Passar por um processo de transição de gênero não é simples. Luca Kumahara, primeiro atleta transgênero da história do tênis de mesa, é um exemplo disto. Ele iniciou o tratamento hormonal no ano passado e, desde então, precisou lidar com muitas dificuldades em decorrência das mudanças fisiológicas sofridas por seu corpo.
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“Logo que eu saí da seleção feminina, eu comecei o tratamento hormonal. Foram muitas mudanças físicas, que ainda estão acontecendo. Eu ganhei oito quilos, praticamente mais de massa magra, o que é algo positivo, mas é uma mudança muito grande para o corpo, disse Luca Kumahara, logo após sua estreia no WTT Contender do Rio de Janeiro.
O atleta precisou lidar com as dificuldades não só no dia a dia, mas também no esporte. Ele deixou a seleção feminina há um ano, após ter disputado três edições de Olimpíadas, exatamente para seguir com o processo de transição. Luca teve seus pontos nos rankings nacional e mundial zerados e passou a encarar uma nova realidade em sua modalidade.
“Tênis de mesa é um esporte de muita precisão, que é muito técnico, então ter uma mudança tão brusca o seu corpo com certeza acaba causando alguns desconfortos. Exige muita adaptação para eu entender como eu tenho que jogar agora. Tem sido muito desafiador nesse sentido”, falou Luca, que tem 28 anos de idade.
“Acabei tendo algumas dores também, que não chegaram a ser lesões, mas que foram consequências dessas mudanças corporais. Há muitos meses, eu tenho me sentido muito mal treinando, o que acabou me gerando bastante dúvidas sobre o que fazer. Tem sido mais desafiador do que eu imaginava, mas ao mesmo tempo eu estou curtindo esse processo”, completou.
Marco para o tênis de mesa
Desde quando revelou seu processo de transição, em setembro de 2022, Luca foi bem recebido pelas pessoas ao seu redor: sejam familiares, amigos ou companheiros de equipe. A Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) e a Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF) também o acolheram, em uma situação inédita na modalidade.
“No tênis de mesa, só foram pensar como seria essa transição de feminino para o masculino quando eu assumi a minha transição. Então, a gente já começou meio atrasado, acho que já deveria ter sido pensado. Isso acaba gerando um questionamento também. Vamos pensar sobre isso antes de que aconteça, porque a gente tem ter uma resposta antes da pergunta”, citou ele.
Luca Kumahara venceu o compatriota Gabriel Caviquio em sua estreia em competições internacionais. Ele venceu o adversário por 3 sets a 0 (11/3, 13/11 e 13/11) e avançou para a segunda rodada do qualifying. O atleta acredita que todo o seu processo de reconstrução serão um marco para a comunidade trans mundial.
“Faz um ano que eu saí da seleção feminina, então voltar a vestir essa camisa, mesmo que seja em um campeonato internacional sendo jogado no Brasil, para mim é um marco muito importante. Eu acho que para a visibilidade trans é um passo muito grande, ter um atleta de alto rendimento competindo em competições tanto internacionais como nacionais”, comentou.
“Eu acho que tanto dentro do tênis de mesa, como do esporte em geral, de alto rendimento principalmente, é um passo muito importante que nós estamos dando e vai abrir portas, não só no sentido de mais atletas se sentirem mais à vontade para se assumirem, mas também pras instituições e confederações pensarem mais sobre isso e darem esse passo”, complementou.