Tóquio – Era tudo ou nada aquela bola. Maciel Santos estava perdendo para o tailandês Worawut Saengampa a medalha de bronze da classe BC2 da bocha e tinha apenas mais um arremesso. Olhou para a disposição do jogo na pista, se concentrou, pegou a derradeira bola azul, preparou o lançamento e mandou o tiro. Certeiro! Ela caiu exatamente onde deveria cair e tomou do rival o ponto que desempatou o duelo e fechou o placar em 4 a 3 a favor do brasileiro. Minutos mais tarde, emocionado, dedicou o feito ao próprio mestre, Dirceu Pinto. “O maior campeão paralímpico da história da bocha. Me ensinou tudo o que ele aprendeu. Era impecável. Em 2012 meu propósito era mudar a minha vida e da minha família. Em Tóquio era o Dirceu.”
A disputa na noite brasileira de terça-feira (31) foi em alto nível. Pudera, reuniu o campeão paralímpico de Londres, Maciel Santos, e o tailandês líder do ranking e atual campeão mundial. O brasileiro saiu na frente e fez 3 a 0 após as duas primeiras séries de lançamentos, mas Worawut Saengampa buscou o empate na terceira. Na quarta e última, o asiático posicionou as bolas de uma maneira em que era praticamente impossível reverter o quadro. Mas Maciel conseguiu. ‘Eu não podia deixar escapar. Era a bola da minha vida, só eu poderia mudar aquela situação. Não deu para chegar no ouro, mas essa medalha, com certeza, é para ele, para o Dirceu, para a minha família, meus filhos. Ela vale muito mais do que um ouro”, acrescentou. O mestre Dirceu Pinto morreu de infarte no dia 1º de abril do ano passado.
‘Subiu o nível’
Sobre a diferença entre o que viveu em Londres-2012 e agora em Tóquio-2020, Maciel Santos afirmou que o nível da bocha subiu muito. “Não que naquela época não estivesse alto, mas hoje está muito alto. Você viu, foi na última bola. A minha final paralímpica em 2012 ganhei de 8 a 1. Hoje eu consegui ser medalha de bronze ganhando de 4 a 3. Olha só a diferença. Isso prova o desenvolvimento da bocha. Ela é precisão, é mental, trabalho”, disse. “Espero estar em Paris, espero manter a minha linha de desempenho, indo sempre bem nas competições de nível mundial. Esse é o meu foco e poder chegar em Paris e ganhar a medalha de ouro que eu não consegui aqui.”
Para conseguiu subir o nível junto com a modalidade e permanecer entre os melhores, precisou de “trabalho, trabalho, trabalho. Eu venho estudando ele (Saengampa) junto com a equipe de análise de desempenho na seleção brasileira. Durante todo esse tempo de pandemia, o professor Marcelo, a professora Bianca, toda a equipe em conjunto comigo, professor Paulo, professora Mônica, toda essa equipe trabalhou para que a gente estudasse cada atleta. O Worawut Saengampa é um atleta contra quem eu já joguei muito, então eu vim com uma estratégia preparada para ele e uma delas era colocar a bola mais para o fundo possível. Ele é muito preciso, poucos atletas fazem o que ele fez (na disputa do bronze). Mas toda essa equipe trabalhou e viemos preparados. Deu certo.”
Equipes
Ainda em Tóquio, Maciel Santos vai disputar o torneio por equipes, ao lado de Andreza de Oliveira, José Carlos Chagas, que também ganhou um bronze na noite de terça-feira, e Natali de Faria. Estreiam às 21h30 desta quarta-feira, sempre pelo horário de Brasília, contra Portugal. “A expectativa é muito grande. Nossa equipe é terceira do ranking mundial e ganhou medalha em quase todas as competições. A única que não conseguimos foi no Mundial de 2018, mas fomos até a última bola. Então a nossa expectativa é ganhar uma medalha. Não sabemos a cor, não importa, o importante é trazer mais uma para que o esporte paralímpico cresça, e a bocha muito mais, para que venham novos atletas.”
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Inspirar outras pessoas a competir também faz parte do horizonte do brasileiro. “O esporte paralímpico, através do CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro), tem uma ferramenta muito importante que é a Paralimpíada Escolar, um dos maiores eventos mundiais. É pra jovens, pra quem está iniciando. Um trabalho como esse pode trazer muita renovação. (Após ganhar o bronze) vou esperar muita gente, assim como eu esperei em 2012”.