Tóquio – É do brasileiro Italo Ferreira a primeira medalha de ouro história do surfe em Jogos Olímpicos. Ele bateu o japonês Kanoa Igarashi na final de Tóquio-2020 disputada na praia de Tsurigasaki, em Chiba, costa leste do Japão, que recebeu todo o histórico torneio. A modalidade passou a integrar o programa olímpico agora na capital japonesa. De quebra, é ainda a primeira medalha de ouro do Time Brasil este ano. “Muito feliz. Foi um dia incrível, especial, trabalhei muito para isso e acreditei. É incrível”, disse, minutos após sair da água.
O último dia do campeonato foi disputado entre a noite de segunda (26) e a madrugada de terça (27) do Brasil, a partir das quartas de final tanto do masculino quanto do feminino. Gabriel Medina chegou até a disputa do bronze, mas perdeu para o australiano Owen Wright por míseros 0,21 pontos. Silvana Lima foi eliminada pela tetracampeã mundial Carissa Moore, dos Estados Unidos, nas quartas de final. A norte-americana sagrou-se campeã no feminino, seguida pela sul-africana Bianca Buitendag e pela japonesa Amuro Tsuzuki.
Italo foi melhor que Igarashi durante toda a final e somou 15,14 pontos, divididos em um 7,77 na quinta onda e um 7,37 na décima, para ficar com a medalha de ouro. O japonês consegiu apenas um 3,83 e um 2,77, fechando com 6,60. Ao final da bateria, o brasileiro vibrou muito e, aos prantos, foi recebido com muita festa pelo integrantes do Time Brasil ainda na praia. Wright derrotou Medina por 11,97 a 11,77.
“Eu vim com uma frase pro Japão: ‘Diz amém que o ouro vem’. E veio. Eu acreditei até o final. Eu treinei muito os últimos meses. Deus realizou meu sonho. Só tenho agradecer a Deus, em primeiro lugar. Por me dar a oportunidade fazer o que eu amo, ajudar as pessoas e minha família. [choro]. Eu queria que minha avó estivesse vivo pra ver o que me tornei. Meu nome está escrito na história”, acrescentou Italo, para a TV Globo.
Dona Mariquinha
A avó, dona Mariquinha, foi muito lembrada pelo medalha de ouro. “Vem a minha família, a minha avó, que já se foi e que queria muito que ela estivesse aqui vendo o que estou fazendo. Fazendo o meu esporte, crescendo como pessoa e ajudando aqueles que estão ao meu lado”, disse. “Essa é uma conquista incrível para a minha carreira como profissional, mas no pessoal é ainda mais importante: olhar pra trás, ver da onde vim, com quem cresci, aqueles que estavam ao meu lado e acreditaram em todos os momentos. Acho que a parte mais difícil era lá no passado: acreditar, perseverar, treinar. Hoje só vivo um sonho e tenho que aproveitar cada oportunidade”.
O brasileiro falou também sobre a competição. “É sempre um desafio. Sabemos que vamos entrar e fazer o nosso melhor, mas no meio do caminho tem diversas barreiras que precisamos superar, acreditar até o final. Realmente foi um campeonato diferente. Todos os atletas chegaram aqui imaginando que teríamos ondas pequenas e, uma semana antes, vimos o tufão, vieram as ondas de 1,5 m e 2 m na série, o que era totalmente diferente do que eu tinha imaginado. Competir é sempre um desafio, ainda mais no mar. Não temos controle. A parte boa é que tem muita oportunidade e você se mexe bastante, pega muita onda, coloca o adversário na pressão sempre, vai criando boas notas… e é bom competir assim, gosto de competir dessa maneira. Foi um evento especial, sem dúvida.”
Semifinal polêmica
Antes da briga pela medalha de ouro, Gabriel Medina fez uma das semifinais contra o mesmo Igarashi. O brasileiro começou como de praxe e saiu pegando todas as ondas que pode, apostando em aéreos. Em poucos minutos, e quatro dropadas, já tinha cravado 16,76 deixando o japonês em uma situação difícil, precisando de mais de 9 pontos para virar a disputa. Quando faltavam cerca de três minutos, Igarashi conseguiu um aéreo que recebeu 9,33 e garantiu a vitória. A nota foi muito contestada nas redes sociais, por anônimos e gente do ramo (leia abaixo no post e nos comentários). Por outro lado, especialistas ouvidos pelo site Surto Olímpico foram unânimes em não enxergar favorecimento.
Quartas de final
Medina abriu o dia dos brasileiros em meio a um mau tempo causado pela passagem de um tufão pela costa leste do Japão. Ele enfrentou o francês Michel Bourez. Mar difícil, grande, mas parecendo um liquidificador. A primeira boa onda foi a quinta das 13 que pegou. Marcou um 6,33. Duas depois, um 9,00 que selou a classificação para a semifinal. Bourez conseguiu um 6,73 e um 6,93, essa última a três minutos do fim.
Depois de Medina foi a vez de Italo Ferreira enfrentar o japonês Hiroto Ohhara. O campeão mundial começou logo com um baita aéreo cravando 9,73 que, sozinho, já bastaria para a classificação. Ohhara fechou a bateria com 8,00 pontos, divididos em um 5,17 e um 2,83. Tranquilo, o potiguar foi aumentando a pontuação devagarzinho e amassando o rival. Acabou com 16,30 pontos. Vale dizer que a nota do Italo é a maior do campeonato e também da história dos Jogos Olímpicos, já que esta é a primeira vez que a modalidade integra o programa olímpico.
Surfe como uma garota!
Silvana Lima tinha a missão mais difícil, também pelas quartas de final, mas do feminino. Pegou Carissa Moore, dos Estados Unidos, atual bicampeã mundial, cinco vezes vencedora do circuito da WSL e atual líder do ranking mundial. Surfou bem, mas não achou a onda que precisava e acabou eliminada com 14,26 a 8,30 na bateria.
“Comecei bem o evento, mas infelizmente hoje não deu. Gostaria muito de ter chegado na final ou até a uma medalha de bronze, mas não foi dessa vez. Estou feliz e orgulhosa por ter chegado aos Jogos Olímpicos, e o pensamento agora é continuar treinando, pois estou na minha melhor fase, mesmo aos 36 anos. Estou me sentindo bem, confiante, e agora tenho todo o suporte que estou tendo com meus patrocinadores, da minha família e da minha namorada”, disse, emocionada, na saída do mar. “É um orgulho poder mostrar o surfe brasileiro. O surfe feminino merece muito apoio e depois desses Jogos tudo pode mudar, como vem mudando. Agora é pensar nos próximos eventos e bora para cima. Este é o melhor evento do mundo, é onde o mundo inteiro está te acompanhando e vai te conhecer e conhecer a realidade do surfe. Então é um sentimento maravilhoso para nós, que somos surfistas.”
Caminhada
Silvana Lima foi a primeira brasileira a disputar uma prova no surfe dos Jogos Olímpicos, competindo na rodada de estreia contra a australiana Stephanie Gilmore, a francesa Pauline Ado e Anat Lelior, de El Salvador. Ficou em segundo lugar, atrás de Gilmore, e foi direto para as oitavas. Lá, a brasileira passou pela portuguesa Teresa Bonvalot e se colocou entre as oito melhores do surfe feminino dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Medina e Bourez já haviam se enfrentado antes das quartas de final desta terça-feira. Formaram bateria na primeira rodada com o alemão Leon Glatzer. O português Frederico Morais seria o quarto atleta da disputa, mas testou positivo para a Covid-19 e acabou retirado. Carlos Munoz, da Costa Rica, foi chamado para o lugar dele, porém não teve tempo hábil de se apresentar. Medina e Bourez ficaram em primeiro e segundo lugares, respectivamente, e seguiram direto para as oitavas. Lá, Medina derrotou o australiano Julian Wilson e chegou nas quartas.
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Italo também já tinha se encontrado com o adversário das quartas na primeira bateria. Ele, Ohhara, o italiano Leonardo Fioravanti e o argentino Leandro Usuna. O brasileiro atual campeão mundial venceu a bateria e, ao lado do japonês, passou direto para as oitavas de final onde enfrentou e venceu o neozelandês Billy Stairmand.