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Tóquio 2020

‘O difícil está lá no passado, hoje eu vivo um sonho’, diz o rei do surfe olímpico

Italo Ferreira volta a lembrar a dona Mariquinha, avó que faleceu antes de ele conquistar o mundo e o Olimpo, cita amigos e aponta que ‘ganhou’ o ouro após vencer a semifinal do surfe

Italo Ferreira campeão Jogos Olímpicos Tóquio 2020 surfe
(Jonne Roriz/COB)

Tóquio – Quando um atleta atinge o auge da carreira, alcança um feito que muitas vezes nem ele mesmo foi capaz de sonhar, quase que invariavelmente as memórias relatadas estão ligadas às dificuldades no longo e tortuoso caminho até o sucesso e nas pessoas que o apoiaram, em geral familiares e amigos de infância. Pode-se dizer que é o discurso de campeão. Não foi diferente com Italo Ferreira, o primeiro surfista da história a chegar no Olimpo do esporte ao sagrar-se campeão dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Logo após pegar a medalha, ainda com ela no peito, ele acrescentou mais uma versão à fala dos vencedores.

“Vêm muitas memórias, a minha família, minha vó, que já se foi e que eu queria que estivesse aqui para ver como eu estou crescendo no esporte e como pessoa, ajudando quem está a meu lado. Claro que é uma conquista impressionante para a minha carreia, mas como pessoa é mais importante. Olhar para trás para ver de onde eu vim, com quem eu cresci. Aqueles que estavam ao meu lado em todos os momentos. Estar vivendo tudo isso é a parte mais tranquilo, a mais difícil está lá no passado. Era acreditar, perseverar. Hoje eu vivo um sonho. Tenho que aproveitar cada oportunidade”.

A vó, Dona Maria, ou apenas Mariquinha, é sempre a primeira ser saudada por Italo. “Minha vó foi maior figura. A gente sempre brincava, zoava um o outro, ela sempre me dava forças e quando eu voltada de campeonatos a primeira coisa que eu fazia era mostrar o troféu para ela. Quando eu fui campeão do mundo eu levei o troféu lá no quarto dela, ela não tava (havia falecido já), mas continuei o ritual e vou levar a medalha no quarto dela. Foi uma pessoa que eu realmente aproveitei muito, só tenho boas memórias, então ela deve estar muito orgulhosa lá de cima.”

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Marcos, Rudá e os anônimos

Dona Mariquinha preencheu boa parte das linhas descritas pelo campeão dos Jogos Olímpicos. Mas não foi só ela. “Os meus amigos que sempre estavam surfando comigo logo cedo, me incentivando, falando o que estava errado, o que estava certo, quando eu ‘quebrava’ eu ‘quebrava’, quando eu surfava mal eles falavam”, diz. Um deles segue com Italo Ferreira até hoje e estava na beira do mar para ajudar a trocar a prancha, que quebrou logo na primeira onda que o potiguar pegou na final, e também para recebê-lo e carregá-lo nos ombros segundo depois de vencer o japonês Kanoe Igarashi na decisão. “O Marcos, um moleque que cuida a minha vida hoje. Eu dou graças a Deus de ter conhecido quando eu tinha 14 anos, no Espírito Santo, quando fiquei sem hotel e ele me levou para a casa dele no unozinho. Depois me levou no shopping, no aeroporto, e hoje trabalha comigo. Tenho uma equipe 100% deixando todos os meus detalhes certos. Eu só preciso entrar na água e fazer o que eu amo”.

Outro foi Rudá Carvalho, um ex-surfista profissional que estava nos Jogos Olímpicos como treinador da também brasileira Silvana Lima. “Eu disse: ‘Rudá, vamos levar essa medalha para o Nordeste, ele é da Bahia, de Salvador. Ele me deu uma força incrível esses dias, falava a real mesmo e sempre de homem para homem, olho no olho, falava umas paradas que me deixa bem motivado”, revela Italo Ferreira. “Falava que eu era o melhor surfista, que toda vez que eu entrava eu me destacava, pegava as melhores ondas, mandava as melhores manobras. Ajudou bastante”.

Italo Ferreira campeão Jogos Olímpicos Tóquio 2020 surfe
(Jonne Roriz/COB)

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‘Já era’

O título de campeão, claro, saiu somente após a vitória na final. Formalmente. Na prática, o caminho ruim ao Partenon dos atletas ficou sem volta após a semifinal, contra o australiano Owen Right. Foi um bateria apertadíssima, onda a onda, vencida por Italo Ferreira por 13,17 a 12,47. “Foi um drama, uma bateria difícil, e quando eu passei para a final eu falei ‘já era’, aquilo ali me deu um combustível a mais, sem dúvida.” Ele acrescentou que tinha tentado manobras grandes, mas caiu imaginando que iria completar. Então arrisquei muito. Quando estou na água, não tenho muito controle, tento sempre fazer o melhor e em alguns momentos podia ser mais calmo, usar só uns 80% e passar as baterias, que foi o que eu fiz contra o Kanoa. Fiz um surfe normal, razoável, achei as ondas, botei pressão”, completa.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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