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Tóquio 2020

Izabela da Silva comemora aniversário na final olímpica do lançamento do disco

Única brasileira presente na prova, ela conta como foi encarar as maiores sendo uma delas e diz que quase morreu em 2015 por conta de um problema de saúde

Izabela da Silva Lançamento do disco Jogos Olímpicos Tóquio
(Wagner Carmo/COB)

Tóquio – Foi no dia em que completou 26 anos que a brasileira Izabela da Silva fez a competição mais importante da vida dela. Disputou a final do lançamento do disco dos Jogos Olímpicos de Tóquio ao lado das onze maiores atletas do mundo na modalidade. Terminou na 11ª colocação com a marca de 60m39, mas saiu de um encharcado campo do Estádio Olímpico, castigado pela chuva, feliz com o que viveu por lá.

“É maravilhoso, foi perfeito quando eu consegui ver que iria para a final. Eu ainda estava me perguntando se realmente eu ia conseguir fazer a final no dia do meu aniversário. Eu tinha de me dar esse presente. Eu consegui e fiquei muito feliz”, disse. Na hora em que estava competindo, como é comum em atleta de alta performance, não se deixou levar pela emoção. “Não pensei que era o meu aniversário, pensei que estava na final e que tinha de dar o meu melhor.”

Campo verde e lindo

Izabela da Silva, ou só Iza, chegou longe dos holofotes, mais centrados nas outras duas brasileiras que disputaram a prova do lançamento do disco nos Jogos Olímpicos. Fernanda Borges e Andressa Morais, ambas desclassificadas na fase eliminatória, estavam mais em pauta muito por conta de uma rivalidade entre ambas e também pelas idas e vindas de problemas com doping. Porém, só a aniversariante avançou até a disputa da medalha. “Na hora da classificação eu não pensei em ninguém, só pensei, ‘gente, esse campo é lindo, maravilhoso, verde, eu não posso apenas lançar 50 metros'”. Acabou fazendo bem mais que isso e mandou o disco a 61m52.

Izabela da Silva Lançamento do disco Jogos Olímpicos Tóquio
Na hora da prova, concentração (Wagner Carmo/COB)

A melhor marca dela é 62m18, cravados no Sul-Americano deste ano em Guayaquil, no Equador. “Se eu tivesse feito isso, teria ficado entre as oito”, diz, referindo-se à parte decisiva na final do lançamento do disco, quando, após três tentativas das 12 competidoras somente as oito melhores têm mais três chances para definir o pódio. Eliminada, permaneceu ali acompanhando as rivais brigarem pela medalha. “Eu queria assistir as melhores. To feliz pela (Valarie) Allman, que ficou em primeiro. A gente disputou um Mundial em 2014”.

É verdade!

Em meio às melhores, comentou como é conviver com as rivais. “É cada uma mais ou menos na sua, todo mundo muito concentrado. Só falei com a portuguesa (Liliana Ca), que me ajudou, porque não sei inglês. Elas são bem na delas, parece que você vai levar uma voadora. Fiquei até com medo de torcer, porque achei que ia apanhar”, diz, obviamente em tom de brincadeira e dando uma gostosa gargalhada. “Essa vivência que eu tive aqui em Tóquio, com as maiores, meus ídolos, foi uma experiência maravilhosa, sério. Eu pensei que ia demorar muito mais.” Ei, mas você também estava entre as maiores! “É verdade, tinha me esquecido”, brinca novamente Izabela da Silva.

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Quase morri!

O sorriso fácil é agora, mas alguns anos antes não era bem assim. Em 2015, uma internação de emergência seguida de cirurgia quase levou a atleta a desistir. “Eu tava viajando para treino na Holanda e comecei a passar mal, tive de voltar antes. Passei mal a viagem inteira e uma mulher do Brasil viu e me deu um remédio. Tava sozinha e voltei apagada. Fiquei uma semana mal, não conseguia comer. Fui no hospital e disseram que era infecção urinária. Esperei mais dois dias e minha namorada falou para a gente ir num médico particular. Cheguei lá, tiveram me carregar de cadeira de rodas. Fui para a cirurgia na hora. Ele (o médico) falou que mais cinco minutos eu tinha morrido, porque infeccionaram todos os meus órgãos. Eu pensei que tinha acabado tudo para mim, demorou um ano e meio para eu me recuperar. Foi difícil”, conta, já bem longe do tom de brincadeira. “Nem sei de onde eu tirei força (para continuar), mas eu vi como uma segunda chance, não podia desistir. Era nova, tinha pessoas me apoiando, contas para pagar.”

Disco e peso

Izabela da Silva conta que sempre praticou esportes. “Fazia futebol, handebol, vôlei, basquete na escola. Aí um professor levou a gente para uma competição de atletismo, me deu o peso e eu arremessei. Comecei a ir bem e o pessoal de São Paulo, o treinador Tide, que faleceu, falou com o meu (na época), João Paulo, que me mandou pra São Paulo. E foi lá que eu comecei. Ele decidiu que eu ia pro lançamento do disco e eu fiquei nas duas.” Acabou deixando o peso de lado porque machucou joelho no ano passado. “Senão eu continuava. Eu tinha 16 metros, era muito bom na época. Agora não é muito, o Brasil está forte no peso. Mais eu pretendo voltar”.

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Ao final do dia duplamente especial, ainda deu tempo de mandar uma mensagem para a namorada, Gabriela Sinhorini, que também é do atletismo, mas do lançamento de martelo. “Gabi, te amo demais, meu amor. Muito obrigado por estar comigo até o final e sempre torcer por mim.”

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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