Quando o ano começou, Caroline Kumahara nem imaginava quantas coisas inesperadas aconteceriam em 2019. Depois de passar por alguns anos difíceis, sem sentir mais prazer em jogar tênis de mesa, Kumahara se viu convocada para a seleção brasileira, jogando uma final de Jogos Pan-Americanos e conquistando vaga para as Olimpíadas de Tóquio.
“Foi um ano bem maluco, na verdade.”, comenta a garota. “Eu comecei o ano bem desanimada ainda, depois de passar por uns anos meio difíceis. Quase não estava conseguindo treinar, por falta de prazer mesmo. Decidi ir para uma viagem no meio do ano para jogar alguns campeonatos, que seriam os últimos campeonatos antes do Pan. E chegando lá, eu consegui treinar bem, desfrutei do treino depois de muito tempo, consegui jogar feliz”, comemora Kumahara.
Então, uma decisão inesperada pegou todos de surpresa. Gui Lin, a chinesa de 26 anos que jogava pelo Brasil, decidiu se aposentar por questões pessoais e deixou a vaga na seleção aberta para a próxima melhor jogadora brasileira: Carol Kumahara.
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“Até então eu tinha certeza que não seria convocada para os Jogos Pan-Americanos, mas quando ela decidiu parar de jogar, voltou a minha chance. Fui convocada, e, quando eu vi, eu estava nos Jogos Pan-Americanos mais uma vez, no meu terceiro Pan. E eu lembro que quando nós estávamos entrando para a final por equipes, passou um filme na minha cabeça, de segundos, de todos esses anos difíceis, do ciclo olímpico que para mim estava acabado E quando eu vi eu estava ali na final do Pan. Eu lembro que até me emocionei, me arrepiei na hora, meu olho encheu de lágrima”, lembra Kumahara.
Momentos de crise
Kumahara passou por uma fase difícil. A passagem do juvenil para o adulto, somada a alguns problemas e pressões pessoas, fizeram com que a garota de 24 anos começasse a ter crises de ansiedade. “Por sorte eu identifiquei logo no início e comecei a fazer terapia para entender o que era. A terapia me fez muito bem para todo o resto, para me conhecer melhor. Foi uma época difícil, mas que eu vejo que foi muito positiva no final.”, comemora.
Uma mudança específica fez muito bem à garota. Depois de nove anos jogando em São Caetano, a jogadora decidiu mudar de clube e respirar novos ares. “Eu acho que é muito tempo no mesmo lugar também. Então decidi trocar, mudar um pouco. Eu saí de lá, mas o vínculo continua o mesmo, sempre fui muito grata ao São Caetano. Hoje estou competindo por São José dos Campos, então acho que essa mudança foi boa também, para dar uma renovada.”, explica.
No fim, o ano “maluco” de 2019 rendeu frutos. No Pan-Americano, jogando ao lado de Jessica Yamada e Bruna Takahashi, Carol conquistou a medalha de prata. Em outubro, veio o ouro no Pré-Olímpico e a vaga garantida para Tóquio-2020. Mais do que obter resultados, Kumahara voltava a jogar feliz. Esta, segundo ela, foi a maior conquista do ano.
“Apesar de ter sido um ano incrível, de resultados, prata no pan, classificação para os Jogos de Tóquio, eu acho que a principal conquista, por incrível que pareça, foi ter retomado a felicidade, o prazer jogando, que é o mais importante a longo prazo.”, comemora.
Preparação
Para o ano que vem, tudo leva a crer que Kumahara esteja garantida em Tóquio. A convocação, igual a da seleção masculina, será feita com duas vagas pelo ranking mundial e a terceira por indicação técnica. Em 155º, Carol é a terceira melhor brasileira no ranking mundial. Bruna Takahashi é a melhor, em 49º, e Jessica Yamada é a segunda, em 148º. Segundo o próprio treinador Hugo Hoyoma, a equipe deve ser a mesma que disputou os Jogos Pan-Americanos e o torneio Pré-Olímpico.
“Como ninguém joga muito, é difícil alguém nos passar no ranking, é difícil acontecer alguma mudança até lá.”, comenta Kumahara. “Vamos jogar alguns campeonatos, tanto para nos mantermos no ranking, quanto para nos mantermos em ritmo de jogo. Acho que a preparação é estar sempre preparada”, finaliza.
Sim, o importante é estar sempre preparada. Como Kumahara esteve em 2019, quando um ano “maluco” acabou se transformando em um ano mágico.