“Minha filha é atleta.”, diz Rogério Kanashiro, com toda a propriedade de um pai orgulhoso. “Ela joga futebol, joga badminton, vôlei, basquete. Ela vai bem em qualquer esporte.” Em nenhum, no entanto, Beatriz Kaori Kanashiro se destaca mais do que no tênis de mesa. O tamanho é uma das principais razões. “Eu sou muito baixinha, se a pessoa dá um esbarrão, machuca. O futebol, por exemplo, tem muito contato.”, explica a garota. “Ela tem o problema da limitação de tamanho. Então, olhando o cenário, o tênis de mesa é o que mais proporciona para ela um crescimento.”, completa Rogério.
Com 13 anos, Beatriz realmente é bem pequena em comparação com as colegas. Mas o tamanho não interfere na velocidade e na potência da jogadora no tênis de mesa. E na ambição também.
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No 53º Campeonato Brasileiro de tênis de mesa, a garota chegou para competir em quatro disputas: seleções de estados na categoria infantil, interclubes infantil e individual infantil, para 14 e 15 anos, e individual juvenil, para 16, 17 e 18. Pela sua idade, Beatriz Kanashiro joga na categoria mirim. Pela habilidade, se aventura em duas categorias acima.
A paixão pelo tênis de mesa começou pela curiosidade. Quando Beatriz tinha 8 anos, Rogério foi até a cidade de Registro (SP), visitar um tio e descobriu que a filha do primo praticava o esporte.
“Quando ela descobriu que a prima dela – que ela não conhecia – jogava tênis de mesa, ela quis aprender e começou assim, curiosidade dela para conhecer a prima”, lembra Rogério. “Quando ele voltou de Registro, ele me contou, aí eu gostei, fiquei insistindo para ele me levar em algum lugar para eu jogar e ver como é. Aí eu fui em São Caetano, bati uma bola e gostei.” explica Kaori. No fim, a garota finalmente conheceu a prima, Karina Ayumi Shirai. “Em agosto de 2014 ela começou a treinar tênis de mesa. Em novembro ela foi para o primeiro torneio, a ‘Liga Nipo-brasileira de tênis de mesa’, e lá ela conheceu a prima.”, recorda Rogério.
Desde então, Beatriz só cresce no esporte. Já conquistou 14 títulos internacionais, entre eles o Campeonato Latino Americano sub-11 de 2017 e, este ano, o Sul-Americano Sub-13. Em 2019, também foi campeã paulista na categoria infantil, por isso foi a primeira convocada para a seleção paulista que disputou o Brasileiro.
Algumas coisas ainda a desmotivam. Beatriz ainda não tem ranking internacional, por exemplo. “O ranking mundial só dá pontuação nos Abertos que são normalmente na Europa. Então, quem consegue ir são de família que têm dinheiro, que podem mandar. Nessa idade, apenas três meninas têm ranking mundial. Minha filha nunca foi para fora, então ela não tem ranking.”, reclama Rogério.
A única vez que foi convidada para uma viagem internacional, a garota viveu um trauma. Com apenas 10 anos, Beatriz foi chamada para um treinamento na China através do projeto “Diamantes do Futuro”. “Mas na semana do voo deles aconteceu a queda do avião da Chapecoense, há 3 anos.”, lembra Rogério. “Então a minha filha, com 10 anos, não tinha a cabeça preparada para absorver essas notícias. O acidente foi de segunda para terça, e o voo delas era na sexta. Quando ela descobriu na terça-feira, ela entrou em pânico. Começou a pesquisar se foi problema de falta de gasolina, se quebrou o motor ou se o piloto dormiu. Ela passou três dias chorando, porque queria ir, mas estava com medo. Chegou na hora do embarque ela entrou na área de embarque, mas não entrou no avião. Não conseguiu.”
“Foi desesperador, porque viajar para a China ainda, que demora mais. E sozinha, sem meus pais. E eu já tinha um pouco de medo, aquilo lá foi um trauma.”, recorda Beatriz. “Ela fez um trabalho de acompanhamento com um psicólogo que está terminando este ano. Foi um período de quase três anos, porque se ela pegasse um novo trauma, pode ser que ela demorasse mais ainda para retomar a confiança. Graças a Deus, eu acho que essa é uma parte que ela superou.”, comemora Rogério.
Com os medos superados, Beatriz Kanashiro sonha em ser profissional do tênis de mesa. Inspiração para isso ela já tem. “No Brasil é a Bruna Takahashi, a Jessica Yamada e a Caroline Kumahara. Acho que internacional é a Mima Ito, do Japão.” E sonho? Tão óbvio que nem precisaria perguntar. “Jogar Olimpíadas e ser campeã mundial. É difícil, mas se treinar, nada é impossível.”, finaliza com a sobriedade de pessoa experiente.
Beatriz sabe bem a importância da família para a realização desse sonho. “As vezes, quando eu perco, eu fico triste e eles me apoiam. Eles me acompanham nos jogos, nos campeonatos, estão sempre lá para me dar apoio.”
E Rogério realmente está sempre com ela. No Campeonato Brasileiro, disputado no Centro Paralímpico, ele estava lá em todos os jogos, filmando, torcendo, incentivando, comemorando as conquistas de medalhas e recebendo a filha para um abraço depois de cada partida.
Na final de seleções de São Paulo, no primeiro dia de competição (11), Beatriz e suas colegas foram campeãs da categoria infantil por equipes ao vencerem o estado do Rio Grande do Sul, por 3 a 1.
No dia seguinte, mais um ouro. Desta vez na disputa por equipes de clubes, Beatriz foi campeã com as colegas do Itaim Keiko, tradicional clube de tênis de mesa de São Paulo.
Na disputa individual ficou com a prata na categoria infantil e no individual juvenil perdeu nas quartas de final para Giovanna Grilo, uma adversária muto maior.
Depois de conquistar o título por seleções no primeiro dia do Campeonato Brasileiro, a garota foi muito bem no uso das palavras: “Hoje foi muito legal. Acho que os jogos foram muito difíceis, mas conseguimos, jogo a jogo, nos concentrar para dar o melhor, e assim conseguirmos ser campeãs.”. O discurso de profissional, Beatriz Kanashiro já tem. Os resultados estão chegando. Guardem esse nome, o futuro é logo ali.