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Tóquio 2020

Ana Marcela superou tudo para provar a si mesma que é a maior de todas

Aos 29 anos, Ana Marcela Cunha ressalta a maturidade em sua terceira Olimpíada na carreira. Trauma do passado? Conta outra! A sonhada medalha veio em Tóquio

Ana Marcela Cunha - maratona aquática - Jogos Olímpicos - Tóquio 2020 comissão de atletas da Fina

Não é segredo para ninguém que Ana Marcela Cunha, atleta do Time Nissan e do Time Ajinomoto, faz história nas águas abertas há pelo menos uma década. Uma trajetória que começou em Salvador, passou por Santos e hoje toma conta dos mares de Tóquio. Na última terça-feira (03), ela subiu ao pódio olímpico pela primeira vez na vida. A medalha de ouro coroava ali uma carreira brilhante, de muito esforço e dedicação, que naturalmente viveu altos e baixos. Há cinco anos, surgia um trauma no Rio de Janeiro, superado apenas em 2021. Agora, os fantasmas ficaram, enfim, no passado.

Destaque desde cedo, a nadadora despontava como um futuro nome de peso do esporte brasileiro. Fato concretizado. Recebeu a primeira oportunidade em Jogos Olímpicos em Pequim, em 2008, e passou perto do pódio com apenas 16 anos de idade. Na ocasião, fechou com a 5ª colocação geral na prova dos 10km, à frente da compatriota Poliana Okimoto (7º lugar). O gostinho de ‘quero mais’ cresceu para Londres 2012, aumentando as perspectivas e expectativas sobre ela. Por uma posição, não assegurou um lugar na lista das dez classificadas para o evento após a participação no Mundial de Xangai um ano antes.

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“Em 2008, eu era muito jovem, 16 anos. Eu não tinha muita maturidade e nem ideia do que seriam os Jogos Olímpicos. Acho que ainda faltou um pouco de preparação do que seria chegar na Vila, do que seriam algumas coisas. Não temos noção da grandiosidade do que são os Jogos Olímpicos. Em 2012, terminei ficando de fora da seletiva por uma posição.”

A ausência na Inglaterra culminou na ideia de um ciclo perdido, de um período mais longo e duro de preparação pensando no que estava por vir. O objetivo da vez era estar no Rio de Janeiro, em casa, ao lado da torcida. Foi a primeira vez na história em que o país sediou a maior competição esportiva do planeta. Algo tão deslumbrante não precisa nem de maiores definições. Ana Marcela Cunha queria estar lá e esteve. Apagou o decepção com o que aconteceu em 2012, mas uma nova perturbação surgiria em 2016.

Ana Marcela Cunha venceu a holandesa campeã na Rio-2016 e faturou a medalha de ouro na maratona aquática dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020
Ana Marcela Cunha venceu a holandesa campeã na Rio-2016 e faturou a medalha de ouro na maratona aquática dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 (Foto: Jonne Roriz/COB)

Já sendo uma das candidatas favoritas ao pódio, a baiana não realizou o percurso que gostaria. Não conseguiu se alimentar da maneira adequada ao longo do trajeto, ficou para trás e finalizou em 10º lugar na Olimpíada em terras cariocas. À época, considerou o resultado insuficiente depois de quase oito anos de preparação, desde a convocação para os Jogos de Pequim. Não bastasse a cobrança pessoal e individual, fatalmente vieram críticas externas. Trabalhar a parte mental e amadurecer com as experiências. Isso seria fundamental na luta para alcançar o maior sonho.

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“Cada um coloca um nome, mas chamam de ‘frustração’, porque não foi um pódio, não saiu uma medalha para a Ana Marcela. Chegar aqui (em Tóquio) com maturidade, uma consciência, uma ambiação muito maior e muito diferente. Querendo ou não, eu já tenho 29 (anos), vamos criando isso. Mais experiência me trouxe a essa medalha (de ouro). Fazendo uma recapitulação rápida, seria isso. É uma pessoa muito mais madura e consciente do que precisava fazer.”

O tempo serviu também para aliviar a pressão. Ana Marcela Cunha talvez seja a maior atleta de todos os tempos na maratona aquática. No entanto, o fantasma dos Jogos Olímpicos a atormentava. Agora, isso já não existe mais. Ela colecionou vitórias, títulos e medalhas a níveis mundiais e tratou a Olimpíada do Japão da mesma maneira, respeitando e sem esquecer da importância e da grandeza do torneio. O momento em que recebeu a medalha de ouro é extremamente especial, cada segundo foi inesquecível. Depois de tanto batalhar e de tudo que enfrentou até ser recompensada pelo esforço, não tinha como ser diferente. A desilusão foi embora de uma vez por todas.

“Eu cheguei aqui (em Tóquio) sentindo como se eu estivesse em um Campeonato Mundial. E isso foi uma coisa que a gente treina muito, já são anos fazendo isso. Essa sensação de ver a medalha ali, a medalha olímpica, tudo caindo a ficha e realizando… Conseguir fazer isso é uma emoção diferente.”

“Eu acho que você ‘se colocar’ a medalha é algo que nunca aconteceu. Por isso que foi tão lento. “Cara, não é uma pessoa colocando, é você se auto-premiando por tudo que você fez”. Por mais que pareça loucura, parece nada mais digno do que um atleta colocar a medalha ou que o seu técnico colocasse. Não temos esse momento, não vivemos muito isso. Foi um momento ali que eu pude ter para mim. Curti cada segundo que eu tive ali no pódio. Desde a caminhada, chegar no pódio, viver aquele momento, ver a bandeira do Brasil, o hino nacional… Realmente é muito diferente. É completamente diferente de uma etapa de Copa do Mundo, de um Mundial. A emoção é a 1000km/h.”

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