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Tóquio 2020

Nova geração do triatlo vem para derrubar recorde de duas décadas

Vittoria Lopes, Luisa Baptista e Manoel Messias falam em superar resultados brasileiros mais expressivos em Jogos Olímpicos, registrados na estreia da modalidade, em Sydney. Condições climáticas são grande desafio

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Vittoria, Luisa e Manoel (esquerda) foram ouro no revezamento misto no Pan-Americano, junto com Kauê Willy (Reprodução/Instagram/arquivo)

Tóquio – O Brasil chega para a Olimpíada de Tóquio com uma equipe novinha em folha no triatlo. Vittoria Lopes, Luisa Baptista e Manoel Messias vêm para competir pela primeira vez, os três nas duas provas individuais, masculina e feminina. Eles querem chegar chegando e, mesmo diante de condições climáticas bem desafiadoras, confiam na preparação comandada pelo técnico português Sérgio Santos para superar os melhores resultados do país nos dois naipes, ambos obtidos em Sydney-2000, ano em que a modalidade estreou no programa dos Jogos.

O desafio é grande. A competição na Austrália foi de longe a melhor do Brasil até aqui. Sandra Soldan fechou a feminina em 11º lugar, o melhor do país até hoje, e Leandro Macedo foi 14º, o segundo melhor. De lá para cá, os representantes brasileiros quase sempre estiveram na segunda metade da lista de classificados. Em Atenas, Leandro foi 31º e Mariana Ohata fechou em 37º entre 50 competidores. A partir de Pequim o número de participantes subiu para os atuais 54 e, lá, Juraci Moreira Junior foi o 26º e Ohata caiu duas em relação à Grécia. Em Londres, um 30º de Pamella Oliveira e um 36º de Reinaldo Colucci e, no Rio, Pamella fechou em 40º e Diogo Sclebin, em 41º.

“Com certeza o resultado da Sandra é uma das coisas que me motiva bastante, porque já faz 21 anos. Praticamente quando eu nasci ela fez esse resultado. Claro que eu não penso só nisso, penso como a prova vai se desenhar, o quanto eu quero estar lá na frente, mas com certeza é uma das minhas maiores motivações”, diz Vittoria Lopes, medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, atrás apenas do ouro de Luisa Baptista. “A gente sempre mira lá em cima, mas eu acredito que bater esse resultado (11º lugar de Soldan) é algo bem possível. Tanto eu quanto a Vittoria fizemos um bom evento-teste. É muito possível e um objetivo. Vou entrar na prova pensando em deixar tudo de mim para saber que eu fiz a melhor prova dentro do que eu poderia fazer”, afirma Luisa.

Manoel Messias fala abertamente em medalha na Olimpíada de Tóquio: “Minha meta pessoal é a meta de todo mundo. Ir para os Jogos e fazer um bom resultado. Falando em colocação, é a medalha. A gente sempre mira lá na frente, mas eu quero chegar lá e desempenhar um bom resultado. Se eu passar a linha de chegada satisfeito com o meu resultado, vou ficar bem feliz independente da minha colocação”, disse. O triatleta também esteve em Lima e foi prata na prova individual. Os três, mais Kauê Willy, venceram o revezamento misto nos Jogos Pan-Americanos.

Condições assustaram

Há quase dois anos, os três experimentaram um pouco do que vão encontrar agora na Olimpíada durante o evento teste de triatlo em Tóquio, competição que simula as condições da prova olímpica e serve de norte para a preparação. “A gente priorizou a preparação no calor, visando as condições que a gente encontrou no evento-teste em Tóquio, que realmente deixou todo mundo meio assustado. Tava muito quente e muito úmido”, disse Manoel Messias, que, na ocasião, não completou a prova. Vittoria Lopes e Luisa Baptista não só acabaram, como em boas colocações: quarta e 12ª, respectivamente. Vale dizer, porém, que a prova feminina, realizada sob forte dia de sol, teve reduzida pela metade a parte da corrida – de 10km para 5km. A masculina, quase que toda sob céu nublado, não teve o percurso alterado. Ambas, porém, sob temperaturas rondando os 30°C.

Diante do que encontraram, montaram a preparação, cuja reta final foi no Havaí para Messias e Luisa. “Foi uma boa escolha para se preparar melhor, ficar melhor adaptado ao calor. A gente acertou a mão no lugar. Além de ser o berço do triatlo. Tem lugares que a gente só conseguia ver em vídeo e a gente consegue passar de bike hoje. É muito legal. Os treinos têm ido bem, a gente está bem adaptado ao calor e vamos lá fazer em Tóquio o que a gente treinou aqui”, disse Manoel Messias, referindo-se ao Ironman, clássica prova de triatlo disputada na ilha do Pacífico. “Tem sido uma experiência bem bacana. Além dos ganhos fisiológicos e também de horário, deu uma renovada. A gente está no berço do triatlo e isso vai ser, com certeza, muito positivo para os Jogos”, acrescentou Luisa Baptista.

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Vittoria Lopes está em Boulder, cidade localizada no estado do Colorado, Estados Unidos, onde treinou com a seleção dos Estados Unidos, que estará na capita japonesa. “Hoje foi o último dia de treino mais ‘longuinho’. Estou me sentindo super bem, feliz de irmos para o Japão e competir depois de dois anos, praticamente, de espera. Acredito que eu fiz um trabalho bem bacana, o grupo fez um trabalho bem forte aqui e agora é apresentar na prova”. A comissão técnica optou por mantê-la junto do grupo habitual, próxima ao treinador e mantendo a rotina por mais tempo possível. Os dois lugares têm em comum as altas altitudes, onde os três vão permanecer o máximo possível, descendo para o nível do mar somente às vésperas da viagem para o Japão, marcada para o dia 20. Treino na altitude é quase uma regra para atletas precisam de altos níveis de resistência fisiológica, pois o organismo sofre adaptações que favorecem o transporte de oxigênio dando, consequentemente, ganho de condicionamento.

Estratégia para a Olimpíada

Chegando a Tóquio, no dia 21, faltarão poucos dias para o grande dia na Olimpíada, quando colocarão em prática toda a estratégia definida em busca de, finalmente, derrubar os resultados de Sandra Sondan e Leandro Macedo. Cada um a seu modo. “A Luisa, a Vittoria e o Manuel têm características completamente diferentes”, explica o treinador da seleção Sérgio Santos. O português explica que para Vittoria favorece natação, então a ideia é que ela, que também tem um pedal muito forte, possa abrir após essas duas modalidades antes de iniciar a corrida. “Em relação à Luisa, que tem nadado de forma sempre muito equilibrada e tem tido um pedal também muito forte, já existe uma estratégia de tentar descer da bicicleta o mais à frente possível.”

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“Não vai ser uma corrida tão rápida. Não porque os atletas não queriam correr rápido, mas a hora que vão correr, aproximadamente oito da manhã, já vai estar muito calor e muito úmido, se forem reproduzidas condições do evento teste. Vai ser uma corrida muito condicionada por isso. Vai ser mais desgastante e mais lenta”, diz Sérgio Santos. Já Manoel Messias, acrescenta o treinador, “tem uma corrida de nível mundial. Sabe perfeitamente que se conseguir nadar aquilo que tem nadado ultimamente, e ele teve uma evolução muito grande, eu creio que efetivamente poderá disputar a medalha da qual ele falou”.

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“A estratégia é bem clara. Tentar juntar o máximo possível lá na frente, o quanto antes, para ter um desgaste menor possível para sair para correr e tentar fazer a corrida que eu sei que eu tenho. Sair para correr no bloco da frente e tentar fazer uma das melhores corridas”, diz o brasileiro. Luiza diz que a ideia é tentar nadar o mais à frente, deixar a menor distância possível na bike e saber que tem de ter uma corrida forte, porém consciente. “Uma corrida, na casa dos 35 (minutos) vai ser vencedora. O calor vai influenciar demais e a gente sabe que as meninas que saírem muito mais rápido podem pagar o preço no final. É uma estratégia mais conservadora na corrida, mas na natação e na bike tem de deixar tudo para tentar estar mais à frente possível”. Vitória concorda. “Tem de ter uma natação bem forte, a bicicleta vai ser um pontos mais decisivos e a corrida vai ser de resiliência”.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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