Tóquio – Foi marcante a feição de Alana Maldonado antes das lutas que determinaram a conquista da sonhada medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Rosto fechado, queixo empinado, cara de brava. Claramente entrava com vantagem psicológica sobre as adversárias, que se concretizava logo no comando de hajime do árbitro, que dá início às lutas de judô. Assim, poucas chances deu para as adversárias, vencendo duas por ippon e a final por waza-ari, praticamente sem correr riscos. Bem diferente da Alana que perdeu a final da Rio-2016. E é ela mesma quem fala.
“Se assistir à entrada da minha final do Rio e aqui em Tóquio. No Rio eu entrei com a cabeça baixa, outra feição. Aqui eu entrei pra cima. Eu queria e falei: ‘ninguém me tira, é meu, eu mando aqui’. Isso faz toda a diferença, quando entra se impondo, queixo para cima, olhando, o adversário sente o peso. Eu também não encarava, olhava para baixo. Agora eu entro olhando no olho, dizendo ‘eu estou aqui, é meu'”, falou, logo após pegar o que era dela no pódio da Budokan neste domingo (29). “A Alana Maldonado de 2021 é outra. O Rio doeu muito perder, mas me fez crescer, evoluir. Eu mudei para São Paulo, treinando junto com a comissão técnica da seleção fez toda a diferença.”
‘Tudo valeu a pena’
Alana Maldonado contra que trabalhou muito nos últimos cinco anos, sentiu a incerteza de que se realmente haveria Jogos Paralímpicos em virtude da pandemia. Conta também que passou por muita coisa na vida pessoal, teve de abrir mão de muita coisa. Destacou uma das mais difíceis. “Eu passei um momento muito difícil com a minha mãe (Patrícia Martins). Ele teve dois cânceres. Fez quimio, rádio e eu não pude estar presente. Só no dia da cirurgia. Não pude acompanhar todo o processo da recuperação. E somos só eu e meu irmão, que é mais novo. Eu queria estar com ela, cuidar, estar presente, mas eu não podia porque eu tinha de treinar. Estava muito próximo de Tóquio em 2020 e eu senti um pouco não poder estar perto deles nesse momento que eles precisavam”, disse. “Mas hoje eu posso dizer que tudo valeu a pena. Realizei o meu sonho e aquelas pessoas que me amam estão muito felizes. Tenho de agradecer primeiramente a Deus, minha família, meus amigos, toda comissão técnica. Esse ouro não é só meu, é nosso. Tem muita gente por trás disso.”
Com a medalha de ouro no peito, a atleta do Time Ajinomoto admitiu que ainda não tinha a dimensão do peso da conquista. “A ficha está caindo aos poucos e eu estou processando. Parece que eu estou sonhando. Ontem a gente tava caminhando na Vila e eu falei: ‘amanhã eu vou caminhar com a minha paralímpica’. Ouvir o hino, a bandeira do país subindo, uma sensação única. Estou muito feliz, muito realizada por esse momento por deixado o meu nome na história do judô”. Mais especial ainda por ter sido na Budokan, a casa do judô no mundo. “A (prata) do Rio e essa vão ser as edições mais especiais. A do Rio por ser em casa, estar com toda a minha família, a torcida vibrando junto comigo. E aqui por ser o berço do judô. Ser campeã aqui é inexplicável. Passa um filme, foram cinco anos, muita coisa acontece”, acrescentou, para depois completar: “Vou defender meu título (em Paris) e ano que vem tem mundial, vou defender também”, finalizou Alana Maldonado, também atual medalha de ouro no último Mundial realizado, em novembro de 2018.
Bronze de Meg
A última brasileira a competir nos Jogos Paralímpicos de Tóquio foi Meg Emmerich. Disputou o bronze e abocanhou a medalha. “É uma experiência que não tem palavras, é muita emoção. Nesse evento tão grande, tão maravilhoso”, disse. “Tem muita história por trás, toda a equipe multidisciplinar, tudo o que a gente passou esse ano, não só esse, para poder chegar aqui e conseguir essa medalha.”
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Meg perdeu a semifinal, o que a levou para a disputa da terceira vaga no pódio. “Eu tava com uma expectativa maior, de buscar a dourada. Na segunda luta acabei não aproveitando. Comecei perdendo, depois empatei e estava com dois shidos a meu favor. Podia ter esperado um pouquinho mais, mas depois foi só focar para conseguir o bronze.” Como fazer isso? “Cada um tem a sua maneira de se concentrar. Depois de uma derrota é difícil focar, zerar tudo o que aconteceu e começar de novo. Eu tiro um momento para mim, fico sozinha, depois eu escuto uma música, faço uma oração. Eu tenho uma playlist que me dá mais energia”, disse.