Durante essa semana, o Olimpíada Todo Dia vem fazendo uma série de projeções das principais chances de medalhas dos atletas brasileiros daqui a um ano nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Nosso trabalho como jornalista fica mais fácil quando um atleta possui extrema consciência de suas maiores qualidades e defeitos e é realista em relação aos resultados que pode alcançar. Esse é o caso de Flávia Saraiva, da ginástica artística.
Daqui exatamente um ano, uma das atletas olímpicas mais carismáticas do Brasil fará sua estreia na Olimpíada do Japão. Mais madura do que há quatro anos na Rio-2016, Flavinha já está pronta para entrar para a história e se tornar a primeira mulher da ginástica artística feminina a conquistar uma medalha olímpica.
+Nory, Chico Zanetti e Barreto: há um ano de repetir a história
Para saber como foi o ciclo olímpico de Flávia Saraiva e como ela chegará no Japão, quais são as suas principais chances e quem são suas rivais, o Olimpíada Todo Dia preparou um mini guia sobre a ginástica artística feminina em Tóquio-2020, muito baseado em suas próprias projeções feitas em uma live com o OTD.
No final, falamos da última chance de outras ginastas brasileiras como Rebeca Andrade e Jade Barbosa garantirem classificação para as Olimpíadas. Confira!
Crescimento (literalmente) após a Rio-2016
Com apenas 16 anos de idade, Flávia Saraiva fez sua estreia em Jogos Olímpicos há quatro anos no Rio de Janeiro. Diante da torcida, a pequena ginasta não se intimidou e fez bonito. Conquistou um 5°lugar na trave e um 8° na competição por equipes.
De lá para cá, a ginasta cresceu. Ficou mais musculosa, ganhou experiência, melhorou o psicológico e ainda espichou alguns centímetros. “Eu cresci cerca de 10 cm depois da Olimpíada no Brasil. Agora estou com 1,45m, ” contou Flávia Saraiva em live com o Olimpíada Todo Dia.
O nível das apresentações também cresceu bastante. Antes especialista na trave, Flavinha aperfeiçoou técnicas em todos os aparelhos da ginástica, em especial no solo, refletindo nos resultados do individual geral. Com isso, os resultados nos campeonatos mundiais do ciclo também começaram a aparecer.
2018: quebrando tabus e vencendo favoritas
No Mundial de Doha-2018, no Qatar, ela ajudou a equipe de ginástica feminina a quebrar um jejum de 11 anos e chegar na disputada final. A equipe terminou na 7ª colocação, uma melhor do que na Rio-2016.
De quebra, Flávia Saraiva conseguiu classificação para duas finais individuais – solo e individual geral. No solo, ficou na 5ª colocação e no individual geral conseguiu terminar no grupo das dez primeiras colocadas (foi oitava), naquela que foi a melhor participação de uma brasileira desde 2007, quando Jade Barbosa foi bronze no Campeonato Mundial da Alemanha.
Ainda em 2018, Flávia venceu a etapa da Copa do Mundo de Cottbus, na Alemanha, derrotando na final a Jade Carey, dos Estados Unidos, uma das favoritas ao pódio em Tóquio.
2019: frustração com a equipe feminina e vaga olímpica
Com 20 anos completados, Flávia Saraiva seguiu evoluindo. No Mundial de Stuttgart-2019. Entretanto, a pequena ginasta começou tendo que superar um sentimento de tristeza. Isso porque duas lesões – de Jade Barbosa e Lorrane Oliveira – prejudicaram as notas da seleção feminina, que terminou fora da final em 14º lugar e sem chances de ir aos Jogos Olímpicos de Tóquio, quebrando uma sequência de quatro participações consecutivas.
Mesmo assim, Flavinha conseguiu a primeira vaga individual olímpica do Brasil na ginástica artística feminina ao se classificar para a final com a 10ª melhor nota no individual Geral. Na sequência, garantiu-se ainda nas finais individuais do solo e da trave e passou muito perto de conseguir uma medalha. Na apresentação no tablado, Flávia Saraiva encantou o público alemão e ficou a menos de sete décimos da medalha de bronze.
Expectativa para Tóquio, segundo ela própria
Flávia Saraiva sabe que vive sua melhor fase na carreira e está pronta para a sua segunda participação nos Jogos Olímpicos.
“Eu me sinto muito pronta para competir em uma Olimpíada. Eu nunca senti uma medalha tão próxima assim. Mas a gente pensa primeiro é pegar final. A gente já tem os nossos objetivos, mas eu não posso pensar em medalhas sem pensar em finais.”
Mesmo sabendo que precisa se garantir entre as oito melhores, a ginasta avaliou suas principais chances de medalha em Tóquio-2020:
“Trave, solo e individual geral. Salto eu só tenho uma chance e paralelas segue sendo minha maior dificuldade.
As adversárias na Olimpíada
Flávia Saraiva tem a sorte – e o “azar”- de competir ao lado de uma das maiores ginastas da história. Com sobras, Simone Bile, dos Estados Unidos, deve ser o grande nome da Olimpíada de Tóquio no ano que vem. A brasileira tem consciência disso e revela admiração pela rival.
“A Biles treina muito, já vi. Fora que ela tem um talento surreal, uma percepção corporal. Ela sabe a hora da chegada, a hora de abrir. Ali tem muito pouco de sorte. Porque quando a gente treina muito, a sorte fica minúscula,” disse Flavia Saraiva.
Simone Biles e sua coleção de medalhas de ouro no Mundial de 2019
Outras rivais
Com Simone Biles está um nível acima das demais, Flávia Saraiva brigará diretamente com outras ginastas de outros países na Olimpíada. Preparamos um resumo de seus melhores resultados no ciclo e quem são aquelas que brigarão décimo a décimo com a brasileira pelas medalhas em cada um dos três aparelhos que ela mesmo descreve como seus principais:
Flávia Saraiva
- melhor aparelho: solo e trave
- melhores resultados no ciclo:
solo – 5ª colocada no Mundial 2018 e 4ª no Mundial 2019 trave – 6ª no Mundial 2019 - Pode surpreender e ir a final em: Individual geral (foi 8ª no Mundial 2018 e 7ª no Mundial 2019)
Solo
Na Rio-2016, as novatas Flávia Saraiva e Rebeca Andrade conseguiram os melhores resultados no solo para o país na história das Olimpíadas. Flavinha foi a 19ª colocada e Rebeca a 20ª.
Em Tóquio, dificilmente alguém baterá Simone Biles. A americana é simplesmente cinco vezes campeã mundial e atual campeã olímpica. Nunca saiu do topo do pódio em grandes competições no aparelho. Com alto grau de dificuldade aliado a uma boa execução, Simone não deve ter muitas dificuldades em assegurar mais esse ouro em terras nipônicas.
Suas compatriotas Jade Carey e Sunisa Lee devem brigar forte para ver quem assegura a segunda vaga dos Estados Unidos na final olímpica (vale lembrar que cada país só pode mandar duas ginastas às finais). Aquela que conseguir será favorita para a medalha de prata.
A japonesa Murakami Mai, campeã mundial em 2017 e medalhista de
bronze em 2018, competirá em casa e tem boas chances de aparecer no pódio. A russa Angelina Melnikova, bronze no mundial de 2019. Finalmente, a francesa Melanie de Jesus dos Santos também aparecem com possibilidades de chegar ao pódio.
Individual Geral
Em Tóquio, Flávia Saraiva chega em condições de melhorar a 10ª posição de Jade Barbosa nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008. Uma medalha parece um pouco distante, mas não é algo impossível e Flávia tem condições de surpreender as favoritas. Como dissemos, Flavinha foi sétima colocada no mundial de 2019, ficando a menos de 0.7 da medalha de bronze, provando que pode sim estar entre as ginastas mais completas do mundo.
Simone Biles desembarcará na Olimpíada de Tóquio em busca de se tornar a ginasta com mais medalhas de ouro da história olímpica, e o individual geral deverá ser sua segunda medalha na capital japonesa. A americana conquistou duas medalhas de ouro na prova durante os mundiais no ciclo com grande vantagem para as adversárias. E só não foram três porque a Biles resolveu tirar um ano sabático em 2017 após os Jogos do Rio.
Uma segunda americana deverá aparecer como forte candidata à medalha de prata. Sunisa Lee e Morgan Hurd aparecem atualmente como as mais prováveis a ocuparem esse posto.
A chinesa Tang Xinjing, as russas Angelina Melnikova e Vladislava Urazova e a francesa Melanie de Jesus dos Santos também devem brigar por um lugar no pódio.
Trave
Finalista olímpica em 2016 e do mundial de 2019, Flávia Saraiva aparece em Tóquio como uma das principais candidatas ao pódio na trave. Aliando dificuldade com uma ótima execução, Flávia e o Brasil tem nessa prova uma das principais chances de medalha na ginástica.
Biles não é imbatível
Atual campeã mundial no aparelho, Simone Biles terá mais uma vez seu favoritismo posto à prova. Em Stuttgart, Biles foi campeã mundial com direito a novo elemento no aparelho (um dos mais altos no código de pontuação).
As chinesas Liu Tingting, campeã mundial em 2018 e prata em 2019, e Li Shijia, bronze ano passado, chegam como principais candidatas a completarem o pódio olímpico. A canadense Ana Padurariu, prata em 2018, também deve brigar por medalhas.
A trave, entretanto, é um dos aparelhos da ginástica mais imprevisíveis. No Mundial de 2018, por exemplo, Simon Biles foi “mal” e ficou “apenas” com a medalha de bronze. Também favorita ao ouro no Rio, Biles terminou com um bronze após cometer erros em sua apresentação. Quem sabe a história não se repita e Flavinha fique a frente da americana?
Só vai ter Flávia em Tóquio?
A princípio, sim. Há, no entanto, uma chance de outra brasileira garantir vaga nos Jogos Olímpicos no ano que vem. A melhor delas é através do campeonato pan-americano de ginástica.
Serão disputadas duas vagas em cada gênero com base no ranking da final do individual geral. Há um limite de uma vaga por país em cada gênero nesse critério, e o posto só pode ser preenchido por um ginasta que ainda não conseguiu nenhuma classificação (individual ou por equipes).
Rebeca Andrade: a melhor chance
A melhor atleta do Brasil que se enquadra nesse critério é Rebeca Andrade. A atleta conviveu com lesões durante todo ciclo, mas já mostrou que saudável, é uma das melhores ginastas do mundo em todos os aparelhos.
Sua missão fica mais fácil, já que Canadá e Estados Unidos, principais forças pan-americanas com o Brasil, já estão classificados por equipe através do Mundial 2019 e não podem enviar as ginastas que competiram na Alemanha para a competição pan-americana.
Na Rio-2016, por exemplo, Rebeca se classificou para a final do individual geral com a 3ª melhor nota. Na final, não repetiu o desempenho e ficou em 11º lugar.
Se conseguir chegar em Tóquio em sua melhor forma física, Rebeca Andrade entrará na briga direta por um lugar no pódio. A pandemia para a atleta foi benéfica, segundo ela mesma.
“Vou ter mais tempo pra treinar e fortalecer meu joelho, minhas pernas, meus braços, fortalecer minha mente também que é muito importante. Acho que foi uma ótima decisão”, declarou Rebeca ao Olimpíada Todo Dia após o anuncio do adiamento dos Jogos.
Jade Barbosa: a esperança é a última que morre
Jade Barbosa, que se recupera de lesão, também poderia brigar pela vaga no campeonato pan-americano. A veterana ginasta já não tem mais chances de conseguir a vaga através da Copa do Mundo por Aparelhos. Com isso, a única chance seria vencer o pan-americano, deixando Rebeca Andrade para trás.
Importante lembrar que a ginasta de 28 anos é dona de duas medalhas mundiais – no salto e no individual geral e já participou de três finais olímpicas individuais. Ela brigaria diretamente com Rebeca Andrade pela vaga.
Como dito, EUA e Canadá já tem vaga garantida através do Mundial. As americanas também já conseguiram duas vagas extras através da Copa do Mundo por Aparelhos, o que significa dizer que nenhuma ginasta dos EUA participará do pan-americano. As canadenses que tentarão a vaga são boas, porém estão um nível abaixo das brasileiras.
Confira os melhores aparelhos de Rebeca Andrade e Jade Barbosa, caso consigam a vaga para os Jogos Olímpicos.
Rebeca Andrade
- melhor prova: individual geral e salto sobre e mesa
- pode surpreender e ir a final em: todas. Rebeca saudável é muito completa e capaz de brigar por medalhas em todos os aparelhos (ainda que a competição na trave e nas barras assimétricas sejam mais difíceis).
Jade Barbosa
- melhor prova: individual geral e solo
- pode surpreender e ir a final em: salto sobre a mesa. (Foi bronze no Mundial de 2010).
Como você acha que serão as duas ginásticas em 2021? Opine!