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Tóquio 2020

Como boxe brasileiro superou 44 anos de jejum olímpico e se tornou vencedor

Nas últimas três Olimpíadas, boxe brasileiro faturou sete medalhas e se transformou no segundo esporte mais vencedor do país no período

BOXE VENCEDOR Mateus Alves, Leonardo Macedo, Mateus Alves Jogos olímpicos tóquio 2020
Miriam Jeske/COB

Trabalho, organização, dinheiro bem investido e talento! Esses quatro fatores resumem a mudança de patamar do boxe brasileiro. Depois do bronze conquistado por Servílio de Oliveira na Cidade do México-1968, o país ficou longos 44 anos sem pódio. Mas a partir de Londres-2012, o cenário mudou completamente e a modalidade se tornou uma das que mais conquistam medalhas. Com as três ganhas em Tóquio, melhor campanha da história, o esporte chega a sete medalhas nas últimas três Olimpíadas, número inferior apenas ao do judô, que ganhou nove no mesmo período.

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“Isso tudo só é possível por causa da estrutura que o NAR (Núcleo de Alto Rendimento) nos oferece, do dinheiro que o COB (Comitê Olímpico do Brasil) passa para gente e a seriedade da CBBoxe (Confederação Brasileira de Boxe) em buscar resultados. Eu consegui cumprir o plano de treinamento dos últimos quatro anos quase que 100% e os resultados estão aí”, diz Mateus Alves, que há dez anos faz parte da comissão técnica da seleção brasileira. Ele entrou em 2011 como assistente-técnico e virou treinador principal no ciclo para Tóquio-2020. “A gente tem certeza que o processo desse trabalho é que está dando o resultado. Não sou só eu como treinador ou a Bia (Ferreira) ou o Hebert (Conceição) como atleta talentosos. É um processo de trabalho que começou em 2009 e está cada vez está mais maduro”, acredita.

SELEÇÃO PERMANENTE

seleção permanente de boxe
Seleção de boxe em treino no clube Joerg Bruder, em São Paulo (Arquivo Pessoal)

Para Mateus Alves, o grande segredo da evolução do boxe brasileiro está na seleção permanente, que atualmente conta com 25 atletas, 16 homens e nove mulheres. “Até 2008, o boxe brasileiro tinha uma outra gestão, uma outra maneira de fazer boxe, que não cabe a ninguém julgar, mas eles não tinham esse sistema de equipe permanente, que a gestão atual criou para que nós tivéssemos o controle total da preparação e do desenvolvimento dos atletas. A partir disso começaram os resultados em Londres, Rio e agora em Tóquio”.

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Em Londres-2012, o Brasil terminou com o jejum que durava desde 1968 com a medalha de prata de Esquiva Falcão e os bronzes de Yamaguchi Falcão e Adriana Araújo. Na Rio-2016, Róbson Conceição entrou para a história como o primeiro brasileiro campeão olímpico de boxe, feito que pode ser repetido por Hebert Conceição e Beatriz Ferreira, respectivamente, nas madrugadas de sábado e domingo em Tóquio-2020. Além das duas finais, o país assegurou um bronze com Abner Teixeira.

Na seleção permanente, os atletas não precisam se preocupar com nada além de treinar e melhorar o desempenho. A sede é no clube Joerg Bruder, em Santo Amaro, bairro da zona sul de São Paulo, espaço que pertence à Secretaria Municipal de Esportes da capital paulista, onde os pugilistas brasileiros têm à disposição uma academia completa de boxe. Ao lado, fica o NAR, com quem a CBBoxe tem parceria, onde são realizados testes de potência, treinamentos de força e trabalhos na pista de atletismo.

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No dia-a-dia de treinamentos, os atletas contam com o apoio de uma equipe multidisciplinar formada por Mateus Alves e seus quatro assistentes-técnicos, preparador físico, dois fisioterapeutas, massagista, nutricionista, psicóloga e médica.

Os atletas moram em quatro casas alugadas na região pela CBBoxe e um restaurante fornece diariamente todas as refeições para eles. Na parte financeira, os atletas ganham bolsa do governo federal, salário da CBBoxe e ainda fazem parte do programa esportivo das Forças Armadas. Além disso, alguns atletas contam com patrocínios pessoais como é o caso de Beatriz Ferreira, que conta com o apoio de Petrobrás, MRV e Nike.

CAPTAÇÃO DE TALENTOS

Atletas da seleção permanente têm toda a estrutura para treinar em São Paulo

Mas como são escolhidos os atletas para fazer parte da seleção permanente? “A maioria vêm de projetos sociais que são tocados por treinadores de boxe em diversos estados, alguns com apoios de prefeituras e de empresas e outros que fazem com seu próprio dinheiro. Ou é isso ou é através de pais ou mães que lutaram boxe de treinam seus filhos. Ou é família de boxeadores ou projetos sociais”, explica Mateus Alves.

No caso dos sete pugilistas que representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Beatriz Ferreira é o exemplo de quem começou com o pai Raimundo Ferreira, o Sertão. Os outros, Hebert Conceição, Abner Teixeira, Keno Marley, Wanderson Oliveira, Jucielen Romeu e Graziele de Jesus saíram de projetos sociais.

Já a observação para descobrir quem tem talento para fazer parte da equipe permanente começa nos Campeonatos Brasileiros de base. “Quando a gente vê um talento com 15 e 16 anos, a gente começa a acompanhar esse atleta. Quando chega na idade juvenil (17 e 18 anos), a gente faz bases nacionais de treinamento para ver como esses atletas respondem a um treinamento lá na seleção. Se a gente perceber que é um talento diferenciado, a gente já inclui na equipe adulta, mesmo sendo juvenil. Isso aconteceu com o Bolinha (Luís Oliveira, neto de Servílio de Oliveira) e com o Keno Marley, quando eles tinham 17 anos, e está acontecendo agora com um atleta chamado Isaías Filho, que também foi morar com a equipe sendo juvenil”.

PASSO A PASSO

Seleção brasileira de boxe nos Jogos Sul-Americano de Cochabamba-2018 (Arquivo Pessoal)

Para o ciclo de Tóquio-2020, a equipe montada conseguiu um desempenho acima das expectativas. Após os dois primeiros anos, a avaliação era de que apenas Beatriz Ferreira chegaria ao Japão com chances de ganhar medalha. A equipe masculina, muito jovem, estava sendo preparada para Paris-2024, mas o trabalho foi tão bem feito que os frutos vieram antes do esperado com os pódios conquistados por Abner Teixeira e Hebert Conceição.

“Não é do dia para a noite! É Jogos Sul-Americanos, Jogos Pan-Americanos, Mundial, Olimpíada. É uma escada que a gente tem que cumprir com esses atletas e para subir essa escada tem muita perna junto. A gente faz um calendário com dois camps internacionais, dez competições internacionais e temos verba para cumprir esses campeonatos. É o trabalho de muita gente dando condições para que atletas talentososo possam desenvolver e atingir os objetivos esportivos. É uma gestão focada em atingir os objetivos esportivos”, completa Mateus Alves.

O desfecho vai acontecer com as finais olímpicas que serão disputadas por Hebert Conceição e Beatriz Ferreira. Tudo o que tinha que ser feito, já foi. Agora, a missão está nos punhos dos talentosos atletas, orientados por Mateus Alves e sua equipe, para, quem sabe alcançar duas medalhas de ouro para o Brasil.

Fundador e diretor de conteúdo do Olimpíada Todo Dia

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