Tóquio – Há dois anos, em Doha, o mundo acompanhou um duelo palmo a palmo para ver quem eram os melhores atletas do arremesso do peso do planeta. Deu Joe Covacs, dos Estados Unidos, com uma marca um centímetro maior do que o compatriota Ryan Crouser, seguido pelo neozelandês Tomas Walsh. Darlan Romani estava lá e até o último arremesso vinha em terceiro, quando foi superado por Crouser e terminou em quarto. O pódio foi praticamente o mesmo nos Jogos Olímpicos de Tóquio, após a final disputada na noite de quarta-feira (4), e Darlan novamente ficou em quarto.
“Se para para olhar, pô, um quarto lugar é ruim em uma Olimpíada? Não é ruim. Olha o tamanho do mundo e a gente é o quarto em uma prova de arremesso de peso. Mas o sonho é maior e eu batalho todos os dias por isso. Eu quero mais isso para a minha vida, da minha família”, disse o brasileiro, muito triste, ao sair do campo do Estádio Olímpico. “A gente sonha, corre atrás. O ano foi difícil pra mim, não queria que fosse assim, mas infelizmente…”, acrescentou.
A marca de Darlan Romani na final dos Jogos Olímpicos foi 21m88, a melhor dele na temporada, registrada logo no primeiros dos seis arremessos que fez. Crouser, atual recordista mundial com 23m37 e único com marcas acima de 23m, fez mais uma: 23m30. Covacs, desta vez, teve de se contentar com a prata, 22m65, e Walsh fez um 22m47 que garantiu o bronze. As marcas da prata e do bronze foram inferiores às das mesmas colocações em Doha, ambas 22m90, e se Darlan tivesse repetido os 22m53 daquela ocasião teria ido ao pódio aqui na capital japonesa.
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Ano difícil
“Ano passado, em março, eu tava treinando super bem, vindo numa temporada a milhão, ia fazer um ano excelente, muito melhor que em 2019. Mas aí entrou a pandemia, tive de operar, peguei covid.” Em 28 de fevereiro deste ano precisou passar por uma cirurgia de hernia de disco que exigiu quatro semanas de recuperação. A seguir, a crise sanitária do coronavírus criou muitas dificuldades pessoais e para o treinamento, inclusive tirando dele o convívio com o treinador, o cubano Justo Navarro. A doença que parou o mundo quase levou o irmão e a mãe. Os médicos chegaram a chamá-lo para ver o irmão em condições bem críticas na UTI. “Minha mãe ficou pior”. Felizmente ambos sobreviveram, mas depois disso foi ele quem pegou a doença. “É difícil”.
A pandemia atrapalhou também a preparação. Primeiro porque o centro de Bragança Paulista fechou e Darlan se viu obrigado a improvisar um local de treinamento em casa, com material emprestado. Como se não bastasse, Navarro precisou voltar para Cuba por conta do falecimento da esposa e até agora não conseguiu voltar por conta de restrições de viagem. “A gente vinha treinando de longe, ele vem ajudando, mandando treino. A gente filma, manda pra ele, ele responde, dá opiniões. Mas não tem muito o que fazer”, conta. “Não é fácil ficar sem treinador, a motivação é diferente. Um dia você não está tão bem, ele fala alguma coisa que você consegue melhorar, acertar, são esses detalhes que fazem a toda a diferença na nossa vida como atleta.”
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Desolado e com poucas palavras para descrever o que estava passando nos Jogos Olímpicos, completou dizendo que vai precisar de uma semana “para colocar a cabeça no lugar. Voltar para o Brasil, ver a minha família. Voltar a treinar normal. Correr atrás. Se eu dava 200%, vou dar 300%, não sei o que tenho de fazer mais. Não quero mais isso para a minha vida, não.”