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Bronze no ‘reino da cegolândia’ foi moldado por Lúcia a partir de 2019

Brasileira subiu para a categoria até 63 quilos após a Rio-2016, não gostou dos resultados e voltou para a até 57, na estaca zero

Lúcia Araújo judô bronze jogos paralímpicos tóquio 2020
Lúcia com a mais nova peça de sua coleção (Takuma Matsushita/CPB)

Tóquio – A primeira medalha do judô brasileiro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio veio na categoria até 57 quilos, um bronze conquistado por Lúcia Araújo, a terceira dela neste peso. Essa, porém, guarda um detalhe especial. Foi construída em cerca de dois dos cinco anos deste ciclo paralímpico. Isso porque depois da Rio-2016, ela decidiu subir para a até 63 quilos. Não gostou do que produziu e voltou em 2019, a tempo, porém, de se reencontrar com o pódio.

“Eu saí do Rio e resolvi subir para o 63. Lutei várias competições até chegar no mundial e lá, pela primeira vez, não ganhei medalha no individual. Ganhei no torneio por equipe (bronze), lutei bem no por equipe, mas no individual, não”. O Mundial a que se refere é o de 2018, disputado em Odivelas, Portugal. Lúcia Araújo perdeu na segunda luta, pelas oitavas de final, para a ucraniana Iryna Husieva, que viria a ser vice-campeã. A brasileira ainda teve uma chance de se recuperar na repescagem, mas uma nova derrota, desta vez para a azeri Khanim Huseynova, tirou dela qualquer chance de medalha. Foi a senha para descer um peso de volta.

Lúcia Araújo judô bronze jogos paralímpicos tóquio 2020
Lúcia em seu habitat natural (Takuma Matsushita/CPB)

“Eu não quero simplesmente estar em uma Paralímpiada. Eu vim para cá querendo ser campeã. Em 2019 eu voltei para o 57 sem ranking, sem nada. Baixei o peso, treinei, me dediquei. Tive alguns problemas de saúde, me recuperei e fui moldando a medalha. O 57 foi moldado de 2019 pra frente”, diz. Agora, nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, Iryna Husieva e Khanim Huseynova fizeram a final do torneio até 63 quilos com vitória para a representante do Azerbaijão. A ucraniana, vale dizer, foi medalhista de prata na Rio-2016, e Huseynova é bicampeã europeia.

‘Reino encantado da cegolândia’

Lúcia Araújo tem toxoplasmose congênita, adquirida por meio de um protozoário que a mãe contraiu na gravidez. A família, por falta de conhecimento, tratava a menina como se ela não tivesse deficiência. Conheceu o judô com 15 anos, por meio dos irmãos mais velhos, mas sempre praticando entre pessoas sem deficiência. Acabava que não conseguia competir bem, ainda antes de encontrar a pegada da rival era derrubada. Um belo dia, conheceu Renata Hermenegildo, atleta do goalball que foi aos Jogos Paralímpicos de Atenas-2004. Foi ela que apresentou o que Lúcia chama de “o reino encantado da cegolândia”.

“Não tem como não dizer a minha vida sem a Renata. Ela me apresentou a associação que eu faço parte, mostrou que existe possibilidade para pessoas com deficiência. Eu tendo baixa visão e ela, sendo cega, tinha uma vida muito mais ativa e independente do que eu. Eu vim me entender como deficiente visual já com 27 anos. E a Renata me mostrou isso. Me mostrou que eu podia fazer o que eu quisesse. Estudar, fazer um esporte, ser independente. O fato de eu ter uma deficiência não era nada”, conta Lúcia, com sua intonação de voz pausada e serena.

Templo sagrado

Lúcia Araújo judô bronze jogos paralímpicos tóquio 2020
No templo sagrado (Takuma Matsushita/CPB)

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Treze anos mais tarde, a paulista de 40 anos – faz aniversário no mesmo 17 de junho de Renata – coloca no peito a terceira medalha da carreira. “Essa tem um valor especial porque eu estou no berço do judô. Ganhar aqui, lutar aqui, na Budokan, com toda a história é um peso muito grande. Eu ia parar no Rio, mas quando terminou a competição, eu disse ‘não’. A gente parou um ano, a ansiedade de estar aqui era muito grande”, completa, minutos antes de tomar um caminho que já lhe é bem conhecido. O do pódio paralímpico, para buscar seu bronze.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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