Há cinco anos, Wallace Santos saiu frustrado com um nono lugar na Paralimpíada do Rio de Janeiro. Mas hoje, nesta sexta-feira (27), ele se tornou o mais novo campeão paralímpico do arremesso de peso e com direito à recorde mundial nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Mas para chegar até aqui, o caminho não foi nada fácil. Ele precisou superar uma “quase depressão” após o falecimento de sua treinadora, Jurema Henrique, e seu tio, ambos vítimas de câncer. Nada mais justo que dedicar o ouro a eles.
“Duas pessoas foram muito importantes: minha treinadora, que esteve comigo desde lá atrás, quando eu era muito magrinho e não sabia pegar o peso… Ela brincava comigo que, no meu primeiro arremsso, eu joguei tão perto que quase acertei meu pé. E infelizmente, devido a um câncer, ela veio a falecer. Mas antes, ela conseguiu fazer com que eu me classificasse para os Jogos de Tóquio. E essa medalha eu dedico a ela. Sem ela, eu não seria o que eu sou hoje, porque desde 2013 ela trabalhou comigo e me fez subir degrau a degrau”, contou ao Olimpíada Todo Dia após a prova.
“E a outra pessoa, que [faleceu] devido a um câncer ,foi meu tio, que era como um pai para mim. Porque quando eu precisei de um pai, ele sempre esteve bem perto. Eu fiquei muito mal, porque acabou juntando o falecimento da minha técnica e passou três, quatro meses e veio o dele… Então fiquei 10 dias praticamente sem sair do quarto, sem querer treinar, sem fazer nada. E a força veio da minha família, minha mãe, minha avó e meu filho”.
Trabalho psicológico
Além da força da família, que foi fundamentaç para a recuperação de Wallace Santos, a ajuda psicológica também se mostrou essencial nessa trajetória, ainda que com apenas um mês de trabalho. Seu novo treinador, Fernando Barbosa, indicou uma profissional para que ele procurasse depois do ocorrido. Mas o atleta só foi até Cecília um mês antes dos Jogos Paralímpicos de Tóquio.
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“Eu demorei a ir e um mês antes de vir para Tóquio eu procurei ela, porque estava ficando muito pesado. Se alguém falasse que eu era feio, já ficava acuado, com medo, triste… Estava quase chegando [na depressão]. Mas não é com um mês que ela ia conseguir fazer um trabalho, que é duradouro. Então ela falou que ia fazer um trabalho de bombeiro para tentar apagar esse fogo e ver no que ia dar. E ela começou a trabalhar comigo visualização, respiração, foco no meu objetivo. Então foquei nisso, visualizei os 12,47m e acabei até passando a marca”, brincou o medalhista de ouro, que fez 12,63m.
Sonho realizado
Hoje, diferente do Rio, Wallace Santos deixa os Jogos Paralímpicos de Tóquio com seu sonho realizado. O David, magrinho, que derrotou todos os Golias para conquistar o lugar mais alto do pódio, com disse sua mãe. E mais do que um sonho individual, é um sonho coletivo realizado, que certamente está sendo bastante celebrado por sua treinadora e pelo seu tio.
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“O sonho não era só meu, era da minha mãe também. Antes da pandemia, ela ia para todos os campeonatos comigo… Então é um sonho de muita gente, do meu filho que ficava me perguntando se eu estava pronto para trazer a medalha de ouro… Foi muito trabalho, muita dedicação e valeu a pena. Cheguei aqui como nono colocado na Rio 2016, na minha casa, e saio daqui como campeão paralímpico e recordista do mundo. É muito gratificante”, concluiu.