Siga o OTD

Tóquio 2020

Bia Ferreira se rende à campeã, mas fica com irlandesa entalada na garganta

Brasileira sai com a medalha de prata após final contra Kellie Harrington, parabeniza e diz que vitória da irlandesa foi merecida. Rival retribui elogios e ambas mostram como se forjam os campeões

Bia Ferreira prata boxe Jogos Olímpicos
(Miriam Jeske/COB)

Tóquio – Impossível não dizer que foi como o esperado, que a prata era o que dava para Bia Ferreira no torneio de boxe dos Jogos Olímpicos de Tóquio. A brasileira veio para a medalha de ouro, talvez a maior esperança do Time Brasil na capital japonesa. Parou na irlandesa Kellie Harrington na final disputada no último dia de competições, madrugada de sábado (7) para domingo (8) no Brasil. Nada a contestar: “ela foi superior, eu tenho de admitir”, disse Bia, sem, porém, resignar-se. “Um atleta que se acostuma com a derrota não é atleta. A gente tem que ser sempre o melhor. Até eu ganhar dela, sim, vai estar entalada.”

Kellie Harrington venceu por unanimidade na somatória dos três assaltos. Os juízes deram 3 a 2 no primeiro e dois 5 a 0 a seguir, sempre para a irlandesa. “Eu não não vi a luta de fora, então não tem como julgar agora, mas eu sabia que tava sendo parelha, um pontinho aqui, um pontinho ali. Ela foi superior, eu tenho de admitir, mas eu acredito que foi um belo combate. Ela acabou usando uma estratégia de anular o meu jogo e eu não consegui mudar”, avaliou uma sorridente, porém chateada Bia Ferreira, minutos após deixar o ringue.

Bia Ferreira prata boxe Jogos Olímpicos
(Miriam Jeske/COB)

Postura do campeão

A seguir, já depois de receber a prata, mostrou que a verdadeira postura do campeão está na derrota. “Tem de ter o respeito. Somos mulheres, somos guerreiras, todo mundo quer ganhar, mas quem ganhou foi o melhor. Temos de aceitar. Um dia a gente ganha, um dia a gente perde. Tenho todo o meu respeito por todas elas, é uma honra estar compertindo com elas”, disse Bia, arrancando aplausos da campeã e de todos presentes na sala onde a entrevista estava sendo concedida. Minutos antes, Kellie, que trabalha como faxineira de um hospital de Dublin, abria a sessão de entrevista comentando sobre a beleza dos Jogos Olímpicos. Em um dado momento, virou para Bia e disse, olhando para a brasileira: “você é fantástica, espetacular, não poderia pensar em uma melhor oponente para estar lá”.

Mesmo sem o tão sonhado ouro, a brasileira do peso leve valorizou a conquista da prata. “Todas nos preparamos para poder subir no alto do pódio. A gente quer ser campeã sempre, mas estou muito contente de estar em um pódio olímpico, é para poucos. A gente está no meio de uma pandemia, teve de manter os treinamentos, fazer muita coisa para estar aqui. Então todo mundo que participou e conseguiu pódio é campeão. E, sim, fiquei triste, mas essa (medalha) é a ‘mãe de todas‘. Ela vai ser a líder das outras. Paris é logo ali e esperamos mudar a cor dela.”

Bia Ferreira prata boxe Jogos Olímpicos
(Rodolfo Vilela/rededoesporte.gov.br)

Espírito Olímpico e Paris

O espírito olímpico realmente tomou contra da Kokugikan Arena, um templo do sumô no Japão que acolheu o boxe na Olimpíada. Ao final da cerimônia de premiação, as quatro medalhistas – a finlandesa Mika Potkonen e a tailandesa Sudaporn Seesondee foram bronze – se abraçaram e parabenizam uma as outras. “Independente de eu não conseguir o ouro, estou muito feliz como todas elas. Consegui ter um ótimo resultado para estar no pódio. Estou levando a prata, ela tá levando ouro, eu acredito que o que a felicidade de todas é a mesma coisa, independente da medalha.”

Bia Ferreira prata boxe Jogos Olímpicos
(Miriam Jeske/COB)

+ SIGA O OTD NO YOUTUBETWITTERINSTAGRAMTIK TOK E FACEBOOK

Ao contrário dos outros colegas da seleção permanente de boxe, comandadas por Mateus Alvez, Bia Ferreira não é muito nova, tem 28 anos. Porém nada que pareça ser um empecilho para voltar aos ringues olímpicos em Paris-2024. “O ciclo de Tóquio fechou, mas esse ano ainda temos o Mundial. Paris? Vamos ver, vou conversar com o meu chefe ali, a gente vai ver fazer a melhor escolha. Mas se depender de mim, vou sim, viu? Quero mudar a cor da medalha”, disse. Só para efeitos de comparação, Mika Potkonen, que perdeu para Bia na semifinal, chegou com 40 anos ao bronze no boxe dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

Mais em Tóquio 2020