A mesa-tenista gaúcha Victoria Strassburger viveu um roteiro de cinema neste mês de maio. Depois de treinar na garagem de casa por conta das enchentes no Rio Grande do Sul nas últimas semanas, por pouco ela não conseguiu viajar para o Rio de Janeiro para a disputa do WTT Contender, mas chegou na capital fluminense às vésperas do evento, venceu dois jogos no qualifying e se classificou para a chave principal do torneio, atingindo um feito inédito em sua carreira.
Victoria é natural de Ivoti, cidade que fica na região metropolitana de Porto Alegre, mas hoje é jogadora da Sogipa, um dos maiores clubes poliesportivos do Brasil, localizado na própria capital gaúcha. Quando se iniciaram as enchentes no Rio Grande do Sul, ela estava disputando um torneio em Santa Catarina. Ao retornar para o seu estado, não conseguiu ir para Porto Alegre e foi direto para sua terra natal junto à colega Sofia Kano.
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Por lá, elas tiveram que treinar dentro de casa para se manterem ativas. “Não tinha como ir para o clube onde a gente treina em Porto Alegre, então ficamos treinando em casa nessas duas últimas semanas. Foi bastante treino de saque, focava nas primeiras bolas e fazia bastante regularidade, porque minha garagem não é muito grande, então não podíamos afastar muito da mesa e fazer pontos longos”, falou a jogadora de 18 anos de idade.
A saga até o Rio de Janeiro
Sofia e Victoria teriam um compromisso importante no final do mês: o WTT Contender do Rio de Janeiro, importante evento do circuito mundial de tênis de mesa que começou na última segunda-feira (20). Como o Aeroporto Salgado Filho estava fechado, elas compraram passagens para viajar de Caxias do Sul no domingo, um dia antes da abertura do evento. No entanto, chegando lá, as condições ruins de tempo adiaram o voo até que enfim ele foi cancelado.
Sem alternativas no estado, as duas pegaram um táxi até Florianópolis e caíram na estrada durante a madrugada. Chegaram em Santa Catarina pela manhã e, desta vez, conseguiram viajar até o Rio, chegando 24 horas depois do início da viagem. “A gente chegou e Sofia já tava jogando de tarde, eu tive sorte e passei de bye. Foi bem tenso, mas conseguimos chegar e já estávamos no lucro por estarmos aqui”, comentou a mesa-tenista.
Victoria só entrou em ação na terça-feira (21), jogando pela segunda rodada do torneio qualificatório do WTT Contender. Número 350 do mundo, a gaúcha venceu a canadense Ivy Liao, 122ª colocada do ranking mundial, em sua estreia. Um dia depois, nesta quarta-feira (23), superou a indiana Selena Selvakumar (313ª) com uma grande atuação e atingiu a chave principal do torneio.
Esta é apenas a segunda vez que Victoria Strassburger participa de um WTT Contender. O primeiro foi exatamente no Rio de Janeiro, no ano passado. Na ocasião, porém, ela caiu ainda na primeira fase qualificatória da disputa individual. Assim, esta será a primeira vez que Victoria disputará a chave principal de um evento do circuito mundial adulto de tênis de mesa. Sua adversária será a japonesa Miyu Nagasaki, 37ª do mundo, nesta quinta-feira (22), às 18h.
Começo tardio
Hoje um dos talentos do tênis de mesa brasileiro, Victoria Strassburger começou “tarde” na modalidade. Ela começou a jogar ping-pong há seis anos, quando tinha 12 anos de idade, no intervalo da escola. Sua mãe a colocou em um projeto social ligado à Colônia Japonesa de sua cidade e foi daí que a paixão pelo tênis de mesa se intensificou. À época, ela treinava apenas uma hora por semana, mas já era acompanhada por Jorge Fanck, que atualmente é o técnico da seleção brasileira feminina.
“Quando eu comecei, ele era o treinador e coordenador das seleções de base. Ele foi crescendo e melhorando com o tempo e, depois disso, me convidou para começar a treinar mais sério, quando viu que eu tinha talento e estava evoluindo. Passei a ir todos os dias da semana na Colônia Japonesa e depois fui buscando outros clubes para treinar, até que achei a Sogipa, que é onde estou hoje desde 2019”, lembrou a mesa-tenista gaúcha.
Crescimento no adulto
Victoria desenvolveu sua carreira na base de forma rápida e conseguiu títulos importantes em competições brasileira. Hoje, ela é a terceira colocada do ranking nacional adulto e se mostra ao mundo através do WTT Contender do Rio de Janeiro. Apesar de ser um dos diamantes da modalidade, Victoria ainda não vive totalmente do esporte, recebendo o chamado “paitrocínio”.
“Está difícil o esporte no Brasil. É bem tenso em termos de investimento, porque até hoje o maior investimento foi dos meus pais. Não teve retorno, mas aos poucos está começando a melhorar, mas ainda tem pouco investimento. Eu pretendo melhorar cada vez mais até que isso seja o que quero para a minha vida”, desabafou a jovem atleta gaúcha, que é fã de Coldplay e se destaca por ser guerreira, agressiva e esforçada na mesa.
Para seguir no tênis de mesa, Victoria Strass já traça as metas para sua carreira: ela quer estar entre as melhores do mundo e disputar os principais torneios do planeta. “Quero jogar Jogos Olímpicos, quero chegar top-50, top-30 mundial e batalhar com as melhores nos torneios mais fortes do mundo. Aqui no WTT Contender, quero poder jogar o máximo e ter o maior contato com esse nível de jogo alto. No futuro, eu quero estar só na chave principal, jogando com as melhores e enfrentando todas”.