Daqui exatamente um ano, começará uma das provas mais eletrizantes de serem assistidas da natação. Quatro nadadores do Brasil – a que tudo indica, Marcelo Chierighini, Pedro Spajari, Gabriel Santos e Breno Correia – cairão na piscina para nadar o revezamento 4x100m livre masculino na Olimpíada de Tóquio-2020 com o objetivo de conquistar uma medalha que não vem para o Brasil há 20 anos.
O caminho até lá, no entanto, será longo. Como chegarão os nadadores no Japão? O que ainda pode evoluir? Quem são as principais adversários?
Para responder essas e outras perguntas, o Olimpíada Todo Dia conversou com o “Coach” Alex Pussieldi, comentarista e fundador/editor-chefe da “Best Swimming”. Confira!
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O ciclo olímpico
O revezamento 4x100m livre masculino viveu uma montanha-russa de emoções desde o 5º lugar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro há quatro anos. Na ocasião, Marcelo Chierighini, Nicolas Oliveira, Gabriel Santos e João de Lucca nadaram para 3min14s06 e empataram em quinto lugar com o Canadá. O ouro ficou com a Rússia (3min12s04), a prata com a os Estados Unidos (3min12s34) e o bronze com a Austrália (3min13s27).
Muita coisa mudou desde então, muito em função da constante renovação que a prova tem graças a sua forte popularidade.
“O 4x100m nado livre é a prova mais popular entre os nadadores e a comunidade da natação brasileira. Caiu na graça do povo. Há uma legião de nadadores querendo nadar o revezamento masculino. Eu diria que essa prova é o ‘xodó’ da natação brasileira no momento,” analisou Alex Pussieldi.
Medalha com veteranos
No ano seguinte aos Jogos do Rio, a equipe que chegou ao Campeonato Mundial da Hungria 50% renovada. Nicolas Oliveira se aposentou e Matheus Santana não conseguiu manter os mesmos resultados. Para os seus lugares, entraram dois grandes especialistas nos 50 metros livres: o campeão olímpico Cesar Cielo, se aproximando do fim de sua carreira à época, e Bruno Fratus.
Com sangue nos olhos, os brasileiros terminaram uma prova eletrizante com 3min10s34, quebraram o recorde sul-americano e conquistaram uma histórica medalha de prata, ficando apenas 0s28 dos Estados Unidos. Foi o primeiro pódio brasileiro em eventos de primeiro nível nas provas de revezamento em piscina olímpica desde o bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney-2000 de Fernando Scherer, Gustavo Borges, Carlos Jayme e Edvaldo Valério.
Jovens promessas
A medalha ajudou a aumentar ainda mais a popularidade do revezamento. Novas promessas da velocidade aquática começaram a surgir. Dois grandes talentos da nova geração da natação passaram a se destacar no cenário nacional: Breno Correia e Pedro Spajari.
Com resultados expressivos em 2018, os dois se consolidaram ao lado de Marcelo Chierighini e Gabriel Santos e passaram a formar um time muito forte. O sexto lugar obtido no Mundial da Coreia de 2019 foi, de certo modo, frustrante, mas é explicável, de acordo com Alex Pussieldi.
“O revezamento de 2019 era até melhor do que o de 2017. Era mais qualificado. Todos nadadores inclusive melhoraram seus tempos em dois anos. Era um revezamento bem mais jovem e mais forte. O que atrapalhou foi a questão do doping do Gabriel às vésperas da competição. Houve um abalo muito forte na equipe por causa disso,” avaliou Pussieldi.
Suspensão às vésperas
O episódio ocorreu em junho de 2019, o Mundial da Coreia começaria dali a um mês. Gabriel foi flagrado em exame de urina solicitado pela Federação Internacional de Natação. O nadador recebeu uma punição de um ano, pouco antes do começo do mundial.
Mesmo sem um de seus principais nadadores, o Brasil fez bonito. Com Fratus no lugar de Gabriel, terminou com 3min11s99 na sexta colocação, garantido o país na Olimpíada de Tóquio.
Liberado
Em março desse ano, Gabriel Santos foi inocentado pela Corte Arbitral do Esporte (CAS), instância máxima da Justiça Esportiva mundial, anulando a decisão da Federação Internacional de Natação (FINA) e o liberando para retornar aos treinos. No entanto, com a pandemia, Gabriel Santos não pode voltar às competições. Ainda assim, o nadador não está preocupado e garante que a ansiedade de voltar a competir não será um problema.
“Eu passei por uma situação parecida um tempo atrás, no qual tive que treinar em casa, sozinho e também não podia competir. Fiquei oito meses assim. Não foi um período totalmente ruim, pois desenvolvi algumas virtudes e a paciência foi uma delas. Portanto, a ansiedade não está sendo um problema tão grande para mim”, declarou Gabriel Santos em live com o Olimpíada Todo Dia.
Rivais, números mágicos e segredo pra medalha
De acordo com Alex Pussieldi, se Gabriel Santos voltar bem e se os nadadores executarem uma série de fatores, o Brasil possui grandes chances de conquistar uma medalha. O Coach avaliou ainda os principais rivais na busca pela medalha olímpica.
“Os Estados Unidos para o ouro. O Brasil deve disputar a prata e o bronze com Itália, Rússia e Austrália. A Grã-Bretanha também, mas está um pouco abaixo. Temos que ter os quatro nadadores nadando para 47 segundos,” avalia Pussieldi. Vale lembrar que até a pausa pela pandemia, apenas dois revezamentos do mundo tinham três atletas nadando para a faixa de 47 segundos: Estados Unidos e Brasil.
Para Pussieldi, outro fator-chave que pode dar a medalha olímpica aos nadadores do revezamento 4x100m livre – e a qualquer nadador de qualquer prova – é realizar na Olimpíada a melhor marca da carreira.
“12 de 13 medalhas olímpicas da natação brasileira representaram a melhor performance da história daquele nadador. Isso quer dizer que se você quiser ser medalhista olímpico, você vai ter que fazer o seu melhor. Nós precisamos nadar para o nosso melhor, na hora certa. É preciso melhorar o tempo na final. Só assim a medalha vai sair.”
De 20 em 20
Como visto, o Brasil tem tudo para chegar com muita força no revezamento 4x 100 metros livre em Tóquio daqui há um ano. É impossível prever se levarão a medalha ou não, ainda mais após a pandemia. Mas, Alex Pussieldi relembra um fato curioso para aqueles que acreditam em superstições.
“A cada 20 anos, o Brasil tem sido medalhista em revezamentos olímpicos. Fomos em 1980 [no revezamento 4x200m livre em Moscou], em 2000 [bronze na Olimpíada de Sydney] e agora 2020, em 2021. Quem sabe, um revezamento seja medalhista olímpico mais uma vez,” finalizou Pussieldi
Ficha técnica revezamento 4x100m livre
Confira uma tabela com os tempos de Marcelo Chierighini, Breno Correia, Gabriel Santos, Pedro Spajari e dos outros nadadores do Brasil no revezamento 4x100m masculino Rio-2016 e nos dois últimos mundiais, juntamente com os cinco primeiros colocados da prova e o tempo necessário nas eliminatórias para se chegar à final