Trinta e quatro mesas colocadas no amplo espaço do Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo. Nelas, jovens, adultos e idosos jogam a bolinha de um lado para o outro. O 53º Campeonato Brasileiro de tênis de mesa bateu recordes nesta edição de 2019. São 1011 atletas participantes, 1718 inscrições nas categorias e disputa de três grandes torneios olímpicos e paralímpicos: competição de seleções estaduais, competição interclubes e torneio individual.
No primeiro dia, nesta quarta (11), a disputa entre seleções estaduais movimentou o ambiente. Entre as 19 delegações dos estados, a seleção de camisa azul com golas brancas era uma das mais animadas. “É isso, papai!”, gritavam para incentivar. A Seleção do Maranhão veio forte e pronta para competir em 15 categorias. Eles tinham de tudo: desde atletas de 6 anos, envergonhados e com os tênis desamarrados, até cadeirantes e senhores de 73 anos que se orgulhavam de ter vencido o melhor jogador do Ceará.
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A Federação Maranhão Tênis de Mesa está crescendo. A seleção que viajou até São Paulo veio com 32 atletas; lá no estado, 250 já praticam o esporte. Nem sempre foi assim. George Castro, presidente da federação, está ajudando a mudar esse cenário.
“Estamos com um trabalho de reestruturação da federação desde 2017. Começamos tentando resgatar as pessoas que ainda jogavam, que era justamente para começar a movimentar, para depois conseguirmos trabalhar a iniciação esportiva. Nosso projeto é que em 2020 comece a iniciação esportiva lá, para difundir. Antes não tínhamos estrutura, agora temos um CT e estamos estimulando bastante gente a jogar.”, explicou George, que também joga na categoria Sênior.
Muitas famílias compõem a seleção maranhense. O pai Celso Carvalho joga amistosamente apenas para acompanhar os filhos Davi e Gabriel. Estes, sim, são atletas e campeões maranhenses. “É maravilhoso. Eles são guerreiros, são bem competitivos, é bem legal acompanhar eles e torcer por eles.”, comemora o orgulhoso pai. Gabriel, de 11 anos, explica que começou a jogar com 9, depois que um colega o apresentou ao esporte. “Antes eu jogava na escola só de brincadeira, só de molecagem. Aí o meu amigo, que já praticava, me levou para treinar e eu comecei a gostar do esporte. Eu e meu irmão compramos raquetes melhores e começamos a jogar em campeonatos”.
Há um ano, Celso conheceu Heitor Ferreira Neto através do tênis de mesa. Jogando há mais de 10 anos, Heitor já praticava o esporte quando um acidente o deixou preso à cadeira de rodas. Nada que o fizesse desistir do tênis de mesa. “Antes eu jogava andante e agora eu estou jogando paralímpico, Classe 3. Jogamos estaduais, e quando tem nacional jogamos também.”, explica Heitor.
Entre as mulheres, Nathalia Morais voltou a jogar há 1 ano. “O esporte lá ficou parado durante muito tempo. Ele sofreu uma queda porque ficou restrito ao nicho escolar, quando terminamos o colégio, largamos. Então de dois anos para cá que começou essa volta, essa busca, e estamos nos reerguendo ainda. Eu joguei dos 10 aos 15 anos e aí eu voltei esse ano.”, comemora a jogadora, responsável pelos registros da Federação nas redes sociais.
Quem também joga há um ano é o mascote da equipe, Francisco, de apenas 8 anos. Tudo graças ao pai, Marcos Vinicius, que o ensinou a jogar e até comprou uma mesa para incentivar os filhos no esporte. “Ele já ganhou uma copa das confederações, é o atual campeão maranhense da categoria dele. O irmão mais velho é indicado para o Troféu Almirante, que é o maior prêmio do estado, é hexacampeão maranhense, campeão da Copa das Confederações.”, explica o pai, orgulhoso.
O mais experiente do Maranhão é Pedro Araújo, uma celebridade no tênis de mesa do estado. Garoto propaganda da Federação, seu Pedro tem 73 anos e começou a jogar aos 10 anos, na cidade de Pedreiras, interior do estado.
“Eu sempre joguei futebol e tênis de mesa, no interior. E na época, quando eu fui para São Luís, com 15 anos de idade para jogar futebol, não deixei também de praticar o tênis de mesa. E foi lá que a coisa alavancou. Essa galera toda que está jogando aí, eram todos garotinhos de 10 anos, brincavam com a gente no clube, e a coisa foi se expandindo. Tá vendo aquele rapazinho ali, o Thiago Monteiro?”, pergunta apontando para o experiente jogador de 38 anos. “Passou pelas nossas mãos lá no clube e agora está morando na França. Até pensei que ele não ia me reconhecer, ele era pequenininho, mas reconheceu.”, comemora. Thiago é original do Ceará, mas seu Pedro conheceu o pai dele, que era professor de tênis de mesa. “Eu estou com 73, mas estou jogando bem com o pessoal de 60, 50 anos. Joguei e ganhei do campeão cearense, o jogador mais forte que tem, eu ganhei! Eu me preparei 3 meses para jogar.”, exclama seu Pedro, orgulhoso
A seleção do Maranhão não foi campeã do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, mas o trabalho está apenas no começo. Para inspirar, seu Pedro Araújo, dá a palavra: “Campeões só chegam ao topo porque sabem que é para lá que estão indo”.