Luisa Stefani e Laura Pigossi só souberam que participariam dos Jogos Olímpicos uma semana antes da cerimônia de abertura. Após uma série de desistências, elas ficaram com a última vaga para a chave de duplas femininas. Vieram às pressas para o Japão, mas pouca gente, além delas mesmo acreditava que pudessem chegar longe. Mas as duas aproveitaram a oportunidade, derrubaram adversárias consideradas favoritas, superaram uma “facada no peito” e entraram para a história ao conquistar o bronze heroico com uma virada espetacular na decisão do terceiro lugar.
“A primeira coisa que eu falei para a Luisa foi que as últimas iam ser as primeiras e que eu acreditava”, conta Laura Pigossi, que contagiou a companheira com sua confiança. “Estou muito orgulhosa de tudo o que a Laura ajudou a fazer e o que a gente fez juntas essa semana. O nível de tênis que ela trouxe, a energia e a confiança e o acreditar que ela tinha em cada ponto até antes de vir foi o que trouxe a gente até aqui. Eu tenho uma confiança talvez um pouco mais reservada, mas o tanto que a Laura trouxe para este time, confiou, acreditou e chamou para ela a responsabilidade, não só nesse jogo, mas nos outros também é uma coisa incrível, umas coisa para se inspirar, uma coisa que eu vou levar para mim também. Eu aprendi muito essa semana.”, explicou Luisa Stefani.
A epopeia da dupla brasileira começou em grande estilo com três vitórias contra duplas fortíssimas no cenário do tênis mundial. Passaram pelas canadenses Gabriela Dabrowski e Sharon Fichman, que estavam cotadas como as sétimas favoritas, pelas tchecas Karolina Pliskova e Marketa Vondrousova e pelas americanas Jessica Pegula e Bethanie Mattek-Sands. O sonho do ouro, no entanto, acabou na derrota para as suíças Belinda Bencic e Viktorija Golubic na semifinal.
“Infelizmente a gente perdeu o jogo da semifinal, acho que foi bem dolorido. Eu sofri muito, principalmente. Parecia que tinha enfiado uma faca no meu peito para ser bem sincera”, revelou Laura Pigossi. “Realmente a semifinal foi uma pena! Eu acho que o fato de Laura ter ficado tão chateada foi por causa do quanto a gente acreditava que a gente podia levar esse ouro. Era o objetivo desde que a gente qualificou”, conta Luisa Stefani.
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A recuperação para voltar com tudo para a disputa do bronze começou no momento em que elas souberam que a partida não seria na sexta-feira, o dia seguinte da derrota para as suíças. “A gente estava tranquila, chegando na Vila Olímpico. Falei para a gente fazer um vídeo rápido, mas gravar como depois de amanhã porque a gente não jogaria no dia seguinte. Ela falou: ‘A gente não joga amanhã?’ Eu respondi ‘Não’. E aí ela disse: ‘Então eu posso chorar'”.
E Laura Pigossi desabou abraçada com a parceira. “A Lu me ajudou muito a segurar a onda, a me reorganizar por dentro e saber que a gente tinha algo a mais para lutar. Acho que ela simplesmente me apoiou. Não é que ela falou algo. Ela simplesmente me abraçou quando eu falei que precisava chorar. Na verdade, foi bem engraçado porque ela me falou que a gente não jogaria no dia seguinte e aí eu falei para ela que eu precisava chorar e comecei a soluçar de tanto chorar”.
Juntas, elas retomaram a confiança para, na madrugada deste sábado, depois de perder o primeiro set por 6/4 para as russas Veronika Kudermetova e Elena Vesnina, devolver o placar no segundo e levar a decisão para o tie-break. No desempate, as adversárias chegaram a 9/5 e tinham quatro match points para fechar o jogo, mas heroicamente Laura Pigossi e Luisa Stefani marcaram seis pontos seguidos para virar, vencer por 11/9 e conquistar o bronze.
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“Acho que ainda não caiu a ficha. Não tenho palavras ainda para explicar o sentimento. Não consigo acreditar que a gente tem uma medalha olímpica. É uma coisa que eu sempre sonhei e que eu sempre quis, mas quando você consegue, demora um pouco… Enquanto eu não tiver ela no meu peito ainda, esse sentimento vai ficar assim, mas estou muito feliz, estou simplesmente sem palavras”, afirma Laura Pigossi. A medalha só vai ser entregue para a dupla depois da final, que acontece neste domingo, entre as tchecas Barbora Krejicikova e Katerina Siniakova e as suíças Belinda Bencic e Viktorija Golubic.
Quando colocarem no peito a medalha, certamente muita coisa vai passar na cabeça das heroínas do tênis brasileiro. 23.ª colocada no ranking mundial, Luisa Stefani, que joga com a americana Hayley Carter no circuito da WTA, está acostumada com o nível de jogos que enfrentou em Tóquio. Para Laura Pigossi, 188.ª do mundo, que costuma jogar torneios da ITF, foi uma novidade, mas ela tirou de letra.
“Eu sempre acreditei muito em mim. Eu sempre acreditei que eu posso jogar no topo do ranking mundial. Já joguei contra todas essas meninas no júnior. Conheço todas elas! Então, na minha cabeça, elas simplesmente são uma jogadora a mais. Não era ninguém que eu não podia jogar contra. E eu treino em Barcelona com meninas que têm um ranking muito bom. Então, para mim, era entrar e jogar. Eu sabia que eu podia jogar de igual para igual com qualquer uma. O que eu precisava estar mais atenta era em manter o meu nível. Acho que nível eu tenho e o que oscila um pouco é a concentração. Acho que jogando pelo meu país, a concentração está sempre no meu 100%. Acho que é isso que me faz jogar tão bem quando eu estou representando o Brasil”.
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Neste momento, o Brasil certamente se sente muito representado. Luisa Stefani e Laura Pigossi fizeram história, brilharam e agora sonham com dias melhores para o esporte que tanto amam. Querem inspirar como um dia foram inspiradas e, quem sabe, trazer mais meninas para a prática do esporte.
“Nesse aspecto de impactar, eu vi uma foto que mexeu comigo. Uma foto de Minas com todo o pessoal que treina vendo o nosso jogo e torcendo pela gente. Me fez lembrar de quando tinha 12 anos, jogando um Brasileiro e vendo o Guga jogar na tv. Isso realmente mexeu comigo e me fez ver como é jogar pelo Brasil inteiro. Me emocionou ver essa imagem”, contou Laura Pigossi. “Quanto mais crianças, mais meninas a gente tiver jogando, isso é o mais legal do esporte. Quero ver o Brasil crescer, quero ver o tênis crescer”, completou Luisa Stefani.
E um caminho para isso pode ser as duas jogarem mais torneios juntas. “Acho que com certeza a gente vai jogar mais torneios juntas para me ajudar a subir um pouquinho no ranking. Uma mão lava a outra e a gente se ajuda”, acredita Laura Pigossi. O momento, inclusive, não poderia ser mais propício. A parceira de Stefani está machucada e, quem saber, em breve a torcida brasileira possa curtir de novo as duas juntas em quadra para novamente encher o país de orgulho.