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Tóquio 2020

Mãe, sensei Yuko e Cristiano Ronaldo marcam história do bronze de Cargnin

Brasileiro dedica medalha para Ana Rica, diz que a insistência da Sensei técnica da seleção masculina foi fundamental e revela que frase do astro do futebol ajudou após derrota na semifinal

Daniel Cargnin bronze Jogos Olímpicos
A primeira a gente nunca esquece (Gaspar Nóbrega/COB)

Tóquio – Foi um dia muito intenso para o brasileiro Daniel Cargnin o domingo (25). Lutou pela primeira vez em um tatami olímpico, chegou perto da grande final na lendária Budokan, caiu diante de um gigante japonês e levantou a tempo de buscar um lugar no pódio do judô na Olimpíada. Ainda em meio ao carrossel de emoções e já com a medalha de bronze dos Jogos Olímpicos no peito, mostrou que tem uma conexão especial com a mãe, valorizou o trabalho da treinadora da seleção masculina, Yuko Fujii, e revelou que uma frase do astro do futebol Cristiano Ronaldo o ajudou na hora mais decisiva do dia.

Daniel Cargnin conta que assim que venceu a luta do bronze, sobre o israelense Baruch Shmailov, conseguiu pensar apenas em duas coisas. A primeira foi na mãe, Ana Rita, que, por sinal, foi lembrada diversas vezes na entrevista que deu assim que viveu a cerimônia de premiação. “Eu liguei para a minha mãe, para minha irmã. Eu sempre penso nas pessoas que me amam, que gostam de mim independente do resultado. Eu senti que ela tava comigo e isso me ajudou muito. Sempre foi muito guerreira”, disse. “Eu tinha um propósito, eu me sentiria tranquilo em voltar para casa dando algo concreto por tudo o que ela fez por mim”, acrescentou. “Falei para ela que se eu medalhasse, seria nossa, mas se perdesse, também seria nossa”, brincou.

A mãe também foi lembrada por outra passagem da carreira, na vitória no Grand Slam de Brasília. “Eu tava meio machucado e foi o meu melhor Grand Slam até hoje”. Ela estava lá depois de muito tempo sem vê-lo lutar. “Eu sabia que a presença dela tinha dado um diferencial”. Por fim, mostrou que nem a distância impediu Ana Rita de cumprir com louvor o árduo trabalho de cuidar das proles. “Ela tinha até feito um mercado, comprou uns negócios, limpou tudo e me mandou para eu ter a melhor alimentação”, relembra com muito carinho nas palavras.

Sensei Yuko e Kitadai

Daniel Cargnin bronze Jogos Olímpicos
Margvelashvili, Abe, An e Cargnin, o pódio da até 66kg do judô (Breno Barros/rededoesporte.gov.br)

A outra coisa que lembrou ao deixar o tatami onde conquistou o bronze foi um treino que fez na Itália com a sensei Yuko Fujii, técnica da seleção brasileira masculina de judô. “Eu tava muito mal, apanhando muito. Daí, um dia, eu cheguei no quarto, liguei o chuveiro, comecei a chorar no banho e pensei em desistir. A sensei nunca desistiu. Eu tomava pau e ela falava que tinha treino mais tarde. Tomava mais pau e ela dava mais treino. Quando medalhei (agora em Tóquio) eu olhei para ela e lembrei desse momento”.

Outro mentor que o ajudou foi Felipe Kitadai, bronze em Londres-2012. Daniel Cargnin conta que em uma conversa, o companheiro de judogui disse para ele aproveitar “cada segundo dentro do tatame, porque tu não sabe se tu vai ter outra Olimpíada. Essa dica me ajudou muito. Cada segundo, em vez de estar cansando, eu estava aproveitando. Eu queria ficar o mais tempo que eu pudesse no tatame”, contou. “Sempre tive um sonho de medalhar em Tóquio e veio numa Olimpíada. Estou muito feliz por isso. Muito feliz do processo, com meus amigos, todo mundo me ajudou muito.”

Cristiano Ronaldo

Daniel Cargnin bronze Jogos Olímpicos
Abraço com a sensei Yuko Fujii (Breno Barros/rededoesporte.gov.br)

Um desses momentos que esteve no tatame, porém, não foi como ele gostaria. Na semifinal, acabou derrotado pelo japonês Abe Hifumi, que entrou como maior aposta para o ouro e acabou confirmando o favoritisitmo. “Quando eu perdi a semifinal, eu cheguei na área de aquecimento, não sabia o que sentir. A disputa de terceiro você vai do céu ao inferno muito rápido. É um bronze ou um quinto, que fica aquele gosto amargo. Aí eu botei um vídeo do Cristiano Ronaldo dizendo assim: ‘se tu não acreditar, pode não ser. Mas se tu não acreditar, quem vai?'”. Sobre o duelo contra Abe, foi bem claro nas palavras. “Eu sabia que seria uma luta dura, só que eu saí feliz porque em nenhum momento eu baixei a cabeça. Eu ficaria chateado se em algum momento eu tivesse perdido porque eu não acreditei.”

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Para chegar na semifinal, passou pelo italiano Manuel Lombardo, que chegou aos Jogos Olímpicos como vice-campeão mundial, campeão europeu e número um do mundo. “A única vez que a gente tinha lutado eu ganhei. Tentei criar alguma coisa na minha cabeça para me motivar. Ele sabia que eu já ganhei dele. No começo da luta, ele sempre dá um toque em baixo. E ele não fez, tinha alguma coisa diferente, pelo menos respeitando um pouco. Eu vi aquilo como um momento para pensar na luta. Ele é conhecido por ser um cara mais tranquilo, mais confiante. Se quebrasse a confiança dele já seria meio caminho andado para a vitória. Deu certo.”

Daniel Cargnin bronze Jogos Olímpicos
Duelo contra Abe (Gaspar Nóbrega/COB)

Sonho era realidade

Daniel Cargnin contou também que quando saiu da luta que lhe rendeu o pódio não sabia o que estava acontecendo direito. “Uma vez, uns anos atrás, eu vim lutar um Grand Slam aqui (em Tóquio). Eu perdi e sonhei que ganhei, aí acordei e fiquei muito feliz. Agora eu pensei: ‘nossa, será que eu sonhei de novo'”? Aí eu falei: ‘não, não, não.'”. Aos 23 anos, o primeiro medalhista do judô brasileiro na Tóquio-2020 tem muito pela frente ainda, com possibilidade de participar de mais algumas edições de Jogos Olímpicos. “Se eu acreditei e cheguei no bronze, posso acreditar mais para chegar no ouro.”

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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