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Tóquio 2020

Italo leva 1º ouro do surfe nos Jogos e sobe ao Partenon das lendas olímpicas

Brasileiro faz história nas ondas de Tsurigasaki Beach e traz para o Brasil o primeiro ouro da modalidade e também da Tóquio-2020; Medina fica em quarto lugar

Italo Ferreira Surfe Jogos Olímpicos de Tóquio
Italo é o primeiro ouro da história dos Jogos no surfe (Jonne Roriz / COB)

Tóquio – É do brasileiro Italo Ferreira a primeira medalha de ouro história do surfe em Jogos Olímpicos. Ele bateu o japonês Kanoa Igarashi na final de Tóquio-2020 disputada na praia de Tsurigasaki, em Chiba, costa leste do Japão, que recebeu todo o histórico torneio. A modalidade passou a integrar o programa olímpico agora na capital japonesa. De quebra, é ainda a primeira medalha de ouro do Time Brasil este ano. “Muito feliz. Foi um dia incrível, especial, trabalhei muito para isso e acreditei. É incrível”, disse, minutos após sair da água.

O último dia do campeonato foi disputado entre a noite de segunda (26) e a madrugada de terça (27) do Brasil, a partir das quartas de final tanto do masculino quanto do feminino. Gabriel Medina chegou até a disputa do bronze, mas perdeu para o australiano Owen Wright por míseros 0,21 pontos. Silvana Lima foi eliminada pela tetracampeã mundial Carissa Moore, dos Estados Unidos, nas quartas de final. A norte-americana sagrou-se campeã no feminino, seguida pela sul-africana Bianca Buitendag e pela japonesa Amuro Tsuzuki.

Italo foi melhor que Igarashi durante toda a final e somou 15,14 pontos, divididos em um 7,77 na quinta onda e um 7,37 na décima, para ficar com a medalha de ouro. O japonês consegiu apenas um 3,83 e um 2,77, fechando com 6,60. Ao final da bateria, o brasileiro vibrou muito e, aos prantos, foi recebido com muita festa pelo integrantes do Time Brasil ainda na praia. Wright derrotou Medina por 11,97 a 11,77.

Italo Ferreira Surfe Jogos Olímpicos de Tóquio medalha ouro
(Jonne Roriz / COB)

“Eu vim com uma frase pro Japão: ‘Diz amém que o ouro vem’. E veio. Eu acreditei até o final. Eu treinei muito os últimos meses. Deus realizou meu sonho. Só tenho agradecer a Deus, em primeiro lugar. Por me dar a oportunidade fazer o que eu amo, ajudar as pessoas e minha família. [choro]. Eu queria que minha avó estivesse vivo pra ver o que me tornei. Meu nome está escrito na história”, acrescentou Italo, para a TV Globo.

Dona Mariquinha

A avó, dona Mariquinha, foi muito lembrada pelo medalha de ouro. “Vem a minha família, a minha avó, que já se foi e que queria muito que ela estivesse aqui vendo o que estou fazendo. Fazendo o meu esporte, crescendo como pessoa e ajudando aqueles que estão ao meu lado”, disse. “Essa é uma conquista incrível para a minha carreira como profissional, mas no pessoal é ainda mais importante: olhar pra trás, ver da onde vim, com quem cresci, aqueles que estavam ao meu lado e acreditaram em todos os momentos. Acho que a parte mais difícil era lá no passado: acreditar, perseverar, treinar. Hoje só vivo um sonho e tenho que aproveitar cada oportunidade”.

Italo Ferreira Surfe Jogos Olímpicos de Tóquio medalha ouro
(Jonne Roriz / COB)

O brasileiro falou também sobre a competição. “É sempre um desafio. Sabemos que vamos entrar e fazer o nosso melhor, mas no meio do caminho tem diversas barreiras que precisamos superar, acreditar até o final. Realmente foi um campeonato diferente. Todos os atletas chegaram aqui imaginando que teríamos ondas pequenas e, uma semana antes, vimos o tufão, vieram as ondas de 1,5 m e 2 m na série, o que era totalmente diferente do que eu tinha imaginado. Competir é sempre um desafio, ainda mais no mar. Não temos controle. A parte boa é que tem muita oportunidade e você se mexe bastante, pega muita onda, coloca o adversário na pressão sempre, vai criando boas notas… e é bom competir assim, gosto de competir dessa maneira. Foi um evento especial, sem dúvida.”

Semifinal polêmica

Antes da briga pela medalha de ouro, Gabriel Medina fez uma das semifinais contra o mesmo Igarashi. O brasileiro começou como de praxe e saiu pegando todas as ondas que pode, apostando em aéreos. Em poucos minutos, e quatro dropadas, já tinha cravado 16,76 deixando o japonês em uma situação difícil, precisando de mais de 9 pontos para virar a disputa. Quando faltavam cerca de três minutos, Igarashi conseguiu um aéreo que recebeu 9,33 e garantiu a vitória. A nota foi muito contestada nas redes sociais, por anônimos e gente do ramo (leia abaixo no post e nos comentários). Por outro lado, especialistas ouvidos pelo site Surto Olímpico foram unânimes em não enxergar favorecimento.

Quartas de final

Medina abriu o dia dos brasileiros em meio a um mau tempo causado pela passagem de um tufão pela costa leste do Japão. Ele enfrentou o francês Michel Bourez. Mar difícil, grande, mas parecendo um liquidificador. A primeira boa onda foi a quinta das 13 que pegou. Marcou um 6,33. Duas depois, um 9,00 que selou a classificação para a semifinal. Bourez conseguiu um 6,73 e um 6,93, essa última a três minutos do fim.

Depois de Medina foi a vez de Italo Ferreira enfrentar o japonês Hiroto Ohhara. O campeão mundial começou logo com um baita aéreo cravando 9,73 que, sozinho, já bastaria para a classificação. Ohhara fechou a bateria com 8,00 pontos, divididos em um 5,17 e um 2,83. Tranquilo, o potiguar foi aumentando a pontuação devagarzinho e amassando o rival. Acabou com 16,30 pontos. Vale dizer que a nota do Italo é a maior do campeonato e também da história dos Jogos Olímpicos, já que esta é a primeira vez que a modalidade integra o programa olímpico.

Surfe como uma garota!

Silvana Lima tinha a missão mais difícil, também pelas quartas de final, mas do feminino. Pegou Carissa Moore, dos Estados Unidos, atual bicampeã mundial, cinco vezes vencedora do circuito da WSL e atual líder do ranking mundial. Surfou bem, mas não achou a onda que precisava e acabou eliminada com 14,26 a 8,30 na bateria.

“Comecei bem o evento, mas infelizmente hoje não deu. Gostaria muito de ter chegado na final ou até a uma medalha de bronze, mas não foi dessa vez. Estou feliz e orgulhosa por ter chegado aos Jogos Olímpicos, e o pensamento agora é continuar treinando, pois estou na minha melhor fase, mesmo aos 36 anos. Estou me sentindo bem, confiante, e agora tenho todo o suporte que estou tendo com meus patrocinadores, da minha família e da minha namorada”, disse, emocionada, na saída do mar. “É um orgulho poder mostrar o surfe brasileiro. O surfe feminino merece muito apoio e depois desses Jogos tudo pode mudar, como vem mudando. Agora é pensar nos próximos eventos e bora para cima. Este é o melhor evento do mundo, é onde o mundo inteiro está te acompanhando e vai te conhecer e conhecer a realidade do surfe. Então é um sentimento maravilhoso para nós, que somos surfistas.”

Caminhada

Silvana Lima foi a primeira brasileira a disputar uma prova no surfe dos Jogos Olímpicos, competindo na rodada de estreia contra a australiana Stephanie Gilmore, a francesa Pauline Ado e Anat Lelior, de El Salvador. Ficou em segundo lugar, atrás de Gilmore, e foi direto para as oitavas. Lá, a brasileira passou pela portuguesa Teresa Bonvalot e se colocou entre as oito melhores do surfe feminino dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Medina e Bourez já haviam se enfrentado antes das quartas de final desta terça-feira. Formaram bateria na primeira rodada com o alemão Leon Glatzer. O português Frederico Morais seria o quarto atleta da disputa, mas testou positivo para a Covid-19 e acabou retirado. Carlos Munoz, da Costa Rica, foi chamado para o lugar dele, porém não teve tempo hábil de se apresentar. Medina e Bourez ficaram em primeiro e segundo lugares, respectivamente, e seguiram direto para as oitavas. Lá, Medina derrotou o australiano Julian Wilson e chegou nas quartas.

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Italo também já tinha se encontrado com o adversário das quartas na primeira bateria. Ele, Ohhara, o italiano Leonardo Fioravanti e o argentino Leandro Usuna. O brasileiro atual campeão mundial venceu a bateria e, ao lado do japonês, passou direto para as oitavas de final onde enfrentou e venceu o neozelandês Billy Stairmand.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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