Ninguém venceu tantos campeonatos brasileiros na carreira como Lígia Silva. São 11 títulos nacionais na conta. No 53º Campeonato Brasileiro de Tênis de mesa ela veio com mais uma função: ser técnica da seleção feminina de São Paulo. Sentada na cadeira, a vontade de levantar para resolver o jogo era grande. “Nossa, minha raquete aqui está preparada!”, brincou a jogadora. “Às vezes dá vontade. Mas a gente tem que se conter porque elas estão ali representando o que falando, são o nosso reflexo. Temos que ter cuidado com relação a isso.”
A função de treinadora não é uma novidade para Lígia Silva. Desde 2016, ela passou a trabalhar como técnica em seu clube e em escolas particulares de Santos, onde vive há 21 anos. “Também fui convocada algumas vezes para a seleção de base sub-11 e agora estou com a seleção de 13 anos, com a Giulia (Takahashi), a Laura (Watanabe).”
Aos 38 anos, Lígia tem bastante experiência para passar para a garotada. Em 20 anos de seleção brasileira, a atleta já esteve em três Olimpíadas (Sydney 2000, Atenas 2004 e Londres 2012). Além disso, participou de cinco Jogos Pan-Americanos. Em 2015, no Canadá, conquistou uma prata em equipes ao lado de Caroline Kumahara e Gui Lin. No Campeonato Brasileiro são onze títulos. “É que tudo o que eu fiz na minha vida foi muito intenso, então as coisas foram acontecendo. Porque eu treinava muito, era muito dedicada.”, explicou.
Além de ser treinadora na edição 53º do campeonato nacional, Lígia também irá jogar na disputa individual, mas se diz bem tranquila. “Para falar a verdade, de 0 a 10, eu jogo 3 ou 4.” Hoje em dia, a função de técnica está na frente, mas Lígia não disfarça o que prefere. “Dez mil vezes jogar, porque ali (no banco de técnica) sou eu contra eu mesma.”, explicou. A jogadora, no entanto, sabe que ainda está no começo de um longo trabalho ensinando as crianças.
“Não é de uma hora para outra que eu vou pegar uma jogadora e falar ‘faz isso, faz aquilo’. Isso requer muita intimidade. Por isso, muitas vezes, aquele que foi um bom jogador não é um bom técnico, e aquele que é um bom técnico não foi um bom jogador. Eu acredito que estou nesse intermediário, treinando fora, fazendo viagens e aprendendo. Acho que temos que ser humildes em falar ‘eu estou aprendendo’, e é nessa fase que eu estou.”.
Natural de Manaus, Lígia Silva começou a jogar tênis de mesa aos 13 anos. Em meio a um campeonato que reúne mais de mil atletas amantes do esporte, a jogadora foi direta ao falar sobre o momento do tênis de mesa no Brasil. “A modalidade cresce sim, mas acredito que o nível técnico está baixo ainda. As vezes o evento é muito grande, mas a técnica é baixa. Mas temos que trabalhar. Agora, a televisão já está transmitindo o esporte, então se nós mantivermos essa conexão e colocarmos o esporte em evidência todo mundo vai querer assistir também. É até bom para nós técnicos. Muitas vezes meus alunos perguntam ‘Professora, onde vai transmitir?’ Então, um pouquinho que eles olhem, já é o suficiente. Temos que trabalhar o esporte.”, completou.