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Tóquio 2020

Bronze que fecha a tripleta foi o mais difícil e o mais gratificante, diz Mayra

Judoca se diz ‘exaltada de felicidade’ com a terceira medalha olímpica seguida e conta qual a diferença dessa conquistada em Tóquio para a primeira, de Londres

Mayra Aguiar judô medalha de bronze Tóquio
(Júlio César Guimarães/COB)

Tóquio – São onze anos entre o começo e o fim do caminho que colocou Mayra Aguiar como a primeira mulher brasileira a conquistar três medalhas olímpicas em esportes individuais. Tempo suficiente para a gaúcha aprender a desfrutar mais daquilo que ama, mesmo tendo de superar dificuldades que cruelmente foram impostas a ela em boa parte da carreira, mas especialmente nesse último ciclo. Quando tudo terminou em um final feliz na noite japonesa desta quinta-feira (29), manhã do mesmo dia no Brasil, ela disse estar “exaltada de felicidade” com mais uma medalha de bronze e pronta para tentar transformar a tripleta em uma quadra.

“Hoje tenho uma consciência muito maior do que é o judô, do que é o esporte. Sou mais leve fazendo o que faço. Eu botava uma pressão gigante em mim. Ainda boto, me cobro bastante, mas consigo aproveitar mais. Minha mãe sempre fala: ‘te diverte, faz o que tu ama’. Eu amo judô, amo esporte, então tento curtir. A Mayra é mais experiente, é mais forte mentalmente e é mais alegre também”, falou, minutos após deixar o pódio na Nippon Budokan, em Tóquio. “Olimpíada é o grande feito do esporte, então é o mais importante, onde todo mundo tá de olho. Ainda não caiu a ficha, mais uma medalha olímpica. São três. O gostinho que tá agora é o melhor que eu já pude viver no meu momento olímpico. Poder competir em casa (na Rio-2016) e hoje, na casa do meu esporte, que é o Japão. Estou exaltada de felicidade.”

A mais gratificante

Nenhuma medalha vem com facilidade no esporte de alto rendimento, ainda mais se for uma de Jogos Olímpicos. Mas o caminho de Mayra Aguiar foi ainda mais complexo. Afirma que sofreu demais com a falta de condições de treino durante a pandemia da covid-19 e, como se não bastasse, sofreu uma lesão gravíssima de ligamento no joelho esquerdo menos de um ano antes dos Jogos que a obrigou a passar pela sétima cirurgia da carreira e a ficar parada por muito tempo. “Chegar aqui é a parte fácil. Toda a dor, dor mental. Todo mundo competindo e tu tá em casa tratando. Foi bem difícil porque são ondas. Agora vai, agora não vai, agora vai. O importante é que eu não desisti nos momentos eu ruins, nem me exaltei nos momentos bons. Conseguir manter o foco do objetivo que eu tinha e trilhar. Por tudo o que eu passei, (essa medalha) foi a mais difícil de ter vivido. E a mais gratificante também”.

O desfecho final foi sacramentado quando a rival da disputa pelo bronze, a sul-coreana Yoon Hyunji, ficou de costas no tatame, à mercê da brasileira. Mayra Aguiar deu o bote por cima e pregou a adversária, conseguindo uma imobilização pelo tempo suficiente que garantiu a vitória por ippon. Bronze por ne waza, a chamada técnica de solo. Descontraída, contou o que passava na sua cabeça quando viu que a asiática estava completamente dominada. Contou o que deu para contar. “Não dá para falar aqui, é feio. Mas é tipo, ‘não vou sair daqui.. nem a pau'”, disse dando bias risadas. “Tipo isso”. A eficiência da imobilização, ou osaekomi, veio da arte marcial prima do judô. Treinamentos de jiu-jitsu com o Sensei Moacir. “Foi muito importante para mim, eu perdia muita luta no chão e hoje eu ganho uma medalha olímpica no chão. Eu lembrei das frases dele falando: ‘empurra o quadril, quadril pra baixo, sempre pra baixo’. Deu certo e eu fico muito feliz com isso. Era muito difícil de eu ganhar uma luta no chão.”

Mayra Aguiar - Tóquio 2020
(Julio César Guimarães/COB)

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Três anos passam rápido

Ali acabou mais um belo capítulo do judô, e do esporte, brasileiro escrito com tintas de bronze pela, talvez, maior judoca da história do país. E ao que parece no pós Tóquio ainda tem espaço para mais algumas páginas, a serem preenchidas daqui a três anos, em Paris. “Eu quero muito. Voltei dessa cirurgia e fiquei sete, oito meses sem competir. Fiquei muito fora dos tatames de competição e sinto muita falta. Das viagens, de tudo, até dos perrengues. Tirar peso…fiquei de TPM agora, essa semana, para tirar peso é a pior coisa do mundo. Incha, foi horrível. Poder passar por esses momentos me deu um gás de pensar que dá mais, dá para chegar. São três anos, passa rápido, eu to com muita gana de competir. Então vocês podem esperar que eu vou estar lá (Paris) incomodando todo mundo pra buscar mais uma medalha.” Depois dessa noite em Tóquio, é heresia duvidar de Mayra.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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