“Meu sonho… Não sei se é sonho ou objetivo, mas é ser campeão olímpico”. Sem ao menos pestanejar, é esta a resposta de Hugo Calderano quando perguntado a respeito do seu principal desejo no tênis de mesa. Primeiro latino a alcançar o top 10 do ranking mundial, o carioca de 22 anos tem motivos de sobra para acreditar que pode chegar lá. A ambição é diretamente proporcional a seu foco, sua concentração e vontade de evoluir. O gosto por representar o Brasil veio desde pequeno, assim como o apoio incondicional da família para que ele pudesse ter sucesso. E coragem certamente é um atributo que lhe cai bem, não só para enfrentar os mais temidos adversários, mas que ele também precisou para sair da casa dos pais com 14 anos e se aventurar por São Caetano, França e depois Alemanha, onde mora hoje, em busca de condições melhores para continuar em busca de sua meta.
Esporte desde o berço
Todas as qualidades ostentadas por Hugo Calderano certamente vêm do DNA. O avô, Antonio Borges, era professor de educação física. Os pais, Elisa e Marinho, se conheceram na faculdade da mesma disciplina antes de se formar e se casar. Desde os primeiros anos de idade, o garoto já mostrava aptidão para os esportes.
“Uma das coisas que eu mais gosto na vida é a sensação de competir. Desde bebê, eu já brincava com bola. Sempre tive um foco muito bom. Conseguia aprender muito rápido, mesmo só vendo, olhando”, lembra Hugo Calderano. “Ele começou, pequenininho já, em cima de uma mesa de tênis de mesa, brincando com o pai dele. Depois passou para o voleibol e também para o atletismo”, continua o avô e fã número 1 do neto.
Antônio Borges, aliás, era o principal parceiro de Hugo Calderano nos seus primeiros passos esportivos. “Ele começou a treinar voleibol e tênis de mesa no Fluminense e o avô é que levava pros treinos. Levava para os treinos de voleibol, levava para os treinos de tênis de mesa. E eu não leva ele apenas e voltava para buscar, eu ficava lá torcendo”, se diverte o avô.
Decisão pelo tênis de mesa
A decisão por qual esporte seguir não foi fácil, mas pesou o gosto por defender as cores do Brasil, coista que ele já fazia no tênis de mesa. “Desde muito pequeno no tênis de mesa eu já fazia parte da Seleção Brasileira, já tinha viajado para alguns países e já conhecia muita gente fora do Brasil, fora do Rio. Eu tinha mais ou menos 13 anos quando eu decidi que ia largar o vôlei e que ia ficar só com o tênis de mesa”.
Com dedicação total ao tênis de mesa, Hugo Calderano logo fez com que o Rio de Janeiro ficasse pequeno para ele. “A medida que ele foi se destacando, ele foi deixando os adolescentes, os adultos, foi deixando todo mundo para trás”, lembra o avô.
Se ficasse no Rio de Janeiro, Hugo Calderano não conseguiria evoluir. Foi preciso ter coragem para trocar a cidade natal por São Caetano do Sul, que já era um dos principais pólos da modalidade no Brasil. “Com 14 anos me mudei para São Caetano. É claro que foi bem difícil eu sair de casa e ir morar longe da minha família”.
Claro que não foi fácil, mas a companhia do avô Antônio amenizou a dor que a distância da família poderia causar. Já aposentado, ele não titubeou em mudar junto com o neto para que ele pudesse continuar no sonho de se tornar um atleta profissional.
Em São Caetano do Sul, Hugo Calderano só precisava se preocupar em treinar e estudar, enquanto ao avô cuidava de todo o resto. “Foi o momento em que eu decidi que ia seguir por este caminho”, revela o atleta. “Ele já jogava, já disputava torneios no exterior. Quando ele viajava para jogar, eu queria ir com ele, né? Mas eu vinha para o Rio de Janeiro”, brinca o avô, que aproveitava as viagens do neto para matar a saudade de casa.
Aos 16 anos, Hugo Calderano teve que tomar mais uma decisão. O mesatenista recebeu um convite para se mudar para França. Mais uma vez mostrou coragem e se mandou para Paris. Mas a experiência durou pouco tempo. “Depois de um mês, tive eu me machuquei, tive uma lesão. Tive que voltar para o Brasil e fazer uma cirurgia”, lembra.
Mas não foi nada que o fizesse desanimar. Nessa época, ele já tinha na cabeça o sonho de ser um dos melhores do mundo. “Quando me perguntavam qual era o meu objetivo no tênis de mesa, eu dizia geralmente que queria, sendo realista e ao mesmo tempo ambicioso, alcançar o top 20. Agora, com 22 anos eu já alcancei o top 20 e já cheguei no top 10. A gente tem sempre que estar um passo a frente, construindo novos objetivos e traçando novas metas para o tênis de mesa”, orgulha-se.
Medalha de bronze nos Jogos da Juventude
Logo uma nova oportunidade de se mudar para a Europa surgiu. Pouco antes de completar 18 anos, Hugo Calderano assinou contrato com o Ochsenhausen, da Alemanha, clube que defende até hoje. Meses depois da novidade, entrou para a história do tênis de mesa brasileiro ao ganhar a medalha de bronze na Olimpíada da Juventude em Nanjing 2014.
A participação nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foi outro passo gigantesco na vida de Hugo Calderano. Com 20 anos, lá estava ele representando o Brasil, justamente em sua cidade natal. O avô Antônio, querendo ficar perto do neto, não perdeu a oportunidade e se inscreveu como voluntário para trabalhar no tênis de mesa. Mais uma prova da incrível parceria entre os dois.
“Ele sempre procurava não trabalhar no momento em que eu jogava para não me atrapalhar também e para ele não ficar muito nervoso ali perto da área de jogo. ele sempre pedia para não ser escalado nos meus jogos”, se diverte Hugo. “Trocava de roupa, entrava como qualquer torcedor e ia lá pro cantinho torcer por ele”, conta o avô.
Objetivo de pódio em Tóquio
Hugo Calderano chegou até as oitavas de final na Rio 2016, mas foi eliminado pelo japonês Jun Mizutani numa partida muito disputada. Serviu de aprendizado. “Em 2016, eu cheguei como 50 e poucos do mundo. É claro que eu, como um competidor, um atleta, queria tentar conseguir uma medalha, mas eu e todo mundo sabíamos que seria uma coisa muito difícil. No final, eu realmente tive chances de brigar por essa medalha, mas não consegui, o que foi uma coisa normal, mas com certeza foi uma experiência que vai me ajudar na próxima Olimpíada”, acredita.
Dois anos depois e subindo cada vez mais alto no ranking mundial, Hugo Calderano sabe que ainda precisa evoluir, mas a meta traçada para 2020 é clara: o pódio olímpico. “Agora em Tóquio o objetivo é outro. No Rio, o objetivo foi aproveitar a Olimpíada ao máximo, aprender bastante, mas em Tóquio eu vou com outra mentalidade com o real objetivo de brigar e conseguir uma medalha”.