O esporte é feito de ciclos. Com o passar do tempo, quem um dia já foi promessa, vira veterano e passa o bastão para a nova geração, fazendo a engrenagem girar. E é exatamente este momento pelo qual passa a natação brasileira. Depois de passar em branco nas piscinas na Rio-2016, o Brasil vai a Tóquio-2020 com uma seleção jovem e renovada, com nomes como Guilherme Costa, Fernando Scheffer e Murilo Sartori, que conversaram com o Olimpíada Todo Dia sobre esse período de transição.
Aos 22 anos, Gui Costa, o Cachorrão, foi um dos principais destaques da seletiva olímpica, conquistando o índice nos 400m, 800m livre e 1500m livre. Aos 23, Scheffer garantiu vaga nos 200m livre e no revezamento 4x200m livre, que terá também Murilo Sartori, com apenas 18 anos, o mais novo da seleção.
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“É muito importante essa renovação, de subir uma geração mais nova e ter esse contraste com os atletas mais velhos e mais experientes. A gente acaba tendo uma troca e isso faz a gente crescer cada vez mais. Fico muito feliz de estar nessa geração forte que está subindo, e ver meus colegas de categoria fazendo resultados expressivos a nível mundial. Isso só ajuda a gente a querer crescer e fazer o melhor pelo nosso time e pelo nosso país”, destacou Fernando Scheffer.
“Acho muito legal isso. Se pegar a média [de idade] da outra seleção e dessa, essa está muito mais nova. E eu tenho grande prazer em fazer parte dela. Esse para mim é o ideal da seleção, ter pessoas experientes e outras menos. Essa troca é muito boa para todo mundo, e o aprendizado e o convívio vão ser muito bacanas”, concordou Murilo Sartori.
Potencial em evolução
Apesar de terem conquistado os índices, o potencial desta nova geração ainda está em evolução. E segundo Felipe Domingues, técnico de natação e head coach da Oxygen, tudo vai depender de como eles vão lidar com a pressão, destacando outros nomes como Vinícius Lanza, principal nadador de borboleta do Brasil, Breno Correia, Beatriz Dizotti e outros.
“A transição acontece naturalmente. Essa passagem para a elite é excelente, mas é importante ver como eles vão evoluir daqui para frente, porque agora vai ter uma pressão maior. Então temos que ver como eles vão lidar com isso. Mas a nossa seleção está bem homogênea, é um time muito bom vindo aí. E agora é importante os mais velhos ajudarem os mais novos nessa transição”.
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E nesse primeiro desafio, os atletas corresponderam bem, apesar de os tempos terem ficado aquém do que eles podem fazer, já que tiveram o desafio de competir em uma seletiva única, em meio à pandemia.
“Essa última temporada teve muita incerteza, principalmente nas semanas anteriores à seletiva… A gente chegou a ficar sem piscina para treinar, tivemos que improvisar para seguir 100% no planejamento. E chegou um ponto que a gente nem sabia se teria seletiva. Então quando a gente teve esta confirmação, poder estar lá competindo, dando nosso melhor dentro da água e vendo que o sonho [da vaga olímpica] se concretizou… Foi um momento muito especial e um sentimento muito marcante”, contou Fernando Scheffer.
Realizando o sonho
E falando em sonho, é exatamente o que realizaram Guilherme Costa, Fernando Scheffer e Murilo Sartori. Com menos de 25 anos, eles vão participar de Tóquio-2020, sua primeira Olimpíada, e o momento não poderia ser mais especial.
“Em 2016 eu bati na trave e esse ano deu certo! Eu lembro que desde que nadei a seletiva do Rio, já voltei a treinar pensando em Tóquio. Então são cinco anos de treinos e com certeza é o melhor momento da minha carreira. Eu senti que valeu a pena todo o esforço, tudo que eu treinei. E acho que eu precisava disso para mostrar que eu estou no caminho certo”, comemorou Guilherme Costa.
“É uma sensação muito estranha, porque é uma coisa que a gente sonha desde pequeno. Eu via os grandes atletas nadando na televisão e sonhava com esse momento, me imaginava no lugar deles. E a sensação de estar realizando esse sonho de criança, a gente não consegue nem colocar em palavras. Não tenho dúvidas que, lá na frente, vamos olhar para trás e ver que tudo realmente valeu a pena. E que tivemos a recompensa de tudo que abdicamos para fazer o que a gente ama”, exaltou Fernando Scheffer.
Expectativa para Tóquio-2020
Pouca idade, mas expectativa alta. Com os pés no chão, a nova geração vai a Tóquio-2020 querendo surpreender. No caso de Guilherme Costa, é a chance de se consolidar como o principal fundista do Brasil atualmente.
“A expectativa para Tóquio é muito alta e não tenho problema em falar disso. É o que eu quero fazer. Não estou pensando só na medalha, é uma prova de cada vez, mas eu quero brigar por ela. Principalmente nos 400m e 800m, acho que tenho condição. Sei que preciso melhorar algumas coisas, que quando eu conseguir melhorar, tenho certeza que vou brigar pela medalha”.
No caso de Murilo Sartori, é a oportunidade de participar do maior evento esportivo do mundo com apenas 18 anos, pegando experiência para o futuro. E no caso de Fernando Scheffer, é a chance de obter mais um resultado expressivo e colher os frutos de um trabalho bem feito.
“Eu sempre quis ir para uma Olimpíada, mas nunca tinha pensado que seria com 18 anos, nem nos meus melhores sonhos. Então fico muito feliz de ter essa oportunidade. E por mais que eu vá com 18 anos e seja o mais novo, minhas expectativas não são só chegar lá e participar. Eu quero fazer grandes coisas em Tóquio-2020”.
“Não gosto muito de pensar em tempos nem colocações, porque acho que é muito limitantes e dependem de coisas que a gente não pode controlar. A gente pode controlar o que podemos fazer. Então minha expectativa é treinar muito forte e conseguir aplicar tudo que eu treinei, os melhores fundamentos, as melhores técnicas, estratégias, e fazer a minha melhor prova, de toda a minha carreira. E tudo que vier disso vai ser consequência. E se tudo der certo, vai vir coisa boa. Vamos torcer”.