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Tóquio 2020

‘Super-Homem’ do atletismo, Felipe dos Santos quer dar trabalho em Tóquio

Representante do Brasil no decatlo, Felipe dos Santos superou diversos obstáculos na vida e sonha em estar entre os grandes no decatlo em Tóquio

Felipe dos santos decatlo
(Wagner Carmo/CBAt)

“Oi, eu sou o Felipe dos Santos do decatlo”. Foi assim que o único atleta do país classificado para os Jogos Olímpicos de Tóquio na modalidade abriu a sua participação na live com o Olimpíada Todo Dia em parceria com o Tik Tok. Mas e ai, o que é o decatlo? 

Na disputa do decatlo, cada um dos participantes da prova participantes disputa uma corrida de 100m, salto em distância, salto em altura, lançamento de peso, lançamento de disco, lançamento de dardo, salto com vara, corrida de 1500m, corrida de 400m e corrida de 110m com barreira, em dois dias. A cada prova o atleta soma pontos e ao fim das dez provas o competidor que tiver mais pontos é o vencedor. Ou, como Felipe dos Santos definiu, “é preciso ser o Super-Homem do atletismo”. 

Na conversa com o OTD, Felipe contou como foi sua trajetória até Tóquio, como chegou no decatlo, o que já enfrentou no esporte e como conseguiu mudar sua vida e realizar um o sonho da mãe aos 18 anos.

O pior e o melhor momento da carreira até Tóquio 

A vida de um atleta é feita de metas, objetivos, conquistas e dores. Com Felipe dos Santos não foi diferente. No ciclo de Tóquio, o atleta passou pelo pior momento da sua carreira. Em 2018, Felipe teve uma ruptura total do tendão de aquiles do pé direito. Machucado, o atleta teve mais uma dificuldade. Seu clube acabou encerrando as atividades e o desemprego bateu à porta. 

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Com esse cenário, Felipe dos Santos não esconde que pensar em parar com tudo e desistir do esporte lhe ocorreu, mas uma pessoa específica evitou. “Eu não parei por causa da minha esposa. A Tania (atleta do salto triplo) foi uma peça muito importante. Eu estava com muitas dores, faltava o apoio, eu não via como seguir. Um dos meus principais objetivos era voltar a andar”.

Felipe dos Santos
Felipe dos Santos comemora a vaga olímpica no decatlo Foto: Wagner Carmo/CBAt

Em pouco mais de um ano Felipe dos Santos não só voltou a andar como passou a trotar, correr e a volta para as competições se confirmou no fim de 2019, quando ficou com a prata no Brasileiro. “Ali eu vi que conseguia competir sem dor e percebi que poderia tentar o índice”. 

Com a pandemia da Covid-19, Felipe ganhou mais tempo de preparação no pós lesão. Com a volta das competições, no fim de 2020, o foco passou a ser o índice olímpico, que veio no Troféu Brasil, em dezembro. “Eu lembro que eu fui para São Paulo falando que voltaria com o índice. Foi parte do objetivo alcançado, agora eu quero dar trabalho no Japão”. 

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Onde tudo começou

Convenhamos que o decatlo não é uma modalidade muito usual do dia a dia do grande público. Quando se fala em atletismo, as provas rápidas ou as maratonas são as disputas que vem de maneira mais rápida na cabeça. Com isso, como é que Felipe dos Santos se tornou um dos maiores nomes do país na prova mais difícil de todas. 

“Tudo começou na escola. Em um projeto da escola eu conheci o atletismo e comecei a me destacar. Na saída para o ensino médio eu tive que buscar um clube e consegui uma vaga no Centro Olímpico. Lá eles viram que eu era forte em uma prova combinada, como o declatlo”. 

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A primeira disputa de uma prova combinada de Felipe foi o octatlo, que conta com oito das dez provas do decatlo. Mesmo com pouco tempo de treino, o brasileiro ficou bem próximo do índice para o mundial sub-18 na época, vaga que foi conquistada alguns meses depois. 

Decatleta Felipe dos Santos (Divulgação CBAt)
(Divulgação CBAt)

“No Mundial Sub-18, que foi na França e acabou sendo a primeira viagem internacional da minha vida, eu fui bem e na última prova consegui subir e ficar com a medalha de bronze”. 

‘O esporte muda vidas, mudou a minha e me ajudou a realizar o sonho da minha mãe’

Paulista “da gema”, Felipe dos Santos foi criado na periferia. Morando com a família no extremo leste da capital do estado, o atleta não esconde que passou por dificuldades durante um período da vida. “Passei necessidade no começo da vida, um pouco antes de começar no esporte, e cheguei a fazer bicos para ajudar minha família, minha mãe, meu irmão mais novo. Quando eu comecei a ver o esporte como alternativa eu sabia que viria a ser de alto rendimento, iria ajudar a minha família e mudaria a minha vida”. 

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E ajudou. Segundo Felipe dos Santos tinha algumas metas pessoais quando passou a “viver” do atletismo e do decatlo. Uma delas era dar uma casa para sua mãe. Após alguns anos juntando o dinheiro, lutando e fazendo conta, o atleta conseguiu. 

“Dei o cartão para a minha mãe, falei que o dinheiro era dela e que ela iria usar tudo. Quando ela descobriu o que tinha ficou assustada mas construiu a casa dela e eu consegui realizar o sonho dela”, finalizou Felipe dos Santos

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