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Tóquio 2020

Irlandesa é o foco, mas Bia não baixa a guarda para conseguir ‘zerar o joguinho’

Boxeadora brasileira, um dos grandes nomes do país nos Jogos Olímpicos, vê Kellie Harrington como uma das principais rivais rumo ao ouro, porém não a única

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Bia Ferreira durante treino na base de Ota (Rafael Bello/COB)

Tóquio – Até os Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, a rival que não saia do foco da boxeadora Bia Ferreira era Rashida Ellis. A representante dos Estados Unidos havia cometido a audácia de derrotar a brasileira meses antes e pagou o preço de entalar na garganta de Bia. Foi derrotada tanto naquele Pan quanto no Mundial disputado também em 2019. Agora, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a presa da vez é a irlandesa Kellie Harrington, atleta com quem nunca trocou golpes nos ringues. Porém, não é a única. Bia sabe que para garimpar o ouro que tanto persegue no boxe terá de encarar todas as adversárias da mesma maneira na categoria até 60 quilos.

A baiana de Salvador tem 28 anos e é filha de Raimundo Ferreira, o ‘Sergipe’, bicampeão brasileiro de boxe. Acumula nada menos do que 28 pódios em 29 competições desde 2017, com apenas cinco derrotas em mais de uma centena de lutas. Fora isso, 40% das vitórias foram pelo chamado RSC, como se fosse o nocaute. Além do Mundial e do Pan, é atual bicampeã do Strandja Memorial, tradicionalíssimo torneio disputado na Bulgária, campeã do Feliks Stamm, da Polônia, do Grand Prix Usti, na República Checa, e da Cologne Boxing World Cup, na Alemanha. Falta apenas o ouro olímpico para completar a coleção ou, como gosta de dizer, “zerar o joguinho”.

“A Beatriz vem em um desenvolvimento muito rápido nas questões de números desde que começou na equipe olímpica permanente do Brasil. Ela foi chamada em 2016 para ser a sparring da Adriana Araújo, que era a nossa medalhista olímpica, e já nos primeiros meses foi notada uma característica, principalmente na potência e na força dos golpes. O que diferenciava ela das meninas dos 60 quilos”, explica Mateus Alves, técnico da seleção, acrescentando que já naquela época, mesmo em início de desenvolvimento, Bia já conseguia se equiparar a Adriana, dona de um bronze em Londres-2012.

Maior Rival

Kellie Harrington, com 31 anos, também tem um baita cartel. Foi campeã mundial em 2018 e vice em 2016, sendo esta prata conquistada uma categoria acima da que compete agora. Assim, foi a primeira atleta irlandesa a medalhar em duas categorias diferentes em campeonatos mundiais. No ano de 2019, quando Bia Ferreira praticamente não encontrou quem a pudesse vencer, Harrington sofreu uma lesão no pulso, o que a deixou fora de combate inclusive do mundial vencido pela brasileira. Agora em 2021, porém, voltou com força e foi a campeã da forte seletiva europeia para os Jogos Olímpicos.

“Realmente a gente tá colocando a irlandesa como a maior rival. Ela é uma atleta alta, que joga com as duas guardas, tanto destra como canhota, boxeia tanto na meia-longa distância, movendo para trás, quanto o boxe para frente. Não tem uma curta distância muito boa, que é o nosso diferencial, mas é uma atleta bem perigosa. Fez um Mundial excelente em 2018, vencendo algumas atletas que eram favoritas na época”, analisa Mateus.

Dubois, Yeonji, Kaur, Potkonen e, claro, Rashida

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Bia destaca-se pela mão pesada (Rafael Bello/COB)

A irlandesa, porém, não é a única atleta no caminho de Bia Ferreira. A jovem britânica Caroline Dubois, de 20 anos, também está no radar da comissão técnica brasileira. Ela fez a final da seletiva olímpica europeia contra Harrington. Outra rival é a sul-coreana Oh Yeonji, de 30 anos, terceira colocada no Mundial de 2018 derrotando a brasileira na segunda rodada no único torneio em que Bia não foi ao pódio. É primeira atleta daquele país a ser campeã asiática, em 2018. Mateus e Bia estão de olho, ainda, na indiana Simranjit Kaur, 26 anos, bronze no Mundial de 2018, mas uma categoria acima, até 64 quilos. A finlandesa Mira Potkonen, apesar dos 40 anos, não foi descartada, pois foi medalhista olímpica de bronze na Rio-2016. Rashida, é bom dizer, está no torneio de boxe de Tóquio.

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Toda avaliação das adversárias é feita pela comissão técnica. Claro que Bia Ferreira participa do processo, mas claramente o negócio dela é no tablado. Quando questionada sobre as rivais em Tóquio, não titubeia. “Todas são minhas adversárias. Todas são um perigo e eu estou esperta para todas. Eu nunca enfrentei (a irlandesa), admiro muito, gosto do estilo de boxe e estou pronta. Se for para acontecer (o combate com ela), vai acontecer e vai ser um espetáculo enorme para a galera”, fala, com a confiança de sempre. Já em Tóquio, afirma que está “sendo tudo muito mágico. Eu visualizei várias situações aqui, enquanto a gente estava na pandemia, e estou tentando aproveitar ao máximo, com foco, cada segundo para aprimorar. Para quando chegar lá na minha vez de estar mostrando o espetáculo sair tudo certo”. E a pressão, Bia? “Eu fico feliz que tem um bocado de gente que confia no meu trabalho, eu não levo como pressão, só levo como uma força a mais. Eu sei o motivo que eu treinei, onde eu quero chegar.”

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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