perdeu a decisão para a Finlândia por 8 a 1. Quatro anos mais tarde, na Rio-2016, a segunda medalha, um bronze. Naquela ocasião, o time foi derrotado na semifinal para os Estados Unidos por 10 a 1 e venceu a Suécia por 6 a 5 na disputa pelo pódio.
Romario Marques, experiente capitão do time brasileiro, elogiou os próximos rivais. “Os meninos da China são bem equilibrados também, parece bastante com o Brasil. Defensivamente são muito bem equilibrados. Acho que vai ser uma final digna de final. Temos de focar no objetivo, que é a medalha de ouro. Amanhã é um novo dia. A gente veio aqui nessa competição com um conceito. Degrau por degrau. Se colocar a carroça na frente dos bois, não dá. É degrau por degrau, pé no chão, humildade que se Deus quiser a gente consegue esse ouro.”
Romario e Leomon estiveram na decisão contra a Finlândia. “Toda paralimpíada é um aprendizado. Não desmerecendo aquele grupo, mas hoje ele é bem mais jovem, focado. O Leomon como um dos maiores atletas do mundo. O Parazinho em um crescimento. Temos o Alex Melo, um moleque novo que vai desenvolver. O Emerson, Zé Roberto. É uma felicidade para nós, principalmente eu, que estou já há 15 anos na seleção, ver essa molecada brilhando. Eu era atacante, e agora sou pivô, uma posição bastante difícil, mas está dando tudo certo”, disse o camisa 4 que em Tóquio participa da quarta edição de Jogos Paralímpicos, um recorde para o goalball masculino.
Leomon completou: “Londres foi uma grande surpresa até para nós mesmos. Estávamos bem treinados, mas não esperávamos chegar na final. Fomos construindo uma trajetória dentro da competição bem sólida e conseguimos. Não tínhamos tanta experiência. Ficou na nossa conta. De lá para cá, temos passado por vários desafios, semifinais, finais, com gol de ouro, decisões em detalhes. A medalha de bronze no Rio, começamos perdendo de 4 a 0 e conseguimos virar. Essa equipe está bem cascuda para ser campeã. Amanhã a gente vai dar o nosso melhor dentro de quadra, jogar o nosso goalball e deixar tudo nosso dentro de quadra. É o momento de sair com o sentimento de que tudo ficou ali, nada daquele pensamento de ‘se’, ‘se eu tivesse feito isso, se eu tivesse feito aquilo'”.
Campanha
Agora, nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, o Brasil chega na final após fazer uma campanha quase que perfeita, perdeu apenas uma partida. Foi para os Estados Unidos por 8 a 6 no segundo compromisso da fase de classificação. Lá, venceu os outros três duelos. Além dos 11 a 2 sobre a Lituânia, fez 10 a 4 na Argélia e 8 a 3 no Japão. Os anfitriões venceram o grupo nos critérios de desempate e a seleção brasileira saiu em segundo. Na semifinal, a equipe pegou a Turquia e venceu por 9 a 4.
O jogo
A Lituânia abriu o placar logo no primeiro arremesso deles com Genrik Pavliukianec. O Brasil, porém, não se abateu e mostrou muita vibração desde o início. A pouco menos de 10 minutos do fim, Leomon Moreno quase empatou em um arremesso cruzado da esquerda para a direita. Pavliukianec vez grande defesa. O ala esquerda brasileiro quase marcou de novo logo a seguir, atacando o outro lado da meta rival. Nerijus Montvydas desviou e ela beijou a trave. O gol estava perto e a seguir Leomon empatou em um tiro pelo meio.
A seleção brasileira seguiu dando muito trabalho para a defesa dos atuais campeões paralímpicos de goalball masculino. Tanto com Leomon quanto com Parazinho. A 6min56 do fim do primeiro tempo, a virada. Parazinho mandou uma bola venenosa pelo meio e enganou a defesa da Lituânia. Brasil 2 a 1. O domínio era tamanho, novamente com muita solidez na defesa, que o técnico rival pediu tempo. Porém, a 5m16, Pavliukianec ‘achou’ o empate. A seleção teve a chance de voltar à frente segundos depois em uma penalidade cometida pelo mesmo Pavliukianec. Leomon, porém, mandou para fora. A 3min34 do fim Parazinho teve nova oportunidade em penalidade e não desperdiçou. Ele ‘driblou’ o rival na movimentação e arremessou para o gol vazio. Logo a seguir, ainda antes do intervalo, fez duas defesaças em arremessos de Pavliukianec.
Segundo tempo
O segundo tempo começou bem equilibrado, com Leomon vibrando ainda mais e chamando o time para a vitória. A 8min56 do fim, Parazinho ‘ouviu’ o melhor do mundo e fez o quarto em mais uma penalidade lituana. Romário, o pivô da equipe, ampliou logo depois e, em nova infração dos adversários, a seleção brasileira colocou 6 a 2 no marcador com mais um de Parazinho. Faltando 8min15, a final começava a aparecer no horizonte. Tanto que a Lituânia mudou, tirou Genrik Pavliukianec e colocou Marius Zibolis. Porém, Leomon, no arremesso seguinte, meteu o sétimo. Eles ainda ensaiaram uma reação, fieram o terceiro a 6min58 do fim com Zibolis e tiveram uma penalidade a favor logo depois, mas Romário fez uma defesa espetacular com os pés.
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Vendo o sonho do bicampeonato se esvair com o tempo, os lituanos tentaram de tudo. Pediram tempo, mudaram o time, arriscaram arremessos, mas nada abalou a vibração e a confiança de Leomon Moreno, Romario Marques e Josemarcio Sousa, o Parazinho. Pelo contrário, ainda coube mais um gol, o nono, o sexto de Parazinho. E assim os comandados por Alessandro Tosim foram finalizando o prato da vingança, esse muito quente, até o encerramento da partida semifinal do goalball masculino nos Jogos Paralímpicos. A próxima vítima já está na mira. Que venham os chineses.