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Bola da vida de Maciel Santos valeu bronze em homenagem ao mestre Dirceu Pinto

Brasileiro da bocha perdia a medalha até a última bola, quando fez o arremesso que virou o jogo e garantiu o pódio dedicado ao mestre falecido em abril do ano passado

Maciel Santos bocha paralímpica bronze Jogos Paralímpicos Tóquio
(Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br)

Tóquio – Era tudo ou nada aquela bola. Maciel Santos estava perdendo para o tailandês Worawut Saengampa a medalha de bronze da classe BC2 da bocha e tinha apenas mais um arremesso. Olhou para a disposição do jogo na pista, se concentrou, pegou a derradeira bola azul, preparou o lançamento e mandou o tiro. Certeiro! Ela caiu exatamente onde deveria cair e tomou do rival o ponto que desempatou o duelo e fechou o placar em 4 a 3 a favor do brasileiro. Minutos mais tarde, emocionado, dedicou o feito ao próprio mestre, Dirceu Pinto. “O maior campeão paralímpico da história da bocha. Me ensinou tudo o que ele aprendeu. Era impecável. Em 2012 meu propósito era mudar a minha vida e da minha família. Em Tóquio era o Dirceu.”

A disputa na noite brasileira de terça-feira (31) foi em alto nível. Pudera, reuniu o campeão paralímpico de Londres, Maciel Santos, e o tailandês líder do ranking e atual campeão mundial. O brasileiro saiu na frente e fez 3 a 0 após as duas primeiras séries de lançamentos, mas Worawut Saengampa buscou o empate na terceira. Na quarta e última, o asiático posicionou as bolas de uma maneira em que era praticamente impossível reverter o quadro. Mas Maciel conseguiu. ‘Eu não podia deixar escapar. Era a bola da minha vida, só eu poderia mudar aquela situação. Não deu para chegar no ouro, mas essa medalha, com certeza, é para ele, para o Dirceu, para a minha família, meus filhos. Ela vale muito mais do que um ouro”, acrescentou. O mestre Dirceu Pinto morreu de infarte no dia 1º de abril do ano passado.

‘Subiu o nível’

Sobre a diferença entre o que viveu em Londres-2012 e agora em Tóquio-2020, Maciel Santos afirmou que o nível da bocha subiu muito. “Não que naquela época não estivesse alto, mas hoje está muito alto. Você viu, foi na última bola. A minha final paralímpica em 2012 ganhei de 8 a 1. Hoje eu consegui ser medalha de bronze ganhando de 4 a 3. Olha só a diferença. Isso prova o desenvolvimento da bocha. Ela é precisão, é mental, trabalho”, disse. “Espero estar em Paris, espero manter a minha linha de desempenho, indo sempre bem nas competições de nível mundial. Esse é o meu foco e poder chegar em Paris e ganhar a medalha de ouro que eu não consegui aqui.”

Para conseguiu subir o nível junto com a modalidade e permanecer entre os melhores, precisou de “trabalho, trabalho, trabalho. Eu venho estudando ele (Saengampa) junto com a equipe de análise de desempenho na seleção brasileira. Durante todo esse tempo de pandemia, o professor Marcelo, a professora Bianca, toda a equipe em conjunto comigo, professor Paulo, professora Mônica, toda essa equipe trabalhou para que a gente estudasse cada atleta. O Worawut Saengampa é um atleta contra quem eu já joguei muito, então eu vim com uma estratégia preparada para ele e uma delas era colocar a bola mais para o fundo possível. Ele é muito preciso, poucos atletas fazem o que ele fez (na disputa do bronze). Mas toda essa equipe trabalhou e viemos preparados. Deu certo.”

Equipes

Ainda em Tóquio, Maciel Santos vai disputar o torneio por equipes, ao lado de Andreza de Oliveira, José Carlos Chagas, que também ganhou um bronze na noite de terça-feira, e Natali de Faria. Estreiam às 21h30 desta quarta-feira, sempre pelo horário de Brasília, contra Portugal. “A expectativa é muito grande. Nossa equipe é terceira do ranking mundial e ganhou medalha em quase todas as competições. A única que não conseguimos foi no Mundial de 2018, mas fomos até a última bola. Então a nossa expectativa é ganhar uma medalha. Não sabemos a cor, não importa, o importante é trazer mais uma para que o esporte paralímpico cresça, e a bocha muito mais, para que venham novos atletas.”

Maciel Santos bocha paralímpica bronze Jogos Paralímpicos Tóquio
(Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br)

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Inspirar outras pessoas a competir também faz parte do horizonte do brasileiro. “O esporte paralímpico, através do CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro), tem uma ferramenta muito importante que é a Paralimpíada Escolar, um dos maiores eventos mundiais. É pra jovens, pra quem está iniciando. Um trabalho como esse pode trazer muita renovação. (Após ganhar o bronze) vou esperar muita gente, assim como eu esperei em 2012”.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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