E lá vem a delegação brasileira! Invadindo a Cerimônia de Abertura de Tóquio-2020 no Estádio Nacional puxada pela/o porta-bandeira. Uma cena icônica. Daqui a exatamente um ano, no dia 23 de julho, essa imagem do Brasil desfilando no Japão irá correr o mundo. E as perguntas do momento serão quais as chances e quantas medalhas serão conquistadas após uma pandemia que bagunçou com os sonhos e objetivos dos atletas brasileiros?
O COB (Comitê Olímpico do Brasil) não fala em uma meta abertamente, mas a expectativa, claro, é superar as 19 medalhas conquistadas na Rio-2016. Só que Jorge Bichara, diretor de esportes do COB, fez questão de botar essa projeção em segundo plano.
“Agora não tem essa de resultado. O foco inicial e total da retomada é a preparação dos atletas. Não estamos pensando nem no médio prazo, é no curtíssimo prazo, um a dois meses no máximo.” Não à toa o Time Brasil está em Portugal para a Missão Europa, buscando retomar a preparação. Para depois buscar resultado.
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E embora as preocupações dominem o cenário, pelo menos 20 medalhas deve ainda ser o objetivo da entidade, o que já seria um recorde após as 19 conquistadas em casa, em 2016. Sem falar que o legado esportivo dos Jogos no Brasil ainda terão efeito em 2021.
A notícia boa é que o programa olímpico mudou. Surfe e skate estrearão e serão disputados em Tóquio-2020. Com isso, as chances brasileiras aumentaram. Será que é bem assim?
“De 2016 a 2019, o aumento na diversidade de países aumentou muito no surfe e skate. É sempre assim, uma nova oportunidade atrai as grandes potências, nada está garantido”, reforça Bichara.
A.C.
Entre favoritos, surpresas – ah, porque elas sempre aparacem – e frustrações, a delegação brasileira terá chances de competir e superar as 19. Antes do coronavírus, o COB calculava cerca de 40 nomes que podiam disputar medalha.
“Não existe nesse momento essa de estabelecer expectativas, a retomada do rumo certo da preparação é prioridade”, volta a frisar Bichara.
Uma olimpíada nunca tinha sido adiada em um ano. E, desde o anúncio, muito já foi especulado sobre a realização ou não de Tóquio-2020.
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“Nessas situações, tem que ter serenidade. O que você pode alterar, o que está no alcance das mãos, tudo isso será feito”, diz Bichara. “Temos excelentes atletas para disputar essa edição de Jogos. E disputar é chegar na final. Não dá para pensar em medalha sem final”, acrescenta Bichara.
Se metade desses 40 nomes finalistas conseguir desempenhar o que fizeram ao logo de todo o ciclo olímpico, o Brasil chega ao número mágico: 20.
D.C.
O maior ciclo olímpico em décadas vai deixar suas marcas depois do coronavírus. Para Tóquio-2020 e por causa da pandemia, os tradicionais quatro anos se transformaram em cinco.
O psicológico emocional, tão fundamental para um evento da magnitude dos Jogos Olímpicos, vai exigir demais dos atletas, bem como a falta de competitividade após tanto tempo parado com o calendário mundial engatinhando.
Para Jorge Bichara, naturalmente as condições emocionais vêm junto com as condições físicas. “É essa igualdade de condições com seus adversários que a gente está buscando. E todos os atletas estão sendo afetados ao redor do mundo”.
As variáveis são muitas, a Olimpíada de Tóquio-2020 será uma edição diferente em vários aspectos. A ansiedade estará acumulada na mesma proporção da vontade de competir. Resta, mais uma vez, um ano para os Jogos Olímpicos.
Adversários e realidade
Não há muita diferença na projeção antes da pandemia e no que está sendo projetado para depois da pandemia. As 20 medalhas seguem como meta, o que mudou é como entender essa nova projeção.
“Claro que há um ano atrás, nós tínhamos um cenário com muitas mais certezas do que dúvidas. Tínhamos uma programação das competições, um cenário favorável ao nosso potencial de resultado. Um olhar sobre todo o sistema esportivo brasileiro sem o efeito da pandemia. Isso nos permitia estabelecer plano mais precisos”, diz Bichara.
Fica muito complicado saber como está seu desempenho sem um comparativo. Bichara reforça que “é um momento difícil para seguir monitorando adversários nesse momento. Avaliar a performance sem competições não dá.”
E o diretor do COB acrescenta. “Nas atuais condições, está difícil até monitorar os nossos atletas. Temos um cenário muito heterogêneo. Temos atletas que conseguiram treinar muito pouco, outros que conseguiram ter uma condição mínima de manutenção, e até atletas que mantiveram sua condição.”
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Sem esses dois coeficientes – adversários + a realidade dos atletas brasileiros – não é possível cravar que tal atleta perdeu rendimento ou melhorou durante a pandemia. Ou seja, quem era favorito, desafiante ou surpresa antes da pandemia seguirá assim até que uma disputa sirva de parâmetro.
Sendo assim, o parâmetro é o ano de 2019. Ano em que o Brasil conquistou sete títulos mundiais e diversas outras medalhas ao redor do mundo.
Ouro
Dos sete atuais campeões mundiais, quatro são muito favoritos para medalharem na Olimpíada de Tóquio-2020. Pâmela Rosa, do skate street, líder do ranking e quase garantida no Jogos, e Ítalo Ferreira, do surfe, já garantido, fizeram um 2019 incrível. Mostraram consistência e frieza na hora de decidir. Pâmela e Ítalo são favoritos ao ouro e trazem uma força nova ao Time Brasil.
Quem já é um velho conhecido olímpico é Isaquias Queiroz. O canoísta de velocidade já tem três medalhas olímpicas e vai atrás de mais, com chances de ouro. Isaquias é o atual campeão mundial no C1 1000m e bronze no C2 1000m, prova em que faz parceria com Erlon Souza.
Bia Ferreira, atual líder do ranking é muito favorita. A boxeadora, em 2019, venceu o Srandja, o Campeonato Mundial e os Jogos Pan-Americanos. Bia ainda precisa confirmar sua vaga. O Pré-Olímpico das Américas foi interrompido por causa da pandemia. Ela também pensa em ouro.
As atuais campeãs olímpicas Martine Grael e Kahena Kunze, da 49erFX, só retomaram a parceria dourada da Rio-2016 em 2018. Mesmo assim, a dupla vem crescendo de produção, sendo campeã do evento-teste e mundial em 2019. Não descarta-se bicampeãs olímpicas.
Arthur Nory, atual campeão mundial da barra fixa, passou por uma cirurgia no ombro esquerdo durante a pandemia. Lembrando que ele já medalhou no solo na Rio-2016. Forte candidato à medalha em 2021.
Não dá para falar de olimpíada e não falar do vôlei brasileiro. Na praia, Ágatha e Duda vão brigar pelo ouro. Assim como os atuais campeões masculinos de vôlei de quadra. O Brasil vai chegar forte e jogará pelo ouro.
Pódio
Tradicionalmente, o judô brasileiro sempre briga por medalhas e na Olimpíada de Tóquio-2020 não será diferente. Mayra Aguiar é um exemplo de judoca e será muito difícil não vê-la com alguma medalha. Rafaela Silva ainda aguarda um decisão sobre seu caso de doping. Rafael Silva já tem duas medalhas e quer a terceira. Contudo, as vagas do judô ainda precisam ser definidas.
O judô também pode trazer uma medalha através da equipe mista, que será disputada pela primeira vez em Tóquio-2020. A natação pode ter uma chance com o velocista Bruno Fratus.
Mas a maratona aquática tem em Ana Marcela Cunha um nome de peso e que cheira a pódio. Ana Marcela Cunha foi campeã do mundo nos 5 km e 25 km, duas provas que não são olímpicas.
No skate street feminino, Rayssa Leal e Letícia Bufoni vão incomodar e também chegarão com ares de favoritas ao pódio. Na briga com Ítalo, Gabriel Media, bicampeão mundial, não precisa de muitas apresentações.
No skate park masculino, três nomes são bons candidatos ao pódio. O veterano, mas estreante em olimpíada, Pedro Barros. E dois rostos da nova geração, Luiz Francisco e Pedro Quincas.
Arthur Zanetti é tão sólido quanto suas séries na argola. Aparelho em que o ginasta foi prata na Rio-2016 e ouro em Londres-2012. Em mundiais, Zanetti tem um ouro e três pratas. Mas no último acabou em 5º.
O futebol masculino, que irá a Tóquio-2020 defender seu título, é sempre uma força. Contudo, por não ser uma janela FIFA, fica difícil saber quais serão os jogadores e se a seleção olímpica irá com força total.
Por sua vez, Henrique Avancini, do mountain bike, é uma presença constante entre os três melhores do mundo. Vem mais experiente após competir na Rio-2016. Que nenhum pneu fure!
Desafiantes
Não há detrimento em considerar alguns nomes como desafiantes. Hora, tem gente em momento melhor ou com mais possibilidades. E eles possuem claras condições de chegar ao pódio.
Darlan Romani é um desses nomes. No Mundial de 2019, o atleta do arremesso do peso participou, muito bem, da disputa mais acirrada de todos os tempos da modalidade. Darlan terminou em quarto.
Nathalie Moellhausen também irá se desafiar entrando como campeã mundial na Olimpíada de Tóquio-2020. A esgrima é muito mais imprevisível que a maioria das outras modalidades e não é muito de ter dinastias e campeões dominantes. Nathalie pode quebrar essa análise. A última vez que uma campeã mundial também levou o ouro olímpico foi em Pequim-2008. A alemã Britta Heidemann ganhou o Mundial em 2007 e foi campeã na China um ano depois.
O vôlei é sempre um desafiante em Jogos. O feminino de quadra vem da frustração na Rio-2016 com novas e velhas caras e vai incomodar. Dependendo do cruzamento, a seleção bicampeã pode avançar e alcançar tudo. O time foi campeão do GP em 2017 e vice da Liga das Nações em 2019.
Ainda no vôlei, mas no de praia, Ana Patrícia/Rebecca, Alison/Álvaro e Evandro/Bruno devem, e reúnem condições para isso, incomodar os favoritos. É muita experiência em etapas do Circuito Mundial com essas três duplas. Fora que Alison e Bruno formaram a dupla campeã na Rio-2016. O Brasil sempre chega no vôlei, seja na quadra ou na areia.
+ Atletismo busca retomar as atividades
No Mundial de Revezamento de 2019, o 4×100 m masculino brasileiro foi campeão. No Mundial de Atletismo do mesmo ano, o quarteto ficou de fora do pódio mesmo quebrando o recorde brasileiro de Sydney-2000.
O trio do taekwondo vai lutar, literalmente, pelo pódio. Milena Titoneli, Ícaro Miguel e Netinho já garantiram suas vagas. Dependendo da chave, o trio pode avançar. Ícaro foi prata no último Mundial e já liderou o ranking, Netinho é uma presença constante na briga por medalhas e Milena vem numa crescente enorme e já está no radar das adversárias.
Nem tão surpresa assim
Todos os relacionados neste tópico possuem chances de medalha, mas causarão certo espanto em alguns caso deixem a Olimpíada de Tóquio-2020 com uma medalha.
Pelo surfe feminino, Silvana Lima e Tatiana Weston-Webb incomodam as estrangeiras no Circuito Mundial e podem levar uma vantagem já que as ondas olímpicas serão menores e as brasileiras gostam de uma “merreca”.
Yndiara Asp, no skate park, e Kevin Hoefler, no street, também são destaques no cenário internacional e já tiveram bons momentos. Yndiara conquistou duas etapas em 2019, mas machucou-se e ficou de fora do Mundial. Hoefler foi o quarto no último Mundial, mas sempre está beliscando um pódio.
Flávia Saraiva, única ginasta garantida nos Jogos de 2021, veio de um 2019 muito bom. No Mundial, ela quarta colocada no solo, sexta na trave e sétima no individual geral. Por um décimo, Flavinha não pegou pódio no solo.
Ana Sátila é o principal nome brasileiro na canoagem slalom. As chances de medalha são boas no K1 (caiaque), mas ela também pode aprontar no C1 (canoa). A especialidade de Ana Sátila é o K1 Extremo, que ainda não é olímpico. Em 2019, a atleta ganhou um bronze no C1 de uma etapa da Copa do Mundo. Na final da Copa do Mundo, Ana Sátila foi prata no K1.
Hebert Conceição é outro destaque do boxe do Brasil. No Mundial do ano passado, o boxeador foi bronze após cair na semi. Ele ou Keno Marley, que foi campeão dos Jogos da Juventude em 2018, podem surpreender na Olimpíada.
Alison Santos está em franca ascensão no atletismo. Com apenas 19 anos, foi campeão dos Jogos Pan-Americanos em 2019 nos 400 m com barreiras e foi à final do Mundial, logo em sua primeira participação como adulto. Seu potencial é enorme, resta saber se ele já despontará em 2021 ou reservará algo mais especial para Paris-2024.
Thiago Braz é o atual campeão olímpico no salto com vara. Não fez um bom ciclo olímpico, mas sua conquista na Rio-2016 pesa e muito. Talvez ele só compita a cada quatro anos. Olho nele.
O futebol feminino vive uma fase de renovação, mas já medalhou em outras edições olímpicas e sabe jogar bola. Uma nova medalha faria jus à tradição da equipe do Brasil.
Hugo Calderano é uma presença constante entre os 10 melhores do mundo – atualmente é o 6º – no tênis de mesa. Seus adversários asiáticos têm sido uma pedra no sapato, mas Olimpíada é uma competição diferente e jogo para medalhar, isso Hugo Calderano tem.
Baita surpresa
Alguns atletas possuem um caminho complicado para chegarem a uma medalha olímpica. Por outro lado, possuem potencial para tanto e já provaram que merecem estar entre os melhores.
Vinicius Figueira, que tinha conquistado a vaga e depois ficou sem, deve ir a Tóquio e com chances de lutar pelo pódio. Um dia bom e ele pode desbancar os favoritos do caratê.
A marcha atlética traz duas boas esperanças de medalha. Erica Sena, desde o 7º lugar na Rio-2016, vem se mantendo no topo e ficando de fora dos pódios por pouco. Caio Bonfim foi o quarto na Rio-2016, teve que lidar com um caso de doping no ciclo olímpico e perdeu o bronze do Mundial de 2018. Mas aos trancos e barrancos, Caio poderá surpreender em Tóquio.
Ygor Coelho ainda tem muito a conquistar no badminton. Com 23 anos e uma participação em Jogos, Ygor estava bem perto de confirmar sua vaga. Ele terá que somar alguns pontos na retomada e já provou que pode enfrentar os melhores. Um pouco de capricho quando estiver em vantagem e próximo de fechar os sets e saber se recuperar de grandes desvantagens irá colocá-lo no no topo.
O judô gosta de umas surpresinhas na olimpíada. Como ninguém ainda está garantido, é meio cedo cravar quem terá chances. Mas para não ficar sem nomes, Maria Suelen, Daniel Cargnin e Larissa Pimenta podem aprontar.
Por essa eu não esperava!
Quem deles irá surpreender? A lista do Brasil é grande e todos possuem chances de medalha, mesmo que pequenas.
Aline Silva (wrestling), Almir Cunha (Salto triplo), equipe de hipismo salto, Fernando Reis (levantamento de peso), Francisco Barretto (ginástica artística), Fernanda e Ana Luiza (vela), Gabriel Constantino (110m com barreiras), Jorge Zarif (vela), Lais Nunes (wrestling), Marcelo Chierighini (natação), Marcus D´Almeida (tiro com arco), Nubia Soares (salto triplo), Robert Scheidt (vela), revezamentos 4 x 100 m livre e 4 x 100 m medley (natação), Renato Rezende e Andinho (BMX), Samuel e Gabriela (vela), Priscilla Stevaux e Paola Reis (BMX), Valéria Kumizaki (caratê), Wanderson Oliveira (boxe) e a dupla Marcelo Melo e Bruno Soares (tênis).
Basquete masculino, 3×3, handebol masculino e as duas seleções do polo aquático ainda vão disputar seus respectivos pré-olímpicos.
Resta aguardar e ver se algum outro nome surge bem na reta final para a Olimpíada de Tóquio-2020. Estaremos atentos!